Mesmo tentando poupar Aécio, delator revela o que está por vir contra PSDB

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Apesar de clara intenção da mira do depoimento de Claudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, ser a cúpula do PMDB e do governo Michel Temer, sendo apenas o presidente citado 43 vezes nas 82 páginas de delação à Lava Jato, o senador Aécio Neves (PSBD-MG) não conseguiu sair ileso do primeiro dos 77 delatores da empreiteira na investigação.
 
No documento, Melo Filho tenta explicar aos procuradores da República e delegados da Polícia Federal como funcionava os repasses de caixa 2 da empreiteira aos políticos, seguindo a superplanilha da Odebrecht, encontrada em apreensões desde março deste ano. Isso porque o nome do delator era relacionado diretamente a parte desses repasses, em anotações nos arquivos.
 
Foram em dois momentos que o nome de Aécio Neves apareceu nos relatos. Na primeira vez, é uma acusação direta ao senador José Agripino Maia (DEM-RN), e Aécio teria pedido à companhia o repasse de R$ 1 milhão ao parlamentar, como contrapartida de apoio da sigla na eleição presidencial de 2014.
 
 
O delator conta, ainda, que entrou em contato direto com Agripino, por meio de seus telefones celulares, marcando um encontro realizado em seu gabinete, na Ala Afonso Arinos do Senado. Á época, apesar de Agripino não estar se candidatando a cargos nas eleições de 2014, o repasse foi feito, entre os dias 13 e 17 de outubro daquele ano.
 
“Além disso, quando a mídia ventilou que, em eventual vitória de Aécio Neves na campanha presidencial de 2014, o Senador José Agripino poderia ser postulante ao cargo de Ministro de Minas e Energia, estive com o parlamentar”, completou Claudio Melo Filho.
 
O segundo trecho de citação direta do primeiro dos delatores da Odebrecht em referência a Aécio é sobre seu codinome. No capítulo “explicação sobre outros pagamentos identificados em planilhas relativa a pagamentos nas eleições de 2010”, o ex-diretor da empreiteira tenta se abster de acusações diretas ao senador tucano, mas não nega que os apelidos realmente faziam referência a esses políticos.
 
“Há algumas informações constantes nas planilhas da empresa, que relacionam, de alguma forma, meu nome a pagamentos que supostamente foram realizados a pessoas identificadas por diferentes codinomes, os quais não reconheço e posso afirmar que não participei de eventuais tratativas e nem de qualquer fase da formalização dos pagamentos”, diz a delação.
 
Um deles era o “Mineirinho”, que é Aécio Neves. O fato de Cláudio Melo não ter sido o responsável da companhia por intermediar esses repasses o impossibilitou de esclarecer detalhes dessas transações, como ocorreram e quais interesses estava envolvidos. 
 
“Após ter ciência de que a planilha associava meu nome aos pagamentos associados aos codinomes acima, soube internamente que se tratava, de fato, de um erro contido na planilha, e que os autores dos pagamentos já haviam sido identificados e que seriam esclarecidos pelos responsáveis”, completou o ex-executivo.
 
Por outro lado, ao confirmar que o apelido era uma referência ao tucano, basta recorrer aos dados da superplanilha da Odebrecht para se chegar a conclusões preliminares dessas remessas.
 
No pedido de busca e apreensão realizado na 26ª fase da Operação Lava Jato, denominada Xepa, Mineirinho foi apontado no documento como receptor de R$ 15 milhões entre 7 de outubro e 23 de dezembro de 2014. A entregas teriam sido feitas em escritório de Belo Horizonte, em Minas Gerais.
 
A autorização do pagamento teria sido feita pelo diretor superintendente da Odebrecht Infraestrutura para Minas Gerais, Espírito Santo e Região Norte, Sérgio Neves, à então secretária do Setor de Operações Estruturadas (denominado pela Lava Jato como o departamento da propina), Maria Lúcia. Em delação, a ex-funcionária já admitiu operar em “contabilidade paralela” a mando de seus superiores. 
 
 
Em resposta, a assessoria de imprensa do PSDB de Minas afirmou que os R$ 15 milhões foi o total doado pela Odebrecht à campanha do PSDB em 2014, e que foi declarado à Justiça Eleitoral. 
 
Entretanto, além das referências nas planilhas ao codinome, Aécio também foi arrolado diretamente naquele momento de apreensão dos documentos. O parlamentar tucano também é incluído nos pagamentos feitos no ano de 2010, aparecendo como beneficiário de R$ 120 mil da empreiteira.
 
Em março, quando as informações vieram à tona, o senador disse em nota que era preciso “com serenidade” separar “o joio do trigo” nesses documentos.
 
A revelação da primeira das delações apresentam o sinal verde para o que virá dos depoimentos dos outros 77 executivos da Odebrecht. Isso porque já se sabe, desde julho deste ano, que os delatores da companhia não tinham receio de mencionar o senador tucano nos acordos. 
 
Mas, de lá para cá, muitas mudanças e negociações ocorreram do lado dos investigadores da Lava Jato, até que o aguardado acordo de delações e leniências fossem fechados, apenas no fim deste ano. 
 
 
E não será só o parlamentar, candidato derrotado nas eleições à Presidência de 2014, que estará na mira dos depoimentos da Odebrecht. Todas as frentes do partido devem ser atingidas: além de Aécio, o ministro de Relações Exteriores e o mais próximo do governo Temer, José Serra, e o governador de São Paulo, outro postulante às eleições presidenciais, Geraldo Alckmin. 
 
Em relação a este último, a Folha já divulgou reportagem na última sexta-feira (09), mostrando o teor das acusações, confirmando que o governador é mesmo o “Santo” das planilhas e teria recebido R$ 2 milhões em dinheiro vivo para as suas campanhas de 2010 e 2014 ao Estado de São Paulo. 
 
Com relação à Alckmin, o TSE não registra nenhuma doação direta da Odebrecht à conta de campanha do candidato tucano, tanto em 2010, quanto em 2014. O único registro é de doação oficial da Braskem, um dos braços da empreiteira, na quantia de R$ 100 mil para o ano de 2010.
 
Ainda, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também poderá sofrer as consequências do que se considera o maior acordo da Lava Jato. Isso porque, ainda no início de novembro, um laudo da Polícia Federal levantava suspeita sobre o repasse da Odebrecht de R$ 975 mil ao Instituto Fernando Henrique Cardoso entre dezembro de 2011 e dezembro de 2012.
 
As quantias foram divididos em “mesadas”, 11 pagamentos de R$ 75 mil e um de R$ 170 mil. O Instituto recebeu da construtora um total de pelo menos R$ 975 mil, segundo os registros de contabilidade da empreiteira.
 
 
Informações sobre os beneficiários tucanos de repasses ilegais deverão ser esclarecidas por outros delatores da companhia. Enquanto isso, a Procuradoria-Geral da República quer investigar o vazamento do depoimento de Claudio Melo Filho. Vazamentos, por serem ilegais, podem gerar a anulação do acordo.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

14 Comentários

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  1. Os salva-vidas de tucanos, e

    Os salva-vidas de tucanos, e são muitos, e vão desde Moro a Janot, passando por um STF servil à Globo, um mercado sanguinário interessado no butim e no desmonte do Estado social, um militante como Gilmar Mendes no comando do TSE..prá que mais se toda esta trupe estará sempre de  prontidão para retirar essas aves de bico grande de tempestade que as assombre: Lula, deixa de ser bobo, tira logo tua carteirinha de tucano se não quiseres ir pró xilindró…

    Resultado de imagem para Moro e aecio e macarrão

  2. E ai vem Moro dizer na

    E ai vem Moro dizer na Alemanha que os tucanos não estão envolvidos porque eles eram oposição, e se fossem governo como seria heim Moro.  Esse discurso furado foi usado por Aecio na campanha em que foi derrotado por Dilma, tendo sido esta fala usada por Dallagno para não investigar tucanos. O que se sabe é que as empreiteiras financianvam os partidos que concorriam às eleições, o PSDB da mesma forma que o PT, mas somente o tesoureiro do PT está preso, sem que tenha se enriquecido ilicitamente.

  3. E se houver um milagre de o

    E se houver um milagre de o Janot autorizar a investigação ao STF, o caso ficará sob os cuidados do Gilmar Mendes. Mediante “sorteio”,  certo…

  4. A coragem.

    Muita coisa chama a atençao nessa narrativa que se desenrola em meio à patifaria que se observa e se avoluma na tal da operação Farsa a Jato. Uma delas é a coragem dessa garotada voluntariosa de abraçar a responsabilidade de conseguir realizar e conseguir fazer de conta que realizam investigações dessa magnitude em operações de movimentação financeira de tamanha complexidade, operada por gente que faz, executivos selecionados na gestão de grandes contratos, e não burocratas improdutivos como eles, meninos ousados. Depois de colher os depoimentos é preciso relatar, organizar os fatos e construir uma denúncia. Quem fará isso tudo?

    Mas não fica por aí, na coragem dos meninos. Eles tem a ousadia e a audácia de pretender, em meio a tamanha complexidade  de tramas de ações entrelaçadas, montadas e operadas por especialistas (e não meninos burocratas concurseiros) contratados no mercado a preço de ouro, além das responsabilidades atinentes às investigações, eles desenvolveram a ousada pretensão de manipular a dinâmica desses dados, em benefício de interesses partidários e privados, em associação com as quadrilhas de empresários das comunicações, lideradas pela Globo/Mossack-Fonseca. Eles devem ser os heróis a quem aquela ministra sem noção do stf acovardado  se referia quando falou que era preciso ter a ousadia dos canalhas!! Que ela tem e admite que admira nos seus semelhantes, que ela defende com unhas e dentes.

  5. A proteção à quadrilha tucana é clara

    Prezados leitores,

    Quem observa e acompanha a atuação da burocracia estatal (PF, MP e PJ) sabe muito bem que ela carrega consigo o DNA tucano. Esse partido, que apenas através de estelionatos eleitorais (Plano Real e compra da reeleição) conseguiu chegar ao Palácio do Planalto, domina completamente a burocracia do Estado. Em SP, onde está à frente do executivo estadual há mais 20 anos, o PSDB controla completamente o MPE, as polícias (civil e militar), as varas e tribunais de justiça. Notem os leitores que Fernando Capez, acusado de chefiar a máfia da merenda, ex-procurador do estado, foi tratado com reverência quando convidado a esclarecer as acusações – todas elas com indícios e provas bastante consistentes – que pesavam contra ele. A CPI da merenda terminou em pizza. No sistema metro-ferroviário paulista o que mais existe é manipulação fraudulenta de contratos, pagamento de propina, licitações viciadas, sobrepreço e prejuízo aos cofres públicos. O MPE-SP não têm o mínimo interesse em levar adiante as investigações; empurra com a barriga, até que os crimes prescrevam e nenhuma autoridade do estado seja punida. O acidente numa obra do metrô, em Pinheiros, não implicou em punição para qualquer autoridade pública. As autoridades suíças enviaram provas do esquema de corrupção e pagamento de propinas em obras do sistema metro-ferroviário, mas os procuradores do MPE-SP não se interessaram e engavetaram os documentos.

    No plano nacional, da Fraude a Jato, é pública e notória a blindagem e proteção ao tucanato, desde FHC, passando pelos atuais senadores Aécio Cunha e José Serra e pelo atual governador de SP, Geraldo Alckmin. Rodrigo Janot, PGR, protege descaradamente Aécio Cunha, assim como Gilmar Mendes, esse militante político do PSDB colocado por FHC no stf. Sobre o juizeco da guantánamo pararanense as fotos da última semana, em que ele e Aécio Cunha trocam confidências num evento da canalha revista Quanto É, nada mais é preciso dizer; sérgio moro é um preposto dos EUA e um miliatnte tucano descarado. A OAS teve uma tentativa de delação anulada exatamente porque incriminava tucanos de alta plumagem e não incriminava Lula, como é desejo máximo da quadrilha da Fraude a Jato.

    Essa delação da Odebrecht foi adiada e Marcelo Odebrecht foi coagido e chantageado a entregá-la nos termos que a quadrilha da Fraude a Jato desejava. Nessa primeira leva, a artilharia se concentrou na quadrilha do PMDB, prerservando a do PSDB. Apenas tangencialmente os tucanos foram mencionados. Fica nítida, também, a forçação de barra da Fraude a Jato, para que os executivos da Odebecht colocassem também políticos do PT na relação daqueles que receberam dinheiro ilícito da companhia. Como sabem os leitores, as manchetes contra tucanos só duram um dia. Hoje nenhum veículo da chamada ‘grande mídia comercial’ faz menção ao ‘Santo’, ao ‘Mineirinho’ ou ao ‘Tarja-preta’. FHC, corrupto de quatro costados, que COMPROVADAMENTE comprou a reeleição, que fez falcatruas para beneficiar a Raytheon, no caso SIVAN, que entregou o patrimônio público por meio da privataria, é preservado; a PF não vazou ABSOLUTAMENTE NADA do depoimento que o ex-presidente tucano prestou a ela, acerca do pagamento de pensão a uma amante, usando recursos públicos. Hoje o PIG/PPV trabalha incansavelmente para tornar FHC um presidente biônico, com o golpe dentro do golpe, capitaneado por Gilmar Mendes no TSE.

    As quadrilhas enquistadas na burocracia estatal, assim como o PIG/PPV, trabalharam e trabalham para que o PSDB retome o poder executivo federal. E se observarmos bem, o tucanato já tem o poder de fato. Ou alguém duvida que o DNA tucano esteja presente na MP-746, de reforma do ensino médio, a PEC-241/55, que destrói a Educação e Saúde Públicas e os programas sociais por 20 anos, a reforma que destrói a Previdência Social e outras medidas de desmonte do Estado e entrega das riquezas brasileiras os capitalistas daqui e aos estrangeiros? A quadrilha do PMDB está sendo usada para implantar o programa ultra-neoliberal, privatista e entreguista concebido pelo PSDB. Feito o serviço sujo, o TSE, o STF e outras ‘instituições’ dominadas pelo tucanato darão um jeito de tirar de cena michel temer e sua camarilha, reservando o lugar para FHC, Nelson Jobim ou outro que leve a termo o programa de neocolonização do Brasil pelo rentismo e capital financeiro internacional.

  6. política

    Sempre achei que influência da Globo sobre o povo, era muito porigosa. Eu já imaginava que coisas como essas podece acontecer – a manipulação da informação e a condução das pessoas à incapacidade de discernimento. A Globo escolheu um caminho que induz a população a acreditar no ilusório. Criou uma capacidade diabolica de manipuar as pessoas com um sistema de informação subliminar tão poderoso que as pessoas não conseguem raciocinar, são induzidas. Induzidas a acreditar no que não existe. Hoje ela mostra ao povo um pais que não existe. Um governo que não existe. Pura ilusão!  

  7. Não basta ser honesto

    É hora de Sérgio Moro provar a todos que é honesto, calar a boca de todos os que dizem que a alegação de corrupção é só desculpa para derrubar governos, e intimar quem sabidamente sabe de tudo sobre Aécio Neves da Cunha e não detém foro privilegiado: Andrea Neves da Cunha. E tem que ser rápido, não pode dar chance de Andrea “queimar os papéis”, hein? Ou fazer como o irmão e, com documentos embaixo do braço, sair pela porta dos fundos, vigiada pelo PGR…

    A propósito, essa turma adora sumir com documentos, né? A moça ia sumindo com processo contra a firma “Globo”, Alckmin quis tornar secretos os que não conseguiu carbonizar…

     

    E ladrão bota fogo no prédio antes de fugir? Ou incendiário rouba?

    “Incêndio criminoso destruiu papéis do Metrô”, OESP, 04/12/12

    http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,incendio-criminoso-destruiu-papeis-do-metro-imp-,968856

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