Por Rui Daher
Há quantos anos, talvez uma década inteira, temos ouvido alertas de que as formulações econômicas escolhidas por diversos países possuem fatores de autodestruição?
Não foi o filósofo brasileiro Paulo Arantes a dizer que o capitalismo se arrisca a morrer de overdose, como Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison, muito mais geniais e não únicos?
Ou não é a isso que estamos assistindo em todo o planeta? Os Estados, cada vez menos soberanos, se recolhem aos ralos como baratas tontas. De lá saem acreditando que, do sufrágio universal, surgirá um senhor ou senhora com colete salva-vidas marca “New Deal”. A efervescência de fusões e aquisições pensa parodiar máxima secular: quanto mais alto o pedestal “menor” o tombo. Será?
Muito se falou no declínio do império americano (Denys Arcand, Canadá, 1986). Pensou-se um EUA desigual e sobrou para todo o planeta, em todos os sentidos, modos e compulsões.
Somente agora, depois de tantos estudos e pesquisas comprobatórios, luminares que opinam, e bem, começam a alertar que pobreza é uma doença que pega e cria metástases, não importam os órgãos atingidos. Mas, no Brasil, não. Encontra-se um culpado e se o demoniza, por ódio e preconceito.
Pensavam o quê? Farra eterna? Feudalismo sem volta? Já sei, a salvação virá em 28 de fevereiro, quando assistiremos ao Oscar e as ilusões voltarão. Um dia, seremos todos como eles. Chiques, bonitos, bem vestidos, famosos, ricos. Nos estenderão um tapete vermelho para desfilarmos o “Bloco Meritocracia”.
Martin Wolf, editor e principal analista do Financial Times, escreve e o Valor traduz apenas para assinantes: “Para trazer as elites para perto do povo”. Quem puder deve ler: “divergências entre o sucesso da elite e o insucesso dos demais é notável nos EUA. À medida que os EUA desenvolveram uma distribuição de renda de estilo latino-americano, sua política passou a ficar infestada pelo estilo latino-americano de populistas”. Olha o populismo aí de novo Darcy, Ianni e Laclau. E nós que tínhamos Tio Sam como exemplo.
Para nós, latino-americanos, senhor Martin Wolf, não há novidade nenhuma nisso. Aliás, os EUA foi contumaz agente de sustentação desse populismo não distributivo.
Ensaia-se, pelo mesmo lado, não outro, uma quarta revolução industrial que ameaça milhões de empregos. O que nos sobrará fazer? Candidatar-se ao BBB 25? O assunto foi aberto e discutido no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça. Lá, todos tinham seus empregos, mas preocupavam-se com a robótica, inteligência artificial, impressão 3D, nanotecnologia, e outros babados. Resta a China, sem saber como transferir renda às famílias.
Nós aqui? Ora, paroquialmente procurando um pé de cambuci num sítio de Atibaia, SP.
Nossos colunistas, até os melhorzinhos (olha aí Vinícius e Laura, sem medo plisssss) escondem coragem para discutir o motivo de a riqueza privada crescer quase 10% no Brasil, segundo o Boston Consulting, uma economia prevista cair 3%. Falar do desastre Dilma até eu, menos preparado, consigo.
De Thomas Piketty a Stiglitz, passando por “The Globalization of Inequality”, de François Bourguignon (Princeton University Press – Amazon), e muitos outros, já perceberam que a desregulamentação do trabalho contraposta à liberdade rentista fez aumentar a desigualdade em todo o planeta.
No Brasil, tentou-se contrariar essa tendência. Parte dos 40 milhões de pessoas que saiu da extrema pobreza volta por equívocos e covardias políticas e econômicas.
Outro livro, outro estudo, indica que a desigualdade, ora a desigualdade, a quem importa? “The Hidden Wealth of Nations – The Scourge of the Havens”, de Gabriel Zucman (Chicago University Press). Em tradução livre, “A Riqueza Escondida das Nações – O Flagelo dos Paraísos Fiscais”, conta haver trilhões escondidos e bilhões sonegados. Mais do que uma Lava Jato pode alcançar.
De quem serão? Da Mulher Maravilha, do Batman, do Arqueiro Verde? Quem irá delatar? Prêmio? Claro: 25 dias plantando melão no Projeto Salitre, em Juazeiro, Bahia.
Excelente ! Rui
Eu já reclamei por aqui, e sinto muita falta de uma análise econômico/política/social dos demais países. Poderia até ser em série. Alguma coisa americana se vê acola, mas da Europa, por exemplo, nada. Seremos só nós os sofredores ?
Esperar da grande mídia ? só em outra encarnação.
Abraços
INSIDE JOB
O documentário INSIDE JOB demonstra muito bem o vínculo entre o mercado financeiro e os políticos liberais.
Lenita,
acho que estamos certos. Veja a principal manchete do Valo de hoje: “Crise castiga bancos no mundo”. Mais: “Europeus são os mais atingidos. Abraço.