Após mais de um ano, Justiça julga 18 jovens presos por infiltrado em ato contra Temer

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: André Lucas/CHOC Documental
 
Jornal GGN – A Justiça de São Paulo retomou o julgamento dos 18 jovens detidos, no dia 4 de setembro de 2016, durante uma manifestação contra o governo de Michel Temer, que foram levados presos pelo capitão do exército Willian Pina Botelho, infiltrado que se apresentava com o codinome Balta Nunes. 
 
O Ministério Público de São Paulo insiste em acusar os jovens de ter formado uma organização criminosa e corrupção de menores e que o grupo teria sido formado para cometer danos “ao patrimônio público e privado e lesões corporais em policiais militares”.
 
As provas sustentadas eram as “armas” que carregavam: vinagre, materiais de primeiros socorros, máscaras e roupas pretas e capuzes. Mas o caso ficou conhecido mesmo por ter sido conduzido por um infiltrado do Exército, durante os protestos contra o governo atual peemedebista.
 
Tramitando em segredo de Justiça, no início da semana ocorreu a segunda audiência do julgamento contra os jovens no fórum da Barra Funda, em São Paulo. Com muita luta e pressão, as famílias dos jovens conseguiram que o militar do Exército fosse uma das testemunhas do caso.
 
O benefício concedido ao infiltrado, que não foi levado preso junto com os manifestantes naquele 4 de setembro de 2016, seguiu ainda que sob a polêmica e Botelho foi promovido em maio deste ano a major do Exército. Com a medida, ele não precisará prestar depoimento presencialmente: será ouvido por carta precatória em Manaus.
 
Na Zone Oeste da capital paulista ocorria a audiência de instrução e debates do julgamento contra os 18 manifestantes. Do lado de dentro, a única informação divulgada era que quem conduzia o julgamento em segredo de Justiça era a juíza Cecília Pinheiro da Fonseca, da 3ª Vara Criminal. A favor dos acusados, também se apresentaram como testemunhas Eduardo Suplicy (PT) e o deputado federal Paulo Teixeira (PT). 
 
Do lado de fora, familiares protestavam: “O Estado não tem noção do que está fazendo com o psicológico desses meninos. Marcou a vida deles para sempre. E da família deles também”, afirmou Rosana Cunha, mãe de um dos réus, o Gabriel, à reportagem do El País.
 
Por responderem, antes da sentença da juíza, em liberdade, os 18 jovens ainda são monitorados. “Tá sendo muito difícil. O clima é de muita tensão lá em casa. Agora melhorou, mas no início a polícia passava, tocava sirene na porta de casa… Um dia fui no supermercado e a Rota foi me seguindo”, contou Rosana, que explicou que seu filho não pode mais sair à rua, porque sempre é abordado pela polícia. “Eles estão marcados”, completou.
 
Outro dos jovens chegou a ficar com síndrome do pânico após o episódio, contou a mãe Luiza. Segundo ela, seu filho Felipe, de 20 anos, é “um menino super tranquilo”. “Ele está estudando, está focado de novo no cursinho. Mas agora o julgamento ocorre próximo do vestibular. É muita pressão para um menino. Ele é muito tranquilo, muito caseiro. Mas mesmo assim ele tá bem abalado”, disse.
 
“O ideal é que a justiça fosse tomada hoje mesmo e que eles já saíssem de lá inocentes. Era o mínimo, tamanho é o descalabro de tudo isso. Às vezes achamos que a qualquer momento a justiça e a verdade vão vir à tona”, manifestou Miguel, pai de Enrico, de 25 anos ao El País.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. Judiciário, PM, Exército…

    Essas 18 mães, essas 18 famílias, apesar de todo o sofrimento e evidências, parece que ainda não têm consciência sobre a quem serve hoje o sistema judiciário e o sistema policial (Exército incluído, pois assim tem se comportado).

    Apesar da indiscutível ação criminosa do capitão Willian Pina Botelho, ele foi promovido a major.  Procurem saber o que aconteceu com o capitão Wilson Dias Machado, que no dia 30 de Abril de 1981 levou bombas para explodir o RioCentro durante um show com milhares de brasileiros. Como todos sabem o atentado fracassou. Mas acredito que o capitão Machado deve ter sido promovido da mesma forma que o capitão Pina Botelho.

    Há dois grandes grupos no Exército: os nacionalistas e os entreguistas. A maioria das pessoas não distingue esses dois grupos e acreditam cegamente que o Exército é uma instituição que defende os brasileiros e dá a vida pela Pátria. Os militares entreguistas vendem a Pátria e só defendem seus mesquinhos interesses.

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