Uma guerra como nenhuma outra

As marchas forçadas e os cavalos transportaram por terra todos os exércitos que entraram em guerra até a Guerra Civil dos EUA. A grande inovação dos norte-americanos foi deslocar tropas através de ferrovias e travar batalhas pelo controle das novas linhas vitais que abasteciam o front de tropas, mantimentos e equipamentos.

Os motores a gasolina fizeram sua estreia na I Guerra Mundial, quando os franceses organizaram o transporte de tropas para a Batalha de Verdun mobilizando quase todos os carros que existiam em Paris. Desde então o petróleo está no centro da guerra.

Japoneses e alemães fizeram tudo o que podiam para ter acesso ao principal insumo militar durante a II Guerra Mundial. Não por acaso eles foram derrotados pelos dois maiores produtores de petróleo da época: EUA e URSS.

A invasão do Iraque por Bush Jr. e os conflitos políticos instigados pelos EUA nas províncias petrolíferas (Irã, nos anos 1950; Brasil, em 2016; Venezuela em 2018) tem sempre o mesmo objetivo. Assegurar o controle da matéria prima da guerra moderna. Sem petróleo os norte-americanos não podem deslocar tropas, nem tampouco movimentar suas máquinas de guerra.

O petróleo russo está fora do alcance dos EUA. A China protege o Irã, seu maior fornecedor de petróleo. Os norte-americanos dependem do petróleo da Arábia Saudita e do Iraque, mas a máquina de guerra dos EUA ficará inevitavelmente paralisada com o fechamento do estreito de Ormuz ou com a destruição das instalações petrolíferas daqueles dois países.

US Army, US Navy, US Air Force são os maiores consumidores de petróleo do planeta. O poder das Forças Armadas dos EUA é incomparável, mas em caso de guerra mundial os militares norte-americanos terão problemas projetar seu poder em outros continentes por um longo período de tempo.

Em caso de guerra, as opções dos EUA são escassas: consumir rapidamente suas próprias reservas paralisando a economia do país e comprometendo o apoio político interno ao conflito; explorar o petróleo brasileiro (algo que eles já podem fazer, mas as reservas brasileiras são vulneráveis e não sustentariam a voracidade da guerra por muito tempo) e; controlar as vastas reservas petrolíferas da Venezuela (algo que está sendo dificultado pela Rússia e pela China).

O conflito político na Venezuela pode, portanto, ser considerado um desdobramento da nova Guerra Fria (que pode se tornar quente segundo George Soros https://www.brasil247.com/pt/247/mundo/381533/Soros-diz-que-EUA-e-China-est%C3%A3o-em-guerra-fria-que-poder%C3%A1-se-tornar-quente.htm). Antes do primeiro tiro, porém, os EUA lutam desesperadamente no front político para manter um fluxo previsível e ininterrupto de petróleo que possibilitará ao país projetar seu poder ao redor do globo (e se defender em caso de ataque). Mais tranquilos, chineses e russos fazem um esforço mínimo para imobilizar a máquina de guerra norte-americana antes da guerra mundial começar.

A hegemonia global norte-americana está chegando ao fim. Em razão da escassez do petróleo, o invencível poder militar dos EUA já pode ser considerado um mito. Mas como todo mito, ela continuará alimentando essa nova Guerra Fria e produzirá vítimas e sofrimento. E em algum momento os próprios norte-americanos terão que suportar em casa as consequências indesejadas de suas ambições imperiais.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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