Esta semana artistas norte-americanos homenagearam Snowden com um busto num Parque no Brooklyn, New York. Pouco tempo depois a polícia da cidade removeu a estátua do lugar. Inconformados, os responsáveis pela homenagem projetaram o holograma da mesma sobre o pedestal.
O conflito desencadeado por Snowden é grande, profundo e ainda não foi resolvido. Já o mencionei aqui mesmo há algum tempo: Pierre Levy, Paul Virilio e Bill Gates antes e depois de Snowden e Caminhos da metis na era pós Snowden.
De certa maneira este conflito opõe o que há de melhor e de pior nos EUA. De um lado vemos as pessoas comuns lutando pela liberdade de expressão, defendendo o direito à privacidade e condenando a ostensiva, invasiva e exagerada vigilância estatal. De outro os agentes de um Estado que se torna mais e mais orwelliano controlado por corporações e bilionários, os únicos com poder suficiente para interferir na política e distorcer os fundamentos da Constituição Norte-Americana.
A ação da polícia e a reação dos seguidores de Snowden demonstram que nada está decidido. Os dois usam as armas que dispõe. É previsível que a liberação ou não desta estátua se torne objeto de uma ferrenha e midiática disputa judicial. De qualquer maneira, Snowden e sua representação artística serão o foco de muita atenção nos próximos dias. De cima abaixo a sociedade norte-americana será convocada a se posicionar sobre o destino do objeto. Não seria absurdo considerar a hipótese da disputa se tornar motivo de um documentário ou filme (como já ocorreu no caso do próprio Snowden).
Qualquer que seja o destino da censurada estátua de Snowden, a obra se transformará num símbolo de resistência. É possível que o objeto instigue a cobiça de colecionadores milionários liberais. Nos EUA sempre existem aqueles que não medem esforços e despesas para desafiar seus adversários conservadores. A confecção desta estátua certamente inspirará homenagens semelhantes em outras cidades dos EUA. Ações ousadas visando a libertação do objeto das garras da polícia podem ser esperadas.
O único problema é que toda esta agitação por causa de uma questão doméstica artística, política e policial certamente desviará a atenção dos norte-americanos de questões bem mais importantes para os outros povos. Como, por exemplo, a atuação da CIA na América Latina para desestabilizar os governos de Cristina Kirchner, Evo Morales, Nicolás Maduro e, é claro, Dilma Rousseff. Snowden e sua estátua estão a serviço da liberdade nos EUA e, paradoxalmente, liberarão as autoridades norte-americanas para promover ditaduras e golpes de estado além mar.
Deixe um comentário
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.
Maria Luisa
- 2015-04-08 18:18:30O deus da carnagem
Não ha nada de novo no modo de funcionar da sociedade americana. Sempre foram profundamente centrados em si mesmos, desconfiado, simpaticos quando vizinhos, indiferentes com os desconhecidos e extremamentes violentos com os que "ferem" sua patria.
Sugiro ver o filme Carnage (adaptado de uma peça de teatro "Le dieu du carnage", de Yasmine Reza) de Roman Polinski, o qual Polanski traça alguns perfis do tipo médio americano, sem concessão.
[video:https://youtu.be/i5UKSohbmM4]