Doutor Janot, seus meninos abriram as portas do inferno, por Fernando Brito

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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moromacarthy

Enviado por Webster Franklin

do Tijolaço

Doutor Janot, veja como seus meninos abriram as portas do inferno

por Fernando Brito

É curioso como, de alguma forma, vivemos a tal “ditadura” que a direita alucinadamente aponta existir no Brasil.

Está à solta na mídia o mais desavergonhado macartismo já visto desde os tempos do “dedodurismo” que marcou os primeiros anos da ditadura militar.

E, legitimado por ele, a criação da onipotência policial .

A Polícia Federal, elevada à condição de altar de santos pela mídia, força o Ministério Público e negocia com o Congresso – especialmente com os parlamentares citados na própria Lava-Jato, uma mudança na Constituição que a torne “independente” do poder legítimo, aquele que é eleito.

Os delegados chegam ao ponto de “peitar” publicamente o Procurador-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal, ao divulgarem nota em que “manifestam preocupação com os prejuízos à investigação criminal e o atraso de diligências em cerca de nove inquéritos da operação Lava Jato, que tramitam no STF, os quais estão muito aquém daqueles em andamento na Justiça Federal do Paraná”.

Delegado de polícia não manda em inquérito judicial, cumpre diligências que lhes são determinadas pelo Ministério Público ou pelo Ministro-relator.

Mas o presidente da Associação dos Delegados é ameaçadoramente explícito ao Estadão“A Polícia Federal quer trabalhar. Se o Supremo entender que tem que ser exclusivamente do jeito que o procurador-geral quer, a PF não assume a responsabilidade nem os riscos dos resultados. Se a PF não tiver como contribuir na forma como entender mais adequada e se o procurador-geral quiser assumir integralmente a responsabilidade, paciência.”

Mais afrontoso, impossível.

O Ministério Público, a esta altura, deveria estar vendo o que gerou a sua tolerância com a formação de uma cumplicidade total com a formação de um núcleo promíscuo de delegados, procuradores e um juiz que se arroga jurisdição sobre todos os fatos que desejar, em qualquer ponto do país e que não pode ser contestado, sob pena de execrar-se perante a opinião pública qualquer um que o contrarie.

As tragédias da democracia ocorrem assim: em nome da moralidade e da ordem, a vida de uma nação começa a ser dominada pela histeria policialesca, que há quase 50 anos fez Stanislaw Ponte Preta começar assim o seu “Festival da Besteira que Assola o País”, o imortal Febeapá.

“É difícil ao historiador precisar o dia em que o Festival de Besteira começou a assolar o País. Pouco depois da “redentora”, cocorocas de diversas classes sociais e algumas autoridades que geralmente se dizem “otoridades”, sentindo a oportunidade de aparecer, já que a “redentora”, entre outras coisas, incentivou a prática do dedurismo (corruptela do dedodurismo, isto é, a arte de apontar com o dedo um colega, um vizinho, o próximo enfim, como corrupto ou subversivo – alguns apontavam dois dedos duros para ambas as coisas) , iniciaram essa feia prática, advindo daí cada besteira que eu vou te contar”

O Estado Policial não é uma ferramenta da polícia, é da política.

A descrição do macartismo que Philip Roth faz, em seu romance “Casei com um Comunista” (Cia das Letras), é o mais duro retrato disso.

“O negócio de McCarthy, na verdade, nunca foi a perseguição de comunistas; se ninguém sabia, disse, ele sabia. A virtude dos julgamentos-espetáculo da cruzada patriótica de McCarthy era simplesmente a forma teatralizada. Ter câmaras voltadas para aquilo apenas lhe conferia a falsa autenticidade da vida real. McCarthy compreendeu melhor do que qualquer político americano anterior a ele que as pessoas cujo trabalho era legislar podiam fazer muito mais em benefício de si mesmas se representassem um espetáculo; McCarthy compreendeu o valor de entretenimento da desgraça e aprendeu como alimentar as delícias da paranoia. Ele nos levou de volta a nossas origens, de volta ao século XVII e a nossos antepassados. Foi assim que o país começou: a desgraça moral como entretenimento público. McCarthy era um empresários dos espetáculos e, quanto mais desvairados os pontos de vista, tanto mais ofensivas as acusações, maior a desorientação e melhor a diversão para todo mundo.“

A propósito: de homem mais temido dos EUA, Joseph McCarty morreu desacreditado.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

19 Comentários

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  1. Macartismo

    McCarty teve sua ruína quando mexeu com as forças armadas, órgão mais onipotente da república americana.

    Mas essa ruína já estava programada para chegar a qualquer hora, pois não havia como sustentar tal teatro do absurdo.

    Bastou chegar ao Congresso alguém que não os temia e fez as perguntas básicas: qual a acusação? Baseada em quê? Qual é a prova? Vocês não podem acusar alguém baseados em depoimentos de origem incerta, sem os fatos que corroborem.

    Teve o final que merecia.

  2. Que vergonha Nassif

    A turma aqui sentenciou o juiz Moro como sendo parcial e mal intencionado em suas decisões porque seus familiares simpatizam com o PSDB (no Estado mais tucano do país, diga-se de passagem) e porque sua esposa trabalha para um ex-petista histórico transformado em tucano depois do escândalo do Mensalão, mas que nunca mudou uma vírgula de suas posições ideológicas nem abriu mão das ações sociais que o lançaram à política. Essas são as “evidências” contra ele. Nisso agiram exatamente igual a McCarthy, que, na falta de provas contra seus inimigos, corria a buscar parentes, amigos, ex-namoradas ou qualquer coisa que os relacionasse a outros “notórios” comunistas (os quais nem sabiam que o eram antes de serem intimados também). Agora o sujeito aí de cima ainda tem a desfaçatez de acusar os procuradores federais de praticarem aquilo que ele próprio faz diariamente e impunemente contra um juiz cujo único “crime” comprovado até agora, foi ter ousado decretar a prisão de um integrante do PT. E ganha de presente todo destaque nas redes sociais pró-governo, da mesma forma como McCarthy surfava na onda do conservadorismo midiático e do pânico da Guerra Fria que grassavam nos Estados Unidos dos anos 50.

    A direita “raivosa” adora dizer que a esquerda é sórdida porque acusa os outros de fazerem o que ela própria fez, numa alusão a um texto apócrifo atribuído a Lênin contendo “mandamentos de política”. Em nenhum lugar civilizado do mundo essa direita é levada a sério. Mas aqui no Brasil a esquerda “articulada” nas redes sociais finalmente resolve lhe dar razão. Temo que não haja mais tempo para autocrítica, vocês ultrapssaram mesmo o Rubicão e avançam com todas as armas contra sua própria história e dignidade. Parafraseando o homem que destruiu McCarthy ao vivo na TV, uma frase que se aplica muito bem a vocês hoje: “At long last, have you left no sense of decency?”

    Tenham modos, senhores. Se não respeitam a si próprios, pelo menos tenham alguma consideração pela esquerda do passado, que lutava (e morria) com dignidade e jamais aceitaria replicar os métodos de seus algozes.

    1. “porque sua esposa trabalha

      “porque sua esposa trabalha para um ex-petista histórico transformado em tucano depois do escândalo do Mensalão, mas que nunca mudou uma vírgula de suas posições ideológicas nem abriu mão das ações sociais que o lançaram à política.”

      Esse foi esperto. No psdb terá o guarda- chuva da mídia e judiciårio ad eternum. E sem mudar suas posições ideológicas, claro, um mago.

      1. Não é preciso mudar posições

        Não é preciso mudar posições ideológicas para se filiar a partidos no Brasil, pois nenhuma legenda de relevo as conserva. O PT não faz muito tempo atrás também tinha poucas objeções ao ingresso de ex-adversários, contando que tivessem comprovado potencial eleitoral. Mas para satisfazer ao purismo formal de seus miltantes mais aguerridos o partido geralmente recomendava o ingresso dessa turma em legendas-satélite mais “pragmáticas”, tais como o PSB e o PDT. Tudo bem que o PT hoje não é um destino muito atrativo, mas ainda compensa ser “amigo do rei”. O PT comanda o maior orçamento do país há 12 anos e ainda o fará por mais 4 pelo menos, e considerando a quantidade de escândalos de corrupção versus as raríssimas e breves condenações na Justiça de integrantes do partido, se conclui que o crime ainda compensa e muito. Aliás, em matéria de delitos de colarinho branco envolvendo políticos, os juizes brasileiros tem sido tão generosos com o PT que seu comentário só pode ser entendido como um lapso inexplicável de ingratidão.

          1. Qualquer semelhança do teu

            Qualquer semelhança do teu comentário com o de 90% da turma que frequenta os blogs de Reinaldo Azevedo, Mainardi e afins, não é mera coincidência. Farinha do mesmo saco costuma cheirar e ter sabor igual. Continue o bom trabalho, você está contribuindo para deixar este espaço cada vez melhor.

    2. R$ 70 mil por mês para isto!

      Nossa você foi “bento” mesmo, é o negócio da década!

      Parabéns!

      Alias mesmo se você for um terceirizado, e deve ser por que sua turma adora terceirização, funcionário PJ (né FSP/Globo etc…), e ganhe só uma fração dos R$ 70 mil, mesmo assim, para escrever textos assim…

      1. Na verdade ganho bem mais que isso..

        .. pois comentários como o seu apenas me dão convicção de que vale a pena investir num debate honesto e conservar seus princípios. Você pode até não convencer ninguém, mas ainda poderá se deliciar gratuitamente com o ridículo alheio patrocinado pela turma afrontada.

    3. Errado de novo.
      Ninguém está

      Errado de novo.

      Ninguém está defendendo prender por prender só porque é tucano ou fez doações para o PSDB. O problema é a instrumentalização política do sistema de administração da justiça. Falam tanto do “comunismo internacional” que estão cada vez mais parecidos com ele. Lembre da KGB na antiga URSS: fazia o que queria e pronto. Lembre também do que foi o J. E. Hoover nos EUA…

      O sonho dessa turma de concurseiros é a soma do pior dos dois modelos; a “soma de todos os erros”.

      Releia o post e verá que seu comentário foi pra lá de inoportuno; espere a próxima chance.

      1. Associam a imagem do juiz Moro à de McCarthy..

        ..enquanto praticam a mesma tática macartista de buscar nas relações pessoais de seus inimigos elementos para condená-los. Em suma, acusam o outro de fazer aquilo que fazem. E assim, mais uma vez, perderam completamente o senso de decência. Por favor releia o post, reflita sobre suas atitudes, e retorne quando recuperar o que foi perdido. Quem sabe ainda haja tempo.

        1. Errado de novo.
          Ninguém está

          Errado de novo.

          Ninguém está defendendo prender por prender só porque é tucano ou fez doações para o PSDB. Não há nenhuma violência em identificar que são ligados ao PSDB. Por muito menos já estão bombardeando a indicação do Fachin pro STF por “ser do PT”, sem que ele tenha instrumentalizado um processo sequer em favor de um e desfavor de outro, ou qualquer tipo de perseguição política.

          Vá na wikipédia e veja o que foi o macartismo que você vai entender o que é uma coisa e o que é outra.

  3. Mais uma vez, Delegados

    Tem um dizer popular que fala que ninguém gosta de polícia… nem mesmo a mãe do policial… 

    Esse texto só reforça isso. O articulista utiliza seu filtro ideológico para atirar nos delegados, por uma suposta vontade de liberdade absoluta em relação ao poder eleito. Com todo respeito, isso é uma mentira. Pelo que se depreende do projeto legal o que se pretende é autonomia financeira e administrativa, e não independência. Algo como as agências já possuem.

    Quer queira o articulista ou não, foi a Polícia Federal a responsável, seja no governo Lula, seja no governo Dilma, pelas grandes operações de combate à corrupção. Só que o contingenciamento de recursos vem reduzindo ano a ano a verba destinada à Polícia Federal, em contrapartida a outros órgãos. É de se perguntar: porquê?

    O articulista, ligado ao PT, esquece que quem utilizou de subterfúgios para condenar petistas de forma questionável, no processo do dito “Mensalão” foi o Ministério Público, através de dois próceres seus: o PGR, Gurgel, e o Ministro do STF Joaquim Barbosa.

    Esquece ainda o articulista que a cunhada do Vaccari(esquece ou não sabe) ficou injustamente presa por erro do  juiz Sérgio Moro induzido por prova apresentada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, e não pela Polícia Federal.

    Voltando um pouco mais, lembro do caso do helicóptero do pó, dos Perrela: Não sei se o articuista sabe, e não sei se o Nassif e demais comnetaristas desse blog sabem, mas quem pediu a anulação da prisão e do processo foi o Procurador da República do caso e não a Polícia Federal. Pesquisem, já que aqui se fala que se faz um jornalismo diferente da grande mídia.

    Como já falei antes, é sempre mais fácil bater na polícia… 

  4. Eu ia até comentar…

    …mas não consigo parar de rir da cara do Sérgio Moura ao libertar a cunhada do Vaccari.

    Eu tô parando e vejo a cara do Dalton Siliganol, o garortinho valente do MP, e o acesso de riso volta.

    Ah bom, agora eu me concentro e quando vou escrever…aí vem o delitivo, a continuidade, o pedido de mudança do regime prisional e eu me mijo de rir de novo.

    A cunhada num era a cunhada, mas era a irmã da cunhada…

    Huuuuu

    Huuuu

    Huuuu

    Huuuu

    aaaaaaaaaaaaaaaaa.

  5. A policia federal está

    A policia federal está parecendo uma jamanta, sem freio, desgovernado, descendo uma pinguela.

    Mas quem manda na Policia Federal ?

    Por que não coloca freio na jamanta ?

    Tem mecânico que vou te contar !

  6. O golpe de mão do juiz Sérgio Moro contra o PT

    20/04/2015

     

    O golpe de mão do juiz Sérgio Moro contra o PT

     

    O juiz Sérgio Moro é apenas um numa conspiração de classe destinada a criar uma onda de pânico e um clima de histeria contra o PT.

        

    Maria Inês Nassif

     

    Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

     

    Não é banal o movimento que fazem a Justiça e o Ministério Público paranaense para inviabilizar um partido político nacional, o PT, ou qualquer outro que venham a botar no mesmo pacote – de preferência pequenos e ligados ao governo – para fingir que essa decisão não é uma perseguição ao partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que venceu as eleições dos tucanos Geraldo Alckmin e José Serra, e da presidenta Dilma Rousseff, que ganhou dois pleitos dos tucanos José Serra e Aécio Neves, o último deles o ano passado. Isso faz parte de uma estratégia de intimidação tão assustadora que transfere para o aparelho judicial de um Estado que sequer tem relevância na política nacional as decisões sobre o futuro da política nacional e sobre a legitimidade do voto do eleitor brasileiro; e que dá a uma decisão judicial de primeira instância o direito de proscrever partidos políticos.
     
    Nem nas ditaduras brasileiras isso aconteceu. Os partidos foram proscritos por atos federais. O PCB, por exemplo, foi colocado na ilegalidade em 1927, durante o estado de sítio decretado pelo presidente Epitácio Pessoa. Em 1966, todos os partidos brasileiros foram extintos por um ato institucional da ditadura militar iniciada em março de 1964. Somente em 1946 a Justiça tomou a decisão de tirar uma legenda do quadro partidário, o mesmo PCB, sob o argumento de que ela não professava a democracia. Ainda assim, a decisão partiu de uma instância máxima de Justiça, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
     
    O absurdo jurídico de colocar um partido na ilegalidade pode ocorrer se o Ministério Público do Paraná pedir o indiciamento do PT, a pretexto de participação na Operação Lava Jato, e o juiz Sérgio Moro condenar o partido. Segundo matéria publicada pela Folha de S. Paulo, procuradores preparam a originalíssima peça, que respaldaria uma decisão judicial destinada a proscrever o PT. O instrumento da inviabilização do partido seria a aplicação de uma multa próxima dos R$ 200 milhões que um dos delatores da Operação diz que o partido recebeu de propina – e que, sem provas, nas mãos de qualquer procurador ou juiz minimamente neutros, seria apenas uma palavra, a do delator, contra a outra, a do delatado que nega o crime.
     
    Um golpe de mão aplicado pela Justiça no quadro partidário brasileiro é, de fato, a inovação que a pouco neutra justiça paranaense pode legar para o país inteiro. Moro adora inovações, e segue os passos do inovador Joaquim Barbosa que, à frente do chamado Caso Mensalão, no Supremo Tribunal Federal, deixou de ser juiz e agiu como promotor, rasgou a Constituição, negou provas que inocentariam alguns réus e pediu a condenação de outros tantos sem provas, com o beneplácito do plenário da mais alta corte judiciária do país, com o aplauso da imprensa e as loas da oposição.
     
    Todas as licenças poéticas do aparelho judicial paranaense, inclusive esta, vêm sendo amparadas pelos partidos de oposição, acalentada pela mídia conservadora, tolerada pelas instâncias superiores da Justiça e pelos órgãos de controle do Judiciário e do Ministério Público, a exemplo do que aconteceu no Mensalão. A estratégia é a mesma: cria-se um clima político para legitimar desmandos judiciários, e os desmandos do Ministério Público ou da Polícia Federal são sistematicamente legitimados porque vêm respaldados em decisões judiciais. É uma roda-viva onde quem perde é sempre o futuro. Porque, no futuro, sabe-se lá quem vai ser atingido por já legitimados desmandos judiciais que hoje vitimam o PT. A articulação política entre PF, Ministério Público e a Justiça já é um dado, e pode atingir no futuro outros inimigos políticos que forem escolhidos por eles.
     
    O pensador Antonio Gramsci, ligado ao Partido Comunista Italiano, descreveu nos Cadernos do Cárcere as observações sobre o que ocorria naquela Itália convulsionada por uma cega adesão à liderança de Benito Mussolini. Lá pelas tantas, ele tenta entender como se formam as explosões de pânico, a contaminação coletiva por uma ideologia por meio do medo e da formação de sensos comuns – ideias-força sem necessariamente nenhuma racionalidade, mas de fácil aceitação, capazes de comover, envolver ou amedrontar. Os meios de comunicação são fundamentais na criação dessas mudanças culturais muito rápidas.
     
    A teoria gramsciana merece também ser lembrada nesses turvos dias pelo papel que atribui a instituições do Estado, inclusive à Justiça. O Judiciário, segundo ele, é um aparelho ideológico de vocação conservadora, resistente a mudanças – inclusive as definidas pelo jogo democrático.
     
    Como esse artigo não é acadêmico, só tomo a liberdade de citar o pensador rapidamente, na tentativa de entender o momento em que vivo eu, assustada, como outros tantos; e todos nós – alguns com medo, uns irados, outros tantos odientos, numa composição digna de uma arena romana. Nessa trama, é difícil diferenciar os cristãos dos leões. 
     
    Desde o Mensalão, Gramsci vai e volta em qualquer tertúlia política pela simples razão de que vivemos no meio de uma onda de comoção, pacientemente criada nos últimos anos, destinada a relativizar uma realidade em que as forças envolvidas em campanhas difamatórias, ações espetaculares, uso da máquina judicial, não conseguiram alterar uma realidade eleitoral, e ocupam os demais aparelhos ideológicos de Estado para consolidar uma hegemonia que se imponha sobre o voto. Tudo o mais – a formação de sensos comuns estapafúrdios, mas simples e claros; o papel da Justiça; o uso dos meios de comunicação na formação de um clima tão denso, tão áspero, tão inóspito, que pode ser apenas cortado com faca afiada – já é passado. Já foi, já produziu efeitos. O clima está criado.
     
    Resta aos democratas tentarem separar o que é espuma, o que é avanço indevido sobre direitos democráticos, do que é efetivamente justo. Essa é uma tarefa que fica muito difícil, porque o clima e o senso comum agem intencionalmente contra. O Brasil tem caminhado por sofismas, e Moro usa deles à perfeição. O clima de histeria criado contra o PT desestimula as pessoas comuns de defenderem governos por elas eleitos, com base no sofisma fincado num senso comum cevado pacientemente nos últimos anos, de que o partido é corrupto, e quem o defende está defendendo a corrupção; de que a Petrobras é de uso do petismo, e o petismo é corrupto, e  por isso a Petrobras tem que ser inviabilizada economicamente; de que os corruptos delatores se tornam heróis se delatam o PT, mesmo não tendo credibilidade pessoal nem provas; que a Justiça, para eliminar um partido político, pode usar de que instrumento for, mesmo ao arrepio da lei, para prender e intimidar.
     
    É tão irracional a “sofismação” da realidade e a consolidação de sensos comuns que é difícil entender por que, de repente, as pessoas tenham escolhido se destituir do direito à inteligência. Cair na armadilha dos sensos comuns criados pelo ódio impede a visão do óbvio. O tesoureiro do PT, João Vaccari, foi preso pelo juiz Moro porque arrecadou dinheiro legal para o PT, vindo de empresas implicadas na Operação Lava Jato. As empreiteiras que encheram os cofres do partido de dinheiro doaram igualmente para partidos de oposição, na mesma proporção. O raciocínio do juiz – segundo o qual dinheiro vindo de empresas fornecedoras da Petrobras, mesmo legal, transforma-se em crime porque foram conspurcados pela ação dessas empresas nas operações com a estatal – não vale para os outros. Não existe a mínima neutralidade nessa decisão.
     
    A insanidade dos argumentos destinados a inibir a defesa do PT é outra coisa própria desse clima, a prova de que o país surfa na crista da onda de comoção. Por dois anos, desde a condenação de petistas no processo do Mensalão, criou-se um clima coletivo de ridicularização ou de raiva daqueles que ponderaram contra a ilegalidade de várias das decisões e condenações feitas pelo Supremo. O julgamento do Mensalão é uma mácula que a Suprema Corte brasileira demorará a se livrar. E a defesa que pessoas fizeram dos juízes que julgaram para atender o público e a mídia é uma mácula que a democracia brasileira terá de lidar daqui para a frente.
     
    O juiz Moro, aquele do Paraná, ganhou um lugar na história do grupo político a que serve. Para a história do futuro, não terá deixado nenhuma contribuição jurídica, pelo simples fato de que rasgou a Constituição. A mídia tradicional, que ajudou a construir o clima duro que pesa sobre as nossas cabeças, deixará para o futuro a história de reconstrução do udenismo – um futuro em que poucos de seus veículos terão sobrevivido à hecatombe dos tempos modernos. A oposição partidária, pouquíssimo orgânica, será história, dificilmente futuro. E provavelmente isso também ocorrerá com as forças políticas levadas por essa onda de insanidade.
     
    Isso, sim, será uma crise política com efeitos semelhantes ao de um tsunami.

    http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-golpe-de-mao-do-juiz-Sergio-Moro-contra-o-PT/4/33307

  7. A legalidade ou um jogo de truco?

    23/04/2015 00:00

    A legalidade ou um jogo de truco?

    O herói substituto de Joaquim Barbosa na narrativa conservadora, tão confiante na cumplicidade da mídia, não hesitava em ver o que as imagens da câmera negavam

     

    por: Saul Leblon

     
     

         

    Augusto Dauster/Ajufe

     

    Conta-se que em uma revista semanal de conhecida isenção jornalística, repórteres não raro recebem um título pronto e a recomendação expressa: providenciar um texto ‘investigativo’ que o justifique.
     
    O juiz Sergio Moro e a equilibrada equipe responsável pela operação Lava Jato poderiam ter feito estágio na referida redação, com a qual, aliás, mantém laços de simpatia recíproca e de valores compartilhados.
     
    Mesmo que não o tenham feito há sinais preocupantes de comungarem um singular método Paraná de investigação nessa  sua cruzada como  paladinos contra a corrupção, assim incensados com direito a pôster épico na primeira página da Folha de São Paulo.
     
    Armados de uma sentença –como os títulos prévios da mencionada revista–, eles se puseram a campo para compor um lego jurídico em que as peças servem na medida em que se encaixam nos espaços reservados.
     
    Tudo recortado pelas lâminas de um primarismo, cujo fio da meada se resume a um juízo de valor:  a corrupção no Brasil nasceu –e morrerá, se depender da monarquia de Curitiba— junto com o PT.
     
    A última e mais desconcertante  evidencia de que a Nação está ao sabor desse jogo de cartas marcadas (leia a cortante análise de Maria Inês Nassif; nesta pág) em que a investigação cumpre papel acessório  à sentença, foi  a prisão do tesoureiro do PT , João Vaccari Neto, de sua esposa, Giselda Rousie de Lima, e de sua cunhada, Marice Corrêa de Lima.
     
    Quatro dias após à prisão da cunhada de Vaccari , em 17/04 –antes declarada foragida e assim denegrida pelo jornalismo isento durante as 48 horas em que se encontrava  em um Congresso sindical no Panamá, o juiz Sergio Moro pediu a prorrogação de sua detenção.
     
    Justificando-a, em pomposa declaração à mídia,  praticamente  sentenciou a investigada.
     
    “Embora Marice não tenha sido identificada nominalmente, os vídeos apresentados não deixam qualquer margem para a dúvida de que a pessoa em questão é Marice Correa de Lima”, afirmou o juiz Sérgio Moro, no feriado da última terça-feira (Globo.com 21/04/2015 12p2)
     
    O responsável pela Lava Jato respaldou sua esférica assertiva no exame de imagens das câmeras de segurança de um banco, a partir das quais o ‘método Paraná’ de investigações corroborou a manchete preconcebida.
     
    Aquela nacionalmente martelada nas horas seguintes, que  atribuía  à Marice Corrêa de Lima a responsabilidade por depósitos considerados suspeitos na conta da irmã, Giselda (esposa do tesoureiro do PT).
     
    Pronto. Mais uma porta da corrupção petista arrombada pelo ‘método Paraná’.
     
    No pedido de prorrogação, Moro alegou que a medida ‘oportunizará’ novo depoimento de Marice “na qual ela poderá esclarecer ou não sua participação nos depósitos em espécie realizados na conta da esposa de João Vaccari Neto e as circunstâncias que envolveram esses fatos”.
     
    O ‘método Paraná’ de investigações sustentava  que entre 2008 e 2014, a mulher de Vaccari, Giselda Rousie de Lima recebeu cerca de R$ 323 mil em depósitos  da ordem de R$ 10 mil mensais.
     
    As quantias em alguns casos teriam sido depositadas em caixas eletrônicos.
     
    O vídeo alardeado por Moro, de março de 2015, fecharia a peça condenatória contra Marice. Seria ela a mulher que  aparece em uma agência bancária, efetuando um depósito.
     
    “Assim, tudo indica que Giselda recebe uma espécie de “mesada” de fonte ilícita paga pela investigada Marice (em depósitos)  feitos até março de 2015”, diziam os procuradores, segundo o portal Globo.com.
     
    Em depoimento à Polícia Federal, Marice , em vão, afirmou não ter feito nenhum depósito para Giselda em março de 2015.
     
    Sim, em vão, porque o ‘método Paraná’ já tinha seu labirinto decifrado.
     
    “Nesse contexto, a prisão preventiva de Marice é imprescindível para a garantia da ordem pública e econômica, pois está provado que há risco concreto de reiteração delitiva”, defendia o MPF, que ainda pedia a apuração da viagem dela ao Panamá, “pois levanta suspeitas da manutenção de depósitos ocultos no exterior, como por diversas vezes se verificou com outros investigados nesta operação”.
     
    O juiz Sérgio Moro foi alpem.
     
    O herói substituto de Joaquim Barbosa na narrativa conservadora avaliou como ‘perturbadora a extensão temporal aparente da prática criminosa’ por parte de Marice Corrêa de Lima.
     
    No mesmo despacho em que determinou a prorrogação da prisão temporária, o magistrado menciona que há registros de envolvimento de Marice no escândalo do Mensalão.
     
    Vai por aí o ‘método Paraná’.
     
    Atire primeiro.
     
    Pergunte depois.
     
    O constrangimento do ambiente jurídico é que as fotos e vídeos sobre os quais se baseou o assertivo e pomposo ajuizamento de Moro neste caso  desmentem o  preconcebido de forma clara, serena e ostensiva.
     
    Será apenas um ponto fora da curva na Lava Jato? Ou a síntese de um ambiente condenatório embalado pela cumplicidade irrestrita daqueles que em vez de arguir  incensam o flerte com o arbítrio?
     
    Agora se sabe , da boca do próprio juiz Moro,  que Marice não era a mulher dos  vídeos que, há dois dias, ele dizia ‘não deixarem qualquer margem para a dúvida de que a pessoa em questão é Marice Correa de Lima” (Globo.com 21/04)
     
    A mídia tolamente hipnotizada ou deliberadamente cínica, em boa parte cúmplice do ‘método Paraná’ de sentenciar antes, para investigar depois, olhava para as fotos dos vídeos publicadas em suas próprias página como os bobos da corte da fábula do Rei Nu: elogiava a fina seda do monarca de Curitiba.
     
    E Moro estava despudoramente nu de razão neste caso.
     
    Mas de tal forma confiante no silencio obsequioso da mídia aliada que não hesitava em expor ao ridículo suas palavras, lado a lado das fotos que as contradiziam.
     
    E a mídia nada disse diante do exclamativo estupro das evidências.
     
    Nada disseram os colunistas da indignação seletiva  nas longas, constrangedoras últimas 48 horas em que as fotos circularam como a criança da fábula que gritava ‘ o rei está nu, o rei está nu’.
     
    Foi preciso o próprio rei admiti-lo para  jornalismo genuflexo, de novo, endossa-lo.
     
    As irmãs Giselda (esposa de Vaccari) e Marice (cunhada) são parecidas.
     
    Mas não são iguais.
     
    Da análise pedestre, a olho nu, sem a ajuda dos recursos digitais hoje disponíveis, avultava a diferença entre a cunhada condenada pelo ‘método Paraná’ e a imagem capturada pela PF das câmeras do caixa automático.
     
    Quem fazia o depósito a Giselda nos vídeos era a própria Giselda.
     
    Só Moro não via –ou não podia ver sem ter que descartar mais uma peça teimosa do lego com o qual quer levar o  PT ao inferno, a Petrobras ao fundo do pre-sal, as empreiteiras nacionais a falência e o Brasil ao buraco sem fim. Ou pelo menos tenta-lo  até 2018,  quando então, os bobos da corte que hoje elogiam a seda fina de seu traje invisível   vestiriam outro monarca para catapulta-lo ao trono do Brasil.
     
    Erros acontecem.
     
    Evitá-los é o dever de todos.
     
    Sobretudo, porém, é o dever de um juiz não ceder à sulforosa sofreguidão dos que antepõem aos fatos -e às fotos–  a sua opção política,  temerariamente envelopada em força de lei, como se a investigação legal fosse um jogo de truco cuja principal matéria prima é o blefe contra adversários políticos marcados para morrer.
     
    O caso Marice/Giselda pode não ser um ponto fora da curva na circularidade vertiginosa em que evolui a Lava Jato.
     
    Não se faça juízo prévio dos fatos em investigação neste episódio ou em qualquer outro em questão.
     
    Não só da Lava Jato, mas também da extensão imponderável dos ilícitos  no metrô de SP ou no escândalo de Furnas em que, segundo depoimento público do doleiro  Alberto Youssef –esquecido pela monarquia de Curitiba–  Aécio Neves e a irmã desfrutaram de um comissionamento de longos cinco anos a US$ 100 mil por mês.
     
    Dê-se a todos a isonômica e devida presunção da inocência.
     
    Antes que condenações prévias, a exemplo do caso caricatural das irmãs Marice/Giselda, subordinem o ambiente jurídico brasileiro ao arbítrio de um rei nu e ao elogio da seda fina que o veste por parte dos bobos da corte.

    http://cartamaior.com.br/?/Editorial/A-legalidade-ou-um-jogo-de-truco-/33334

  8. CARAMBA… ESSE JUIZ TEM AQUILO ROXO!

    Pode tudo… e ninguém fala nada? Manda mais que Cunha, Renan, Levandovisky, Dilma etc… Só não manda mais que uns tal de Marinhos!

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