CNJ investiga magistrada que julgava processos que ela também era autora

Da Folha

Juíza decidia processos em que ela mesma aparecia como autora

Magistrada do RJ ganhou quatro casos julgados por ela, com indenizações de R$ 634 a R$ 10 mil

Investigada pelo CNJ e pela Corregedoria do TJ-RJ, Sílvia Regina Criscuolo foi afastada do cargo em fevereiro

MARCO ANTÔNIO MARTINSDO RIO

O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e a Corregedoria do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) apuram os atos praticados por uma juíza que julgou processos em que ela mesma aparecia como autora.

Desde 2010, a juíza Sílvia Regina Criscuolo julgou e venceu quatro processos em que ela era parte interessada. Neles recebeu indenizações que variaram entre R$ 633,92 e R$ 10 mil.

As ações são semelhantes: sentindo-se de alguma forma prejudicada, a cidadã Sílvia Criscuolo entrava na Justiça contra empresas pedindo indenizações.

Como em todos os casos seu pedido era inferior a 20 salários mínimos (em torno de R$ 14,5 mil), os casos eram encaminhados para Juizados Especiais Cíveis.

Criscuolo é juíza titular de Juizados Especiais Cíveis. Ela aparece como autora em 23 processos na Justiça do Rio. E como ré em outros quatro.

De acordo com as investigações do CNJ, a juíza entrava com as ações nos locais onde trabalhava.

Fez assim nos juizados da Ilha do Governador e do Méier, zona norte. Nesses locais havia um único Juizado Especial Cível. As ações, assim, caíam automaticamente em suas mãos.

Nos juizados especiais, a audiência é geralmente conduzida por um juiz leigo, um advogado que, após seleção, atua como auxiliar de juízes titulares, conduzindo audiências e apresentado pareceres sobre os casos. A decisão final cabe ao titular.

Segundo o CNJ, Criscuolo participava das audiências como autora diante de um juiz leigo. Depois de encerrada a audiência, assumia seu papel de juíza titular para decidir sobre seu próprio caso.

Em sua defesa ao CNJ, a magistrada justificou que ela “decidiu no meio de outros processos sem saber que fazia parte deles”.

O CNJ começou a investigar esse caso em julho do ano passado. A apuração foi repassada ao Tribunal de Justiça, que em fevereiro afastou Criscuolo do cargo.

Agora o CNJ quer que o tribunal fluminense crie mecanismos que acabem com brechas como essa.

OS CASOS

Em um dos processos, a juíza Criscuolo reclamou de uma cobrança indevida em sua conta telefônica. Recebeu R$ 633,92.

Em outro caso, uma empresa demorou a entregar um eletrodoméstico. Pelos danos morais ela determinou que o pagamento de R$ 749,50.

De uma construtora que vendeu um apartamento com penhoras, a juíza obteve uma indenização de R$ 10 mil.

No Juizado do Méier, a juíza Sílvia Criscuolo reclamou de um colchão que demorou a ser entregue. Argumentou que, por isso, dormia no chão de casa.

Responsável por apurar o caso, a juíza do CNJ Mariella Ferraz disse que a magistrada do Rio “violou os ditames legais. Uma afronta às regras mais comezinhas dos deveres dos juízes”.

Redação

9 Comentários

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  1. investigar o que?  ela deve

    investigar o que?  ela deve ser punida, as provas são claras, afinal tem o nome dela como interessada e juiza dos casos, deve ter punição!  ou então fechamos os tribunais desse pais!

  2. Ou seja, juízes não leem os processos.

    Acho possível e crível a justificativa da juíza e excetuando-se a impropriedade do julgado, pertinentes suas demandas, afinal, nós pobres mortais enfrentamos diariamente essa tensão na relação empresa-cliente pelas violações frequentes do direito do consumidor.  Até que se prove em contrário, há a justa causa de erro procedimentais e não utilização de má-fé para próprio benefício.

    Todavia, essa atitude somente revela algo muito mais grave e tenebroso: os juízes não se acercam dos autos, são simplesmente homologadores de pareceres anteriores, isso em caso de ação penal especificamente é dramático para os réus.

  3. PROFESSOR PASQUALE, SOCORRO!

     

    O CORRETO NÃO SERIA: CNJ investiga magistrada que julgava processos dos quais era a autora. OU AINDA MAIS BONITINHO: CNJ investiga magistrada que julgava processos cuja autoria era sua também.

  4. E o Gilmar CNJ, e o Gilmar?

     

    Neste exato momento Gilmar Dantas decide o destino de seu amigão, camarada, parceiro, com o qual mantinha intenso contato telefônico e com o qual protagonizou a “crise” do grampo sem audio repercurtida pela mídia a exaustão e que abortou as investigações contra o banqueiro brilhante. Que moral se tem para condenar essa juiza se o país convive tranquilamente com um ministro do STF com a ficha corrida de um Gilmar Dantas (royalties para o Noblat)?

     

  5. E o Tofolli que não se

    E o Tofolli que não se declara impedido de julgar procesos contra banco que lhe concedeu estranhos benefícios e de julgar outros processos em que advogam seus amigos pessoais? Por que a Imprensa nunca mais tocou nesse assunto? Precisamos saber mais sobre este caso. Ou não estamos em uma república democrática e transparente em que ninguém está acima da lei?

  6. e ainda há quem acredite que juiz ouve a outra parte…

    e mentirão está aí para nos mostrar que é bem assim que o judiciário funciona

  7. Defesa interessante…

    Em sua defesa ao CNJ, a magistrada justificou que ela “decidiu no meio de outros processos sem saber que fazia parte deles”.

    Ou seja, a Juíza alega ser comum não prestar atenção ao que faz – há muitos por aí, dizem, que “assinam sem ler” aquilo que é feito por seus assessores, o que, dizem, tem gerado problemas por aí…

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