Os nacionalismos e separatismos pelo mundo

Sugerido por Paulo F.

Do Diário de Notícias de Lisboa

Nacionalismos e separatismos
 
por MARIA JOÃO TOMÁS
 
Na semana em que o mundo lembra as vítimas do Holocausto nazi, as projeções de voto para as eleições europeias mostram uma subida dos partidos de extrema–direita. No dia 20 de abril, um pouco por todo o mundo – Japão, EUA, França, Alemanha e Suíça -, grupos de neonazis saíram à rua para festejar o aniversário do nascimento de Adolf Hitler. Na Ucrânia, o Governo provisório é também de extrema-direita, tendo sido frequentes, nas últimas semanas, notícias que dão conta da obrigatoriedade de registo dos membros das comunidades judaicas que, caso não o queiram fazer, terão de ser deportados. Apesar de já ter sido desmentido, o atentado que feriu com gravidade, nesta terça-feira, o presidente da Câmara de Kharkiv, Gennady Kernes, de origem judaica, mostra que os ideais do nacional-socialismo ainda estão bem vivos. Por outro lado, na Dinamarca ou na Polónia, o abate Korcher e Halal está proibido, enquanto na França as câmaras ganhas pelo partido de Marine Le Pen já anunciaram que vão passar a não disponibilizar às crianças judaicas e muçulmanas alternativas às refeições que incluem carne de porco.
 
Na Índia, nas eleições que ainda estão a decorrer, Narenda Modi, um nacionalista hindu, parece ser o favorito, deixando de sobreaviso a comunidade muçulmana que o acusa de ter incitado à violência nos confrontos de Gurajat, em 2002. No Afeganistão, apesar de o candidato mais votado, Abdullah, pertencer a uma etnia mista e ser conhecido por uma posição moderada, tendo colaborado com Ahmed Massoud, deverá perder as eleições na segunda volta para o candidato Ashraf Ghani, vindo de influentes famílias pashtun, a maior e mais poderosa etnia afegã, de onde vem a maior parte dos talibãs.

 
Na Turquia, por seu lado, Erdogan faz tudo o que pode para afastar o seu maior opositor, Fethullah Gulen, radicado nos EUA desde 1999, que controla o movimento Hizmet na Turquia através da internet – YouTube e redes sociais -, responsável, segundo o primeiro–ministro, pelas gigantescas manifestações contra o Governo e também pela descoberta dos escândalos de corrupção dentro do partido AKP. Os seguidores de Gulen são conhecidos como a Cemaat, ou a Assembleia, e reclamam a separação do islão da política, defendem o diálogo inter-religioso, a cooperação entre povos e credos, numa antítese do que têm sido os últimos anos do Governo de Erdogan.
 
Os separatismos, por seu lado, também estão a crescer, e as tentativas independentistas de minorias são uma constante, fazendo pensar que a constituição de novos países é uma solução mais fácil do que o federalismo. Da Ucrânia à Itália, Espanha e Reino Unido, de Donetsk, Veneza, a Vigo ou à Escócia, o desejo de fazer referendos para legitimar pretensões separatistas, tal como aconteceu na Crimeia, parece alastrar quão doença contagiosa, fazendo-nos perguntar como deveremos entender e aceitar a vontade de um povo à autodeterminação. O reconhecimento da língua falada, bem como o direito das minorias à sua cultura e religião, estão a ser sobrepostos por interesses políticos e económicos externos, que incentivam as diferenças para acentuar fraturas e secessões, como aconteceu com a criação do Kosovo, um Estado artificial e ainda não plenamente reconhecido.
 
No Iémen, a comunidade xiita ganha força e expressão, apoiada pelo Irão, que vê aqui uma boa forma de aumentar a sua influência regional. Na Líbia, as rivalidades das etnias são acentuadas pela luta pelos poços de petróleo, e no Iraque, em vésperas de eleições, sobrevive-se todos os dias aos ataques bombistas que pretendem desestabilizar ainda mais o país que tem o melhor crude do Médio Oriente. Resistem os países que mantêm a monarquia como fonte de estabilidade, como no Golfo, apesar de as contestações terem subido de tom e a agitação começar a ser cada vez maior. Na Argélia, Bouteflika ganhou de novo as eleições, apesar de ter tido um AVC, levando a pensar se não será melhor manter este regime a ter a instabilidade vivida noutros países vizinhos.
 
As manifestações de intolerância religiosa e étnica, aliadas ao crescimento dos partidos nacionalistas e de extrema-direita, são um fenómeno assustador que nos remete para fantasmas de um passado que parecia esquecido nos horrores de uma guerra que não queremos lembrar nem pensar em repetir.
 
*Investigadora no IEEI
Redação

4 Comentários

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  1. Pra quem está tendo as mesmas

    Pra quem está tendo as mesmas difuldades que eu pra entrar mo blog.

      Depois de 2 dias,consegui elucidar:

       Primeiro vc entra no jornal GGN e depois em Luis Nassif on line

              Pode até ser pra ler o dito jornal.Ou é complicação do sistema mesmo.

                     Eu não sei.

  2. Até mesmo na insignificante

    Até mesmo na insignificante Santa Catarina houve manifestação explícita pelo aniversário do bicho-ruim.

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