A pipoca no cinema, o STF e a Constituição, por Luiz Orlando Carneiro

Do Jota

Vetar pipoca alheia no cinema viola a Constituição Federal de 1988?
 
Luiz Orlando Carneiro

A Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (Abraplex) ajuizou, no Supremo Tribunal Federal, Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 398), com pedido de liminar, a fim de que seja constitucionalmente garantido aos cinemas vedar o ingresso, nas salas de exibição, de bebidas e alimentos que não tenham sido adquiridos em suas bombonières.

O relator da ação é o ministro Edson Fachin.

De acordo com a petição inicial da Abraplex, várias decisões judiciais sobre a questão, que têm sido tomadas com base em jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ), vêm causando restrições à livre iniciativa, apesar de leis recentes que autorizaram a “política de exclusividade” em outros ramos de entretenimento, como os eventos esportivos. Na ADPF, a associação aponta como violados os preceitos fundamentais relativos à livre iniciativa, à isonomia e ao acesso à cultura. E questiona se seria constitucional o STJ decidir de forma a comprometer a estrutura de negócio dos cinemas.

Argumentos

Os advogados João Carlos Veloso, Eduardo Mendonça e Felipe Fonte, que assinam a arguição, destacam, dentre outras razões, as seguintes:

 “A regulação econômica no Brasil tem oscilado entre a proteção de grupos de interesse e o paternalismo bem-intencionado, cujo resultado é quase sempre desastroso para o público em geral. O primeiro grupo de intervenções estatais envolve a inflação regulatória, por meio da criação de muitas regras – ambientais, urbanísticas, consumeristas, tributárias e comerciais – disciplinando diversos aspectos da vida social, as quais tornam praticamente impossível a operação regular das pessoas físicas e jurídicas no mercado4 . O propósito declarado é defender o interesse público, mas o resultado prático é a dominação de mercado por grandes grupos econômicos e pequenos atores operando de modo informal, com o consequente desestímulo ao surgimento das empresas denominadas de médio porte, tipicamente associadas ao salto econômico experimentado pelos países desenvolvidos . O tratamento desse uso deturpado da regulação estatal envolve considerações que transcendem o objeto da presente arguição.”

“O segundo tipo de intervenção é o paternalismo bem-intencionado, mencionado acima. Nesta modalidade, a regulação é pensada com o propósito de maximizar a proteção direta do indivíduo, não raro contra si próprio, como se o mercado fosse necessariamente perverso e as pessoas fossem incapazes de atuar buscando seu melhor interesse. Nessa linha, há aceso debate acerca da possibilidade de se regular a cobrança, por parte de shopping centers pelo uso de estacionamento, ou ainda quanto à validade do oferecimento de descontos pela adoção da forma de pagamento em dinheiro. Neste último caso, a pretexto de evitar a discriminação dos consumidores que utilizam cartões de crédito, a decisão pode causar o efeito indesejado de fazer com que as pessoas mais pobres, que muitas vezes não têm acesso a essa facilidade, sejam obrigadas a contribuir no rateio das despesas administrativas decorrentes do seu emprego pelo conjunto de consumidores.”

“O caso em análise apresenta lógica similar: a pretexto de tutelar os interesses dos consumidores de produtos culturais, o resultado agregado das decisões judiciais é a diminuição de oferta e o aumento no respectivo preço do serviço. Vale dizer: para tutelar um suposto direito de ingressar no cinema com o refrigerante adquirido externamente, a jurisprudência questionada deixa de levar a sério a natureza fundamental da liberdade econômica. Perdem os estabelecimentos – que ficam sem flexibilidade para montar seu modelo de negócio e padronizar sua logística –, e perdem os espectadores, incluindo aqueles que não têm por hábito consumir alimentos e bebidas nos cinemas.”

 

Redação

24 Comentários

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  1. Qual foi o resultado ??? Eu

    Qual foi o resultado ??? Eu me recuso a pagar por pipoca em cinema. Eu geralmente faço uma ou duas panelas em casa, ponho em alguns sacos ou dentro da minha bacia de pipoca, e levo dentro de uma mochila… o refrigerante eu compro uma lata numa farmácia que vende a lata a dois reais. 

    Espero que não me proibam de entrar no cinema com ela.

    1. resultado
      O resultado foi que deram 5 dias pro Janot se manifestar

      Pipoca no cinema custando mais que o ingresso, isso é o que a ação defende

      Espero que não passe…

  2. Essa ação me lembra o carnavalesco Clóvis Bornay,

    que na véspera de um carnaval em um ano desastroso da economia brasileira, numa entrevista, soltou essa pérola:

    “Uma povo que canta e dança como o povo brrrrasileirrrrrrrro só pode serrrrrrrrrrr um povo feliz!”

    Ou plagiando-o:

    “Tribunal que discute sobre pipoca no cinema só pode ser de um país feliz”.

  3. liberdade econômica!!
    Para eles é pagar um absurdo por um refri e um pacote de pipoca.
    Liberdade para eles é impedir a gente fazem fazer o que a gente quer.

    1. bem colocado…

      no caso golpe, equivale a roubar nossos votos

      não votamos neles, com total liberdade, liberdade que eles querem impedir, roubar, golpeando Dilma

  4. A que ponto nos chegamos. A
    A que ponto nos chegamos. A guerra da pipoca.
    A propósito a peça dos advogados que apresentaram a ação é um primor de fascismo neoliberal. Crítica o excesso de regulação nas relações econômicas mas, contraditoriamente, quer que o Estado interfira, através do poder judiciário, na relação entre os cinemas e seus clientes obrigando-os a aceitar uma venda casada de dois serviços totalmente distintos. A exibição do filme é uma coisa, a venda da pipoca é outra.

  5. STF é ideal para dilemas desse tipo, falsos…

    reparem que em termos de liberdade garantida o impetrante apresenta e defende apenas duas, mas que na realidade são três, sendo a terceira a mais importante, a liberdade de escolher aonde quer comprar, ou não comprar ou trazer de casa

  6. Sem polêmica …
    Para mim

    Sem polêmica …

    Para mim este caso é sem polêmica alguma. Basta o consumidor usar a inteligência.

    Quando for comprar seu ingresso pergunte ao atendente se você pode entrar com bebida e comida comprada fora da bomboniere do cimena. Se sim vá em frente. Se não, é só não comprar o ingresso.

    Espera a barrinha da esquina vender o piratex, alguns meses depois, ai você compra e assiste no conforto da sua casa com toda a família comendo a pipoca feita em casa.

    Além de economizar você dá uma grande banana para o cinema, a indústria cinematografica, para os advogados destes pulhas e de quebra para o STF (ou melhor ITF – infimo Tribunal Federal) que além de golpista nem deveria apreciar o mérito de uma questão mesquinha como esta.

    No cimena eu compro o ingresso, a bebida e a pipoca eu compro onde quiser.

    E quem não concorda que vá chorar na cama que é lugar quente.

  7. Baboseira ideológica

    Baboseira ideológica desprezível. Vender menos é a justificativa para aumento de preços por parte dessa cambada…

  8. Aqui fica demonstrado o nivel

    Aqui fica demonstrado o nivel de importancia que tem a pipoca na economia nacional.

    Enquanto isto a industria nacional, a area de serviços (construção civil, naval) de alta tecnologia, petrolifera, dentre outras,

    ficam no aguardo da ação das nossas excelencias, os meretrissimos jungadores de nosa patria.

    O povo que sifu.

     

  9. As salas de cinema que vão à PQP!

    E enfiem a pipoca quentinha naquele lugar onde não bate sol.

    E aproveitem e façam o mesmo com o STF. GOLPISTAS! CANALHAS! CALHORDAS!

  10. Pipoca é mais importante que
    Pipoca é mais importante que o Cunha para o STF!
    Estamos bem com esses ILIBADOS aí,se falar para
    um estrangeiro isso,não acreditariam!

  11. Em vez de fazer o que deviam

    os ministros do Supremo porão na pauta uma bobagem desta?

    Parece período da ditadura.

    E não saíram de férias ou recesso de novo?

    Que se lasquem os autores do pedido,  as empresas de cinema.

    Viva YIFY ! Faça a sua pipoca em casa..

    https://yts.ag/ 

  12. Caros colegas, se alguem aqui

    Caros colegas, se alguem aqui é pai de 4 filhos com idades entre 13 a 22 anos vai entender a relevancia do tema. Hoje, na melhor das hipoteses entre entradas de cinema, pipocas e o pagamento do estacionamento do shopping (basta ver que que o cinema de rua acabou..só existem salas em shopping centers) , gasta-se no minimo entre 120 e 200 reais.(Isto é uma maquina de fazer dinehiro). Na minha infancia e adolescencia o cinema e a pipoca eram o maximo de diversão barata que poderia haver.

    E acho ainda que voces não entenderam que não é STF que quer dar pitaco nisso, mas as instancias vão se caminhando até chegar lá no alto. No Olimpo dos Deuses, onde assentos almofadados à prova de hemorróidas vão dar tranquilidade aos nossos doutos principes supremos do saber juridico para dizer se meu filho de 13 anos pode entrar com um pacote GG de pipocas salgadinhas pagando 3,50, para não ser submetido a extorsão dos Cinemarks, Cinearte e Kinoplex da vida cobrando 15 reais por um pacote de pipocas.

  13. Devíamos nos orgulhar de
    Devíamos nos orgulhar de nosso STF democrático e popular. Em quantos países o pipoqueiro do cinema tem condições de ir a mais alta corte lutar pela sua pipoca?

  14. Desobediência civil

    O capitalismo que depende do estado para eliminar a concorrência. É um acinte. Se proibirem, entro com a comida na bolsa. Será muito mais saboroso. E dane-se o STF.

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