Brasil, uma república de assassinos. Por Antonio Uchoa Neto

Aqueles que não estão morrendo, figurativa ou literalmente são as autoridades que cometem genocídio por omissão ou via sicários

A ex-vereadora Marielle Franco, assassinada em 14 de março de 2018. Foto: Arquivo/Guilherme Cunha/Alerj – via Agência Brasil

Comentário sobre o post Marielle: as suspeitas de chantagem sobre Bolsonaro, por Luis Nassif

Por Antonio Uchoa Neto


República dos assassinos. O esquadrão da morte no poder. Às favas com os escrúpulos, juiz ladrão, com o supremo, com tudo. Nunca vi tanta desgraça junta.

Darcy Ribeiro, junto ao túmulo de Glauber Rocha: “O Glauber morreu de Brasil!”

O Brasil é a doença que está nos matando, a todos.

Os que não estão morrendo, figurativa ou literalmente, ou não se dão conta dessa doença, não são brasileiros. São os assassinos, são as autoridades que cometem genocídio por omissão, ou homicídio através de sicários. Gente para quem a morte dos outros é fonte de prosperidade.

Matar indiscriminadamente, ou matar alvos certos, para essa gente dá no mesmo. Bandido bom é bandido morto. Batalhadores (cf. Jessé Souza) bons são batalhadores mortos. Matar, matar, matar. Como eu não morri, tanto se me dá.

Perceber ódio, visceral ou não, nos olhos de vizinhos – gente que mora a poucos metros de nós – diante de certas notícias, é estarrecedor e deprimente. E é essa gente, que nos cerca, que são os verdadeiros fâmulos da morte, ainda que os escandalize apontar-lhes essa pecha.

Meu cunhado relativizou a morte de Marielle Franco, ocorrida no dia do meu aniversário, fazendo eco a algumas fake news divulgadas logo depois – fotos, inclusive – que mostrariam a vereadora convivendo com traficantes. E era um homem bom, divertido, bom pai e bom marido, adorava cachorros.

A cara dele, com o desmascaramento dessas mentiras, e o surgimento da verdade sobre os Bolsonaro, depois? Dir-se ia, ‘não tem preço’. Mas tem, na verdade. Perder um pouco de fé, na humanidade.

Essa gente que comemora mortes, de quem quer que seja, deixa pelo caminho um pouco de sua humanidade; depois retornam desse pesadelo, mas retornam diferentes. Sempre com uma ponta de desconfiança do nosso renovado acolhimento. Creio que acalentam uma última esperança de poder dizer: ‘tá vendo, eu tava certo!’

Ficam à espera de uma prova contra o Lula. De uma prova de que a esquerda matou Marielle. De uma prova que Adélio era um agente do PSOL. De uma prova de que Sérgio Moro não foi parcial. De uma prova que o Brasil está sob iminente ameaça dos comunistas. Não sei. De uma prova de que o mundo é, de fato, como eles acham que é.

Em resumo: uma república dos assassinos, de esquadrões da morte, escrúpulos mandados às favas, de juízes ladrões, com o supremo, com tudo. Contanto que fiquem sob a guarda de um ser benevolente, déspota ou não, tudo estará bem. Não querem ser livres, nem autônomos, querem estar sob a proteção de algo, querem estar a salvo de pobres, pedintes, desvalidos, favelados, todos esses seres repugnantes que nos incomodam à mesa, nas ruas, no trabalho, nos aeroportos e nas universidades. Na vida.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

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