Ao pedir prisão de Aécio, Janot diz que estratégias de obstrução continuam

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Marcos Oliveira/ Agência Senado

Da Agência Brasil

Por Heloísa Cristaldo

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, reiterou hoje (9) o pedido de prisão preventiva do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) e manutenção da prisão de Andrea Neves, Mendherson Souza Lima e Frederico Pacheco. Em resposta a recursos, Janot enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) documento em que destaca a abundância de provas materiais concretas e idôneas imputadas aos presos em concurso com Aécio Neves, a alta gravidade do delito e o risco de reiteração, o que torna a prisão preventiva imprescindível para garantia da ordem pública.

“São muitos os precedentes do Supremo Tribunal Federal que chancelam o uso excepcional da prisão preventiva para impedir que o investigado, acusado ou sentenciado torne a praticar certos delitos enquanto responde a inquérito ou processo criminal, desde que haja prova concreta do risco correspondente”, disse Janot.

Para o procurador, a transcrição de conversas entre os envolvidos mostra que há fartas evidências tendentes a demonstrar que Andrea Neves, Frederico de Medeiros e Mendherson Souza Lima trabalham diretamente nos negócios escusos feitos por Aécio. “Andrea Neves e Frederico de Medeiros trataram diretamente com Joesley Batista e Ricardo Saud, respectivamente, sobre a solicitação de propina no valor de R$ 2 milhões, ocorrida no ano em curso.”

Segundo Janot, a irmã de Aécio, Andrea Neves, não só tem plena ciência do envolvimento do senador nas ilicitudes, como tem papel de protagonismo nas suas tratativas. O procurador ressaltou ainda que a relação de Andrea e Frederico Medeiros não pode ser considerada fato isolado. “A relação espúria que os une é muito anterior ao episódio mais recente de corrupção, e as provas colhidas demonstram que há um risco concreto de que, caso não sejam mantidos presos, reiterem nas graves condutas delitivas e possam destruir eventuais provas existentes em relação aos fatos ilícitos envolvendo Aécio Neves e ainda não totalmente esclarecidos”.

Crime continuado e obstrução de Justiça

De acordo com Janot, existe risco de crime continuado, com a “probabilidade de que a lavagem de parte dos R$ 2 milhões recebidos da propina paga recentemente pela J&F, com participação direta de todos os requeridos, ainda esteja em curso”.

Outro aspecto ressaltado por Janot nas gravações ambientais e interceptações telefônicas autorizadas pelo ministro do STF Edson Fachin, é fato de Aécio estar “adotando, constante e reiteradamente, estratégias de obstrução de investigações da Operação Lava Jato, seja por meio de alterações legislativas para anistiar ilícitos ou restringir apurações, seja mediante interferência indevida nos trabalhos da Polícia Federal, seja através da criação de obstáculos a acordos de colaboração premiada relacionados ao caso”.

Segundo Janot, a prisão do senador afastado é a única maneira de salvaguardar a ordem pública e a própria instrução criminal. “Isso porque, além da possibilidade concreta de prática de novos delitos por parte dos requeridos, há o risco grave e concreto de que ações criminosas já iniciadas pelo senador Aécio Neves, para embaraçar as investigações em curso no âmbito do Supremo Tribunal Federal – relacionadas à organização criminosa da Operação Lava Jato – atinjam seu objetivo”, afirmou.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

10 Comentários

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  1. Está cada dia mais difícil

    Está cada dia mais difícil entender o papel do Judiciário e de todas as suas peças que de uma forma ou de outra participaram na trama do Golpe em termos de autonomia.

    Sua atuação parece varia entre dois extremos 

    Algumas vezes aparecem apenas como mais uma engrenagem no mecanismo de movimento bem azeitado e cadenciado do Golpe.

    Outras tomam a forma de um movimento os jovens turcos do Judiciário no sentido de um partido com atuação própria e independente.

    A primeira face é a mais significativa a outra é menos presente.

    O Golpe é dirigido antes de tudo pelo núcleo político-midiático e pelo núcleo financeiro e empresarial, mas o Judiciário foi a principal peça na estratégia de criminalizar e paralizar o PT e de politizar o judiciário e judicializar a política.

    Dá a impressão que o núcleo político-midiático e o financeiro-empresarial se serviram do Judicário bastante bem e tranquilamente até o impeachment, mas a estratégias expor as própria tripas de todo o sistema política está passando fatura a maioria das lideranças do Golpe. É nesse momento desponta a face dos jovens turcos do Judiciário. 

    Em matréria de meios de poder o núcleo financeiro-empresarial e o político-midiático tem muito mais recurso do que o do Judiciário. O Judiciário precisa para manter o protagonismo extender até o infinito o clima policialesco que definitivamente não interessa aos negócios do dois núcleos cabeça do Golpe.

    Que viver verá, mas definitivamente a democracia cada vez mais embota, cada vez mais está suspensa e sequestrada.

    Sem povo na rua e sem musculatura política só podemos contar com os tropeços e as guerras internas das hostes golpistas.

  2. ou prendem Aécio…

    ou o MPF terá tempos difíceis pela frente

    porque quando o crime chega ao ponto de falar sem que ninguém o prenda, é certo que estamos prestes a sair de um perigo para outro maior ainda

    1. General Raton declara guerra

      O crime organizado que tomou de assalto o poder declarou guerra às Instituições outrora republicanas. Dentro de poucos dias o TEMERoso terá absoluto controle ao indicar um PGR da sua absoluta confiança. Dentre em breve o Brasil terá voltado aos velhos tempos de FHC com MPF e PF na coleira, como exigia Aécio nas gravações. Ledo engano de quem pensa que Temer não tem condições de transformar a PF em sua Gestapo, ou será que já se esqueceram que ele afirmou que só sai se o matarem, ou será que pensam que estão mexendo com Delcídio do Amaral aquele que senador que foi preso em pleno exercício de suas funções com Dona Carmem Lúcia à frente do pelotão bradando palavaras de ordem como Bandidos Não Passarão…..e  saber que ela Carmem soltou sua pérola no momento em que Cunha, Aécio e quadrilha passavam livres para derrubar a democracia para que tomassem de assalto o poder. Será que este pais tem jeito. Dai-me esperança.

       

  3. Delcídio foi preso não por ser criminoso mas por ser petista

    Crime de rico a lei encobre

    O Estdo esmaga o oprimido

    Não há direito para o pobre

    Ao rico tudo é permitido

     

    Para não termos protestos vãos

    Para sairmos desse antro estreito

    Façamos nós, por nossas mãos

    Tudo que a nós nos diz respeito

  4. Delator potencial

    Aécio, pelo seu caráter, egoismo e falta de compromisso com causas nobres, é um candidato terrível para delação contra a corja que orbitou ao seu redor. Com poucos dias de cadeia, vindo a sua carreira interrompida e, ainda, a abstinência em relação às suas aspirações, será uma presa fácil para os procuradores. Ainda mais sem a irmã por perto.

    Acredito que, com toda razão, os tucanos estão tentando ajuda-lo antes deste abrir a boca. O Temer diria “Isso tem que manter, viu?”

    Para a PF o bom delator não é aquele que sabe muito, mas aquele de caráter fraco. Uma dúvida: Haberá interesse em ouvir a delação do Aécio?

  5. Só o  distanciamento

    Só o  distanciamento histórico poderá ensejar algum entendimento da conjuntura que se inicia a partir de 2013 para cá. Por enquanto temos que nos acostumar com os epifenômenos.

    Como se entender, por exemplo, que só recentemente(mais especificamente depois da delação de Sérgio machado) os poderosos, ágeis, competentes e sagazes órgãos de repressão vieram a dar conta que o escopo da Lava a Jato não se restringia apenas ao PT? 

    Como personagens como Serra e Aécio Neves, para nos determos nos mais vistosos, ficaram ao largo das investigações dado que não de agora havia suspeitas acerca do “bom mocismo” de ambos? Isso induz à seguinte constatação: não fosse a delação do ex-presidente da Transpetro ainda hoje somente petistas e integrantes de outros pequenos partidos estariam pagando o pato por um fenômeno bem mais amplo e abrangente. 

    Sobre ambos nunca faltaram de há muito denúncias gravíssimas por parte de diversas fontes. As mais contundentes, no que se refere a Aécio, egressas do próprio estado dele, feitas por um parlamentar e um policial, sem prejuízo de outras que não ganharam destaque. 

    Muito estranho tudo isso. 

    PS: a propósito, o juiz Moro tomou um chá de sumiço nas mídias. O que terá ocorrido?

    1. A lavajato visava ladravazes, não gente do quilate de $erra

      “O Proer, graças a uma ação promovida contra Pedro Parente, Pedro Malan e José Serra, foi condenado, porque deu prejuízo ao país, em uma ação incentivada pelo “lulopetismo”. Essas pessoas estariam inelegíveis hoje. O Proer é um escândalo. Uma ação que salvou o país, agora aparecem palpiteiros politizados que manejam essa ação de maneira intencional. E aí as pessoas ficam expostas à essa sanha de quem não entende nada de política pública, que não sabem nada do que se está fazendo e aí e saem a palpitar. Ou seja, gente do melhor quilate, como Serra, Malan e Pedro Parente, está submetida à ação de improbidade até hoje, enquanto esses ladravazes estão soltos”. – Gilmar Mendes

       

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