Solidariedade seletiva: em guerras invisíveis, outros países não recebem ajuda mundial

A boa notícia sobre a generosidade internacional à Ucrânia contrasta com o apoio dado pelo mundo a milhares de afetados por outras crises

Em Moçambique, que recebeu 0% de doações em 2021, pessoas ilhadas após desastre ambiental em 2019 – Foto: Chris Sherrard (Irish Mirror)

A guerra na Ucrânia deixou mortos, feridos e milhões de refugiados nos 20 dias de invasão da Rússia ao país. E a ajuda humanitária internacional, com doações e ampla recepção dos refugiados é considerada pelas Nações Unidas (ONU) como “sem precedentes”.

A boa notícia sobre a generosidade internacional contrasta, contudo, com o apoio dado pelo mundo a milhares de afetados por outras guerras civis, crises e refugiados de outros países.

Dados obtidos por Jamil Chade, do Uol, mostram que somente o arrecadado pela ONU nos últimos 20 dias foi 10 vezes superior às doações de todo o ano de 2021, em plena pandemia, com diversos países da África, Ásia e América Latina enfrentando colapsos internos e crises de refugiados.

Segundo o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR), foram angariados mais de $ 200 milhões de dólares para as vítimas da Ucrânia em pouco mais de duas semanas. As doações são provenientes de pessoas, empresas, instituições e filantropos à seção de resgate a refugiados das Nações Unidas.

Somente a varejista multinacional Ikea doou 20 milhões de euros para ajudar na emergência humanitária. Também outras grandes do mercado como Google, Volskwagen, Mitsubishi Electric Corporation, Mazda Motor Corporation, Deloitte, JYSK, AUDI, Marks & Spencer, Banco Santander, Vodafone Foundation, Armani, Prada Group e Gucci estão entre os doadores.

Mas se a ajuda aos quase 3 milhões de refugiados da Ucrânia foi comemorada, mais de 180 milhões de pessoas, em outros 63 países do mundo, precisam da ajuda internacional e não são vistos. Segundo a coluna de Chade, a ACNUR recebeu somente 3,5% do valor colocado como meta para atender essas vítimas de guerras, pobrezas, conflitos internos, desastres ambientais.

Moçambique, no continente africano, vive intenso conflito com radicais islâmicos desde 2017, e já deixou 3 mil mortos e 800 mil desabrigados que fugiram para o norte do país. El Salvador, na América central, que vive uma autodenominada ditadura, em instabilidade política e social, com pobreza e violência, juntamente com Honduras foi responsável por mais de 318 mil refugiados na região.

Mas os refugiados de ambos países não obtiveram um centavo de ajuda humanitária internacional. Outros países que obtiveram recursos, também muito inferior ao necessário para o resgate.

O colunista do Uol lista a Síria, que obteve 46% da ampla campanha de recursos urgentes; Venezuela, que recebeu 40% do necessário; 36% à Burundi; 32% ao Iêmen; 31% à Chade; 27% ao Haiti; 10% ao Quênia; 4% à população miserável da República do Congo.

“Essas crises, sussurram nos corredores da entidade, não estão nas manchetes do planeta”, descreveu Jamil Chade.

Redação

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