Republicanos saem da crise fiscal dependentes do Tea Party

Sugerido por Gunter Zibell – SP

Do O Globo

Oposição nos EUA sai da crise fiscal rachada e dependente do Tea Party
 
Especialistas avaliam que impasse das últimas semanas evidenciou efeito prejudicial da ascensão do Tea Party no Partido Republicano

WASHINGTON — A mais recente crise fiscal – que terminou com a capitulação da oposição diante da posição do presidente dos EUA, Barack Obama, de não negociar funções vitais do governo “com a arma na cabeça” – acentuou o racha no Partido Republicano, anunciando tempos ainda mais difíceis na política americana. Moderados culpam os radicais pela derrota e a queda vertiginosa de popularidade nas pesquisas. No entanto, para manter a maioria na Câmara e tentar recuperar o controle do Senado, os republicanos precisam da ala ligada ao movimento Tea Party no pleito legislativo de 2014, devido à influência do voto distrital nos EUA. Os radicais mantêm, assim, grande poder de barganha para continuar com a tática obstrucionista e o confronto direto. Para analistas, isso afeta a governabilidade e torna praticamente impossível o avanço da agenda de curto prazo delineada na quinta-feira por Obama: um plano orçamentário de dez anos, passagem da reforma da imigração e aprovação da nova Lei Agrícola.

Os especialistas avaliam que o impasse das últimas três semanas evidenciou o efeito prejudicial que a ascensão do Tea Party teve sobre o partido. Enaltecido em 2010, por ter garantido a retomada da Câmara para os republicanos, o movimento radicalizou a sigla. Com cunho fortemente ideológico – contra o governo e causas sociais como aborto, contraceptivos e casamento gay -, o Tea Party impôs uma disputa dentro do partido para ver quem é mais conservador. Em grandes questões, onde acordos são forjados com concessões ao centro e compromisso, o movimento paralisou os republicanos e a ação legislativa.- Os republicanos que representam o establishment gostariam agora de marginalizar as forças extremistas dentro do partido, mas precisam dos radicais como parte da coalizão para ganhar as eleições legislativas. Essas batalhas dentro da sigla vão continuar por todo 2014 e Obama continuará com a habilidade de passar sua agenda extremamente constrangida – afirmou o cientista político Thomas Mann, do Brookings Institution.

Polarização sinaliza novos impasses no futuro

Com medo de parecer pouco conservador perante a base, o presidente da Câmara, John Boehner, cedeu à pressão para condicionar a autorização de gastos do governo e o aumento do teto da dívida à derrubada ou ao adiamento da reforma da Saúde, a chamada Obamacare, principal bandeira do Tea Party. Os moderados, embora preferissem negociar questões orçamentárias, para obter cortes de impostos e despesas, seguiram a estratégia por três semanas, também receosos de colocarem em risco a reeleição, até admitirem derrota.

Apesar de representar apenas um terço da bancada na Câmara, o Tea Party tem duas grandes vantagens: um movimento de base forte, o que é importante para as eleições legislativas distritais; e o apoio de poderosos grupos e doadores conservadores, como os bilionários irmãos Koch e a Heritage Foundation. Ou seja, seu poder de fogo é ampliado. Essa coalizão conservadora forjou inclusive um novo líder no partido, o senador Ted Cruz, que comandou a revolta dos radicais. Por isso, com tranquilidade, levaram o governo a fechar as portas por 16 dias e o país, à ameaça de inédito calote.

Para Geoffrey Kabaservice, historiador de Yale especialista no Partido Republicano, a situação é ainda mais delicada porque o establishment perdeu o controle sobre as bancadas. Não só do ponto de vista ideológico, sem condições de evitar a tática de sequestro da governabilidade para obter vitórias. Mas também financeiro. O comitê nacional republicano cedeu aos grupos privados conservadores o papel de principal arrecadador de campanha:

– É o rabo abanando o cachorro. A polarização entre republicanos e democratas tem sido ruim, mas a polarização dentro da oposição é ainda pior. Porque os democratas têm agido normalmente. Já os radicais republicanos estabeleceram uma estratégia muito clara perante o eleitorado e garantiram financiamento para isso: não gosta das loucuras que fazemos na briga com Obama? Então nos coloque no poder que isso acaba. Estão oferecendo uma espécie de ‘acordo envenenado’ à sociedade.

Por isso, Mann e Kabaservice acreditam que novos impasses surgirão. A taxa de desaprovação dos republicanos chegou a 74%, contra 61% dos democratas e 53% de Obama. A intenção de voto no partido despencou e aumentou, inversamente, o favorecimento dos democratas. O Tea Party também sofreu – mas não junto à sua base, que na maioria considerou válido o fechamento do governo como estratégia para derrubar a Obamacare.

A luz no fim do túnel para domar os radicais vem do empresariado, diz Kabaservice. O partido é historicamente associado ao mundo dos negócios e a ameaça à recuperação da economia está incomodando os gigantes do PIB. Se concentrarem doações em moderados, a correlação de forças pode mudar, alertou o lobista-chefe da Associação Nacional de Atacadistas, Dirk Van Dongen:

– Não conheço ninguém na comunidade empresarial que esteja do lado desta minoria talibã.

Fora do Partido Republicano, o maior refém da queda de braço é um democrata, o presidente Obama. Apesar da clara vitória, ele afirmou não ter havido vencedores com o fim do impasse, devido ao prejuízo econômico e às famílias. Conclamou os partidos à cooperação para enterrar de vez o impasse fiscal, com a formatação de um plano de dez anos para despesas, receitas e redução do déficit público até o fim do ano. Também pediu que a Câmara passe ainda em 2013 a reforma da imigração e a lei agrícola aprovadas pelo Senado. Os três pontos sofrem forte resistência do Tea Party.

Obama disse que não vê motivos para que os partidos não possam trabalhar juntos e alertou, que “a população está de saco cheio de Washington”.

– Se você não gosta de uma política em particular (referência à Obamacare), de um presidente em particular, defenda a sua posição. Vá lá e ganhe uma eleição. Pressione pela mudança do governo. Mas não o quebre – afirmou.

Redação

1 Comentário

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  1. È bem mais complexo do que

    È bem mais complexo do que isso, a politica lá muda muito rápido, os Partidos americanos sempre foram dividios em facções até geograficas, nada é muito previsivel principalmente quando as eleições ainda estão longe.

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