Temperaturas extremas e crescimento global, por Kenneth Rogoff

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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O pensamento mais comum entre os macroeconomistas até recentemente era de que as flutuações de curto prazo não eram tão importantes para a atividade econômica. A contratação no setor de construção civil, por exemplo, pode ser mais forte do que o habitual nos meses de março, quando o clima (no Hemisfério Norte) é mais ameno, mas ele volta aos patamares normais em abril e maio. Se as chuvas mais pesadas desencorajam as pessoas a sair de casa em agosto, elas só gastarão mais em setembro. Contudo, tal visão está mudando devido ao El Niño (fenômeno climático de aquecimento das águas do Oceano Pacífico) mais forte do que o normal.

Em artigo publicado no site Project Syndicate, o professor de economia e de política pública da Universidade de Harvard, Kenneth Rogoff, afirma que as projeções macroeconômicas de curto prazo foram diretamente afetadas pelo El Niño. O economista diz que o fenômeno climático pode adicionar ou subtrair até 100 mil postos de trabalho na pesquisa mensal dos Estados Unidos (o payroll), um dos indicadores mais aguardados do mundo e geralmente pensado para ser um dos mais precisos. “O impacto de eventos climáticos ligados ao El Niño como o deste ano (conhecido como “eventos do El Niño de Oscilação Sul) pode ser especialmente grande por conta de seu alcance global”.

Uma pesquisa recente do FMI (Fundo Monetário Internacional) sugere que países como Austrália, Índia, Indonésia, Japão e África do Sul sofrem negativamente em anos de El Niño (muitas vezes devido às secas), enquanto algumas regiões, incluindo os Estados Unidos, Canadá e Europa, podem se beneficiar. “A Califórnia, por exemplo, que tem experimentado anos de seca severa, está finalmente recebendo chuva. Geralmente, mas nem sempre, os eventos do El Niño tendem a ser inflacionários, em parte devido a baixa produção agrícola levar a preços mais elevados”, diz o economista.

Contudo, o efeito do fenômeno climático sobre os países em desenvolvimento gera preocupação, uma vez que várias nações já estão sofrendo os impactos da desaceleração econômica da China sobre os preços das commodities, e porque as condições de seca pode afetar consideravelmente algumas culturas. “O último grave El Niño, em 1997-1998, o que alguns chamaram de “El Niño do século”, representou um enorme revés para muitos países em desenvolvimento”, pontua Rogoff.

Os efeitos económicos da El Niño são quase tão complexo quanto o próprio fenômeno meteorológico subjacente e, portanto, são difíceis de prever. Quando olhamos para trás em 2016, no entanto, é bem possível que El Niño será considerado como um dos principais motores do desempenho económico em muitos países-chave, com o Zimbabwe e África do Sul enfrenta a seca e as crises alimentares e Indonésia lutando com os incêndios florestais . No Centro-Oeste americana, tem havido ultimamente grandes inundações.

O economista ressalta que o impacto dos fenômenos climáticos pode fazer com que o tempo mais quente nos Estados Unidos influencie os números de trabalho que o Federal Reserve (o Banco Central norte-americano) usa para ajustar a taxa básica de juros. “É verdade que os dados do emprego já são corrigidos de sazonalidade para permitir diferenças climáticas normais nas zonas temperadas; (o setor de) construção é sempre mais elevado durante a primavera do que no inverno. Mas ajustes sazonais normais não são responsáveis ​​por grandes desvios de tempo”.

No geral, Rogoff diz que as evidências dos “El Niños” ocorridos no passado sugerem que é provável o evento deixar uma pegada significativa sobre o crescimento global, ajudando a apoiar a recuperação econômica na Europa e os EUA, ao mesmo tempo em que coloca ainda mais pressão sobre os já enfraquecidos mercados emergentes. “Ainda não é o aquecimento global, mas já é um evento muito importante economicamente – e talvez apenas uma amostra do que está por vir”.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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