Prisão de Assange não deve ser comemorada por governistas e nem oposição, diz Washington Post

Apesar de ter incomodado conservadores e liberais, a prisão de Assange não é uma boa notícia. Trará riscos, segundo o Washington Post, para o jornalismo e o acesso a informações

Jornal GGN – A prisão de Julian Assange nesta quinta-feira (11), em Londres, não deve ser comemorada nem pelos conservadores, nem pelos liberais, opina o The Washington Post, em artigo divulgado. Porque mesmo que o uso dos dados para revelar segredos do governo norte-americano tenha inicialmente incomodado os conservadores e, posteriormente, o próprio Donald Trump chegou a usar como bandeira de campanha o apoio ao Wikileaks, incomodando os liberais, os motivos para retirar o asilo político e levá-lo à prisão são questionáveis.

“Quase todos podemos concordar que Julian Assange é um saco sujo. Mas isso não significa necessariamente que seja bom que ele tenha sido preso e, aparentemente, seja extraditado para os Estados Unidos”, escreveu Paul Waldman, para o jornal estadunidense, no artigo assinado “Não comemore a acusação de Julian Assange”.

A coluna aponta que mesmo o governo de Obama recusou aplicar acusações contra o fundador do Wikileaks, porque havia um consenso de o jornalismo atua com dados secretos, na lógica de que “se criminalizarmos o recebimento de informações sigilosas, alguns dos trabalhos mais importantes do jornalismo na história americana seriam transformados em crimes, e todo repórter que trabalhasse em segurança nacional seria um criminoso em potencial”.

Mas a nova acusação que recai contra Assange tenta elevar a transparência aos dados sigilosos a um nível crimonoso, ao sustentar que Assange ajudou Chelsea Manning a invadir o sistema de informações do governo, com a decodificação de uma senha nos computadores do Departamento de Defesa dos EUA.

“Dada a magnitude do que o WikiLeaks publicou ao longo desses anos e as críticas que a organização recebeu, essa acusação está mais próxima de uma pretensão, uma forma de acusar Assange de algo apenas para extraditá-lo. E Assange pode estar se perguntando por que seu serviço ao presidente Trump não o protegeu disso”, continua o jornal.

Esse “serviço ao presidente” é uma referência à forma como a bandeira do Wikileaks foi defendida por Trump durante a campanha eleitoral e como isso o ajudou para torná-lo presidente do país.

“Até 2016, os conservadores eram geralmente mais críticos do que os liberais do WikiLeaks, dada a maior suspeita dos conservadores em relação aos denunciantes e a ideia de expor os segredos do governo. Tenho certeza de que muitos deles sentiram uma pontada de ambivalência quando a organização à qual tinham sido tão hostis se juntou à causa Trump, e seu próprio candidato começou a elogiá-los profusamente na campanha.”

Essa “hipocrisia de Trump” vislumbrada agora, depois de eleito, só pode trazer um recado: não parece ser uma boa notícia a prisão de Assange. Os riscos, segundo o Washington Post, estão para o jornalismo e o acesso a informações.

“Se os promotores puderem provar a acusação de que ele tentou ajudar na invasão dos sistemas do governo, então ele será responsabilizado. Mas se o que está realmente em questão é a publicação de informações classificadas pelo WikiLeaks, devemos nos preocupar contra quem a administração Trump irá enfrentar depois”, conclui.

Redação

1 Comentário

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  1. E em um certo programa Studio I…….., (completem como quiserem) vemos apresentadores, e meninos e meninas propagandas, que se autodenominam jornalistas, questionando se Assange era um jornalista. Alguns claramente envergonhados não tiveram a coragem de contrapor tamanha traição. Se autodenominando defensores da liberdade de imprensa, a apresentadora , inusual, disse que jornalistas filtram os fatos e os analisam, enquanto que Assange não. O outro disse que Assange colocou vidas em risco A apresentadora usual, faria pior com certeza. Mas partiram rapidamente para mais uma notícia de tiros e violência. A cada programa vão destruindo o que resta, da profissão.

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