Acampamento Terra Livre chega em Brasília reunindo milhares contra desmonte da Funai

Organizadores temem que o governo Bolsonaro provoque situações de violência a partir de infiltrados no acampamento. Eles trabalham com uma estimativa de 4.000 entre indígenas e indigenistas na edição deste ano do ATL

Jornal GGN – Ônibus ocupados por índios de várias etnias e partes do Brasil começaram a chegar na capital do país na noite desta terça-feira (23). Virou tradição. Todos os anos milhares de representantes de povos indígenas realizam o Acampamento Terra Livre (ATL) na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, no mês de abril.

O objetivo do encontro, que acontece a partir desta quarta-feira (24) até sexta (26), é expor as reivindicações por demarcações de terras. Mas, neste ano, houve um aumento de demanda, suscitada pelas políticas do governo Bolsonaro de desmonte da Funai e dos serviços de atenção à saúde da população indígena.

Os organizadores do evento trabalham com uma estimativa de 4.000 entre indígenas e indigenistas neste ano. Esse será o maior número desde o primeiro ATL, em 2004, que desde então vinha reunindo entre 2.000 e 3.000 pessoas a cada edição.

Segundo informações da Folha de S.Paulo, a principal preocupação este ano é que o governo provoque situações de violência a partir de infiltrados no acampamento. O temor surgiu por conta de recentes manifestações do próprio presidente e de outros representantes do Executivo.

Na semana passada, os ministros Sérgio Moro (Justiça) e Augusto Heleno (GSI) convocaram, por uma portaria, a Força Nacional para atuar na segurança na Esplanada dos Ministérios. Em nota, os organizadores do ATL destacaram que sempre promoveram protestos pacíficos “para dar visibilidade aos nossos direitos”.

No mesmo dia em que a Força Nacional foi escalada para o protesto indígena em Brasília, o presidente Bolsonaro gravou uma live nas redes sociais sobre o encontro acusando as ONGs de liderarem a população indígena por motivos escusos. O porta-voz do Executivo ainda inflou o número de participantes esperados no ATL, falando em “10 mil indígenas”, pontuando que os custos do evento sairiam do bolso do contribuinte.

Ainda em nota, o ATL destacou que as acusações de Bolsonaro não têm fundamento. As despesas são custeadas entre os próprios indígenas e apoiadores da sociedade civil, a partir de três plataformas de financiamento coletivo que foram divulgadas pela internet. Os organizadores consideram ainda que Bolsonaro inflou propositalmente o número para “10 mil” com o objetivo de apontar em seguida que o protesto fracassou.

Deputados da oposição intermediaram acordo com a Polícia Militar

Um grupo de parlamentares da Câmara dos Deputados se reuniu nesta manhã no acampamento para intermediar as negociações com a polícia militar. Na semana passada, o governo do Distrito Federal negou aos manifestantes o uso da Esplanada dos Ministérios para instalar o acampamento, o que já vinha sendo feito nos anos anteriores.

“Queremos garantir que os povos indígenas façam suas manifestações de forma pacífica e possam participar da programação desta semana no Congresso, como a audiência pública que vamos realizar amanhã, quinta. Inclusive também já estivemos reunidos com o Departamento de Polícia Legislativa da Câmara e com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil para organizar essa participação”, esclareceu o deputado Helder Salomão (PT-ES), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

Ele foi acompanhado pelos parlamentares Nilto Tatto (PT/SP), Airton Faleiro (PT/PA), Talíria Petrone (PSOL/RJ), Áurea Carolina (PSOL/MG), Fernanda Melchiona (PSOL/RS), Joênia Wapichana (Rede/AP) e Edmilson Rodrigues (PSOL/PA) para conversar com o representante da Polícia Militar que, junto com o Exército, está presente na Esplanada.

Após a negociação, o governo do DF autorizou a permanência do ATL na Esplanada dos Ministérios, na região próxima ao Teatro Nacional. O presidente da CDHM pontuou também que a Comissão ajudará na garantia do diálogo entre os indígenas, Congresso, Ministérios e Supremo Tribunal Federal.

Reivindicações

A marcha do Acampamento Terra Livre teve origem na reivindicação pela demarcação de terras indígenas e garantia de direitos à população. Agora, no governo Bolsonaro, o grupo inclui protestos contra a transferência da Funai para o recém criado Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, comandado por Damares Alves, e a mudança da atribuição de demarcação de terras indígenas para o Ministério da Agricultura.

“[Desde a mudança] seguiu-se uma série de ataques e invasões articuladas contra as terras indígenas, perseguição e expressão de racismo e intolerância aos nossos povos e nossas vidas”, pontuou em nota a Articulação Nacional dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), organizadora do evento.

Os indígenas se mobilizam também contra o desmonte da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI). No final de março, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, decidiu transferir para estados e municípios o atendimento à saúde da população indígena.

*Com informações da Folha de S.Paulo e da Agência Câmara

Redação

1 Comentário

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  1. Nassif: só vou botar fé nesses “grupos” quando o evento juntar em torno de 1.000.000 de pessoas, seja de onde for ou adonde for. Menos que isso só vai aumentar a ira dos VerdeSauvas e do bando de canalhas, ladrões e safados que hoje com eles compactuam. Contra a força dos pulhas só outra, contrária (em todos os sentidos) e de maior intensidade. Senão fica tudo no chove e não molha.

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