Caso Marielle: polícia ignorou segundo registro de carro clonado

Laudo até então inédito mostra outro carro de placas clonadas a 51km da rota do crime; responsável pela clonagem foi assassinado

Fotos: Reprodução/Getty Images

Jornal GGN – As investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes mostram que os matadores usavam um carro Cobalt de placas clonadas. Porém, um relatório inédito da Polícia Civil foi anexado ao processo, e mostra que um segundo Cobalt com as mesmas placas estava em circulação a 50km do local do crime. Tal informação foi ignorada ao longo do processo.

A revelação foi feita pelo jornal The Intercept Brasil, ao explicar que o relatório com a localização do Cobalt clonado foi elaborado a partir de dados da CET-RJ (Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro) e do COR (Centro de Operações Rio). O documento aponta o registro de um Cobalt com placas clonadas KPA-5923 na Av. Brasil, altura de Campo Grande, no mesmo momento em que outro Cobalt idêntico, também clonado, transportava os homens apontados pela polícia como assassinos da vereadora e eu motorista à Lapa, local do atentado.

A dona do veículo com as placas originais conseguiu comprovar que, na hora do crime, o veículo estava estacionado no Leblon, e o inspetor responsável pelo laudo também descartou a possibilidade do carro ter passado na Avenida Brasil, km 50,7, no dia do crime.

A suspeita sobre um possível segundo carro usado na emboscada contra Marielle surgiu nas primeiras hipóteses da Polícia Civil, mas ela foi posteriormente descartada a partir de depoimentos de testemunhas. Essa possibilidade voltou a ganhar força graças a informação do segundo Cobalt em circulação na mesma hora e com a mesma placa a 51km da rota do crime.

O carro clonado apareceu em pontos diferentes do Rio de Janeiro após o assassinato de Marielle e Anderson entre os dias 15 de março e 02 de dezembro. Nesse período, em 13 dias diferentes ao longo de nove meses após os assassinatos o carro transitou pela Avenida Brasil novamente.

O último registro foi datado de 2 de dezembro de 2018, segundo o relatório. Nesta data, o Cobalt clonado também passou pela Avenida Brasil, no sentido do bairro Santa Cruz, também na zona oeste do Rio, às 11h05, para nunca mais ser rastreado.

Em entrevista ao site The Intercept Brasil, um delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro disse que a menção a esse ponto que não foi explorado é importante, mas ainda não se pode concluir que houve intencionalidade ou não na omissão do registro.

Como o inquérito busca identificar a autoria e materialidade do crime, e os autores foram vistos no bairro da Tijuca, o outro carro não serviria para fins de identificação, mas ele pode ajudar a esclarecer outros pontos. “Acho que isso deve ser levado ao segundo inquérito que identifica o mandante e outros possíveis partícipes que contribuíram para o crime”, analisou.

A investigação da Divisão de Homicídios do Rio de Janeiro mostra ainda que um dos suspeitos de ter feito a clonagem do carro usado na morte de Marielle, de nome Lucas Prado do Nascimento da Silva, foi morto 20 dias após as execuções da vereadora e de seu motorista.

A Polícia Civil do Rio ainda busca por Antônio Carlos Lima da Silva, o Nem Queimadinho, que teria montado e adulterado os chassis e número de identificação do veículo. Seu paradeiro ainda é desconhecido.

Redação

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