Primeiro preso da Lava Jato revela abusos de Moro e do delegado Anselmo

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Mario Cesar Carvalho/Folhapress
 
Jornal GGN – Carlos Habib Chater, vendido pelos autoridades na grande mídia como o doleiro pivô da Lava Jato, disse à equipe de reportagem do portal UOL que a força-tarefa de Curitiba combate corrupção com corrupção. Ele atacou especialmente o delegado Márcio Anselmo – que, inclusive, é processado por Lula – por ter ameaçado em troca de uma delação e disse que a sentença de Sergio Moro contra ele foi injustamente dada apenas para sustentar a fantasia que é a megainvestigação.
 
Chater começou a ser investigado pela Polícia Federal em 2008, sob suspeita de usar seu posto de gasolina (o Posto da Torre) para lavar dinheiro para José Janene (PP), morto em 2010.
 
A PF acusou Chater, inicialmente, de ter movimentado de maneira ilegal cerca quase R$ 11 milhões entre 2007 e 2014. O “doleiro” ri da imputação: “Como eles podem ter provado que eu lavei tanto dinheiro, se eu fui condenado por uma lavagem de R$ 460 mil num das sentenças?”, questiona.
 
“Cadê o restante do dinheiro? Cadê essas lavagens, onde estão? Por que talvez a mídia não foca um pouco mais nessas questões de pegar um processo e perder um pouco mais tempo para dar uma analisada”, sugeriu ao UOL.
 
Os R$ 460 mil, segundo a PF, seria o montante que Chater teria lavado para um traficante. Ele nega e diz que a acusação não conseguiu levantar provas disso. Quem teria criado um elo que justificasse a sentença por lavagem foi o juiz Sergio Moro. “Foi uma condenação completamente injusta. Acho que o Brasil está combatendo ilegalidades com outras ilegalidades”, comentou. 
 
“Eu entendo a sanha por Justiça. Mas não devemos, como se diz por aí, fazer Justiça com as próprias mãos. Eu acho que a Lava Jato, em princípio, começou co, esse foco.”
 
No total, Moro – que manteve a prisão preventiva por 570 dias – condenou Chater em duas ações que somam 9 anos e 9 meses de prisão, referendados em segunda instância. Ele cumpriu 1 ano e 7 meses em regime fechado e mais 1 ano no semiaberto. Já está, inclusive, operando o Posto da Torre.
 
No segundo processo, Chater foi acusado de lavar dinheiro para Alberto Youssef, com quem admite ter uma amizade de muitos anos, mas nega a imputação na Lava Jato.
 
Segundo ele, a força-tarefa só conseguiu apresentar essa acusação porque forçou a delação premiada de um ex-gerente do posto que ficou preso preventivamente por muito tempo, sem nenhuma perspectiva de deixar o cárcere sem fazer um acordo de cooperação. No final, o ex-gerente, segundo Chater, “inventou uma história, não conseguiu provar e a delação não foi homologada. Foi o desespero de um cara que estava preso. Esse é o modus operandi da Lava Jato: minar o cara que está la dentro para falar até o que ele não fez. […] Está de combatendo ilegalidade com outro ilegalidade”, repetiu.  
 
Moro, por sua vez, também teria decidido descartar depoimentos que eram a favor do réu, como o de Alberto Youssef afirmando que não havia usado o posto para lavar dinheiro. “(…) das duas, uma: ou ele mentiu e toda a delação dele deveria ser descartada, ou ele falou a verdade e o juiz não levou em consideração”, disparou.
 
Quando questionado porque Sergio Moro faria isso, Chater respondeu que o juiz estava comprometido com o sucesso da operação a qualquer custo. “(…) Como é que pode ser absolvido o cidadão que deu origem à Lava Jato? Talvez isso tenha pesado e talvez eles tenhama chado que uma eventual absolvição fragilizaria a Lava Jato.”
 
AMEAÇA DO DELAGADO
 
A ameaça feita a Chater pelo delegado Márcio Anselmo teria ocorrido quando o dono do posto estava preso por suspeita de ter lavado R$ 460 mil para um traficante. Ele nega conhecimento do caso, mas afirmou que o delegado usou isso para força uma delação.
 
“O delegado disse que me envolveria com o narcotráfico, que eu ficaria mais de 20 anos na cadeia e ele me livraria em uma semana, caso eu dissesse quem era os agentes públicos ou os políticos que recebiam [propina] aqui [no Posto da Torre]. Eu disse a ele que, em primeiro lugar, eu fui monitorado por 8 meses oficialmente – mas fora da questão oficial eu com certeza fui monitorado por muito mais tempo -, e ele não teria indício de tráfico de droga. Inclusive, dentro das celas da Polícia Federal nós localizamos uma escuta ambiental, que na época o juiz disse que não tinham autorização de colocar. Existem muitas coisas que aconteceram nos bastidores dessa operação que eu diria ilegais, imorais, que ninguém sabe ou que pelo menos ninguém quer dar ouvidos”, disparou.
 
“Quando nós localizamos a escuta ilegal mabiental que estava nas celas, abriram uma sindicância e quem estava cuidando era o delegado responsável pelas investigações da Operação Lava Jato. Isso é uma piada, né?”, ironizou.
 
“Como o delegado Márcio Anselmo (que deixou a Lava Jato em 2017) viu que eu não faria delação e não teria quem entregar, depois de várias tentativas, de insistências, de ameaças, ele disse que mandaria para o presídio. No dia seguinte eu fui para o presídio [de São José dos Pinhais]”, acrescentou.
 
Segundo o UOL, o delegado Anselmo não se manifestou sobre a reportagem.
 
Leia o texto, na íntegra, aqui.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

16 Comentários

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  1. Foi só o começo.

    Inacreditável. 

    Vai ficar só na reportagem, senão a lava jato cai amanhã mesmo.

    Que desgraça! E deram o golpe. Golpistas de gravata e pagos com nosso tutu. 

    Depois do golpe, o caos. 

    1. Esquema pra ganhar dinheiro !
      Concordo que é uma quadrilha e acho que montaram uma das bens grandes, dedicada a extorsão, com um ‘modus operandi’muito articulado: induz delação com prisão prolongada, vai pra cima de delatados ricos q contratam advogados pra negociar delação- a peso de ouro – faz delação, pega tornozeleira e fica na mansão…o advogado reparte a grana com quem “de direito”…MUITO EFICAZ!

  2. QUE BICHO MORDEU A REDAÇÃO DO UOL?

    Uai .. resolveram praticar o jornalismo?  Finalmente escreveram uma matéria. Hum .. Será que o Otavinho e sua redação descobriram, finalmente, o jornalismo investigativo? Hummmm … O tempo todo na matéria o Sr Carlos Habib Chater diz para o repórter: “olha se a imprensa quisesse ir mais a fundo … se a imprensa fosse levantar tais informações” … Resumindo: disse o entrevistado para o repórter do UOL: “se a mídia não fosse tão vagabunda no que tange a fazer jornalismo. Se fosse Investigativa.. Se o jornalismo tivesse a ‘mania de Ir a fundo’ muita coisa seria descoberta nesta lavajato”. pois é!

  3. Circo dos horrores

    O pior bandido é o que está agindo em nome da Lei e  do Estado . Por que ele é duplamente criminoso : pelo crime em si e por ludibriar moralmente aqueles  em nome dos quais atua . O Estado não tem o Direito de transgredir por que ele é uma das fontes senão a principal fonte da Justiça.

    Mas na justiça de moro ( com minúsculas mesmo ), isso é conversa de bar. Vale o ”  manda quem pode , obedece quem tem juízo “!

    Legal mesmo é aquela foto do moro dobrando a espinha , com sorriso de servidão,  estendendo a mão ao golpista- ladrão !

    Ou então a outra, todo sorrisos , cochichando segredos de polichinelo com o Mineirinho !

    Quando a Globo fizer minissérie, daqui alguns anos ,sobre os dias de hoje,   pelo menos poderemos apontar alguns fatos nebulosos …..

  4. E ainda há quem diga que o

    E ainda há quem diga que o pessoal envolvido nessa operação deseja punir corruptos.

    Quanto à questão do moço, “por que talvez a mídia não foca um pouco mais nessas questões de pegar um processo e perder um pouco mais tempo para dar uma analisada” a resposta é evidente: é que o que ele chama de “mídia” são pessoas que têm firmas através das quais participam ativamente do golpe. Como o Boilesen usou a sua firma, Ultragaz. E tenha certeza de que jamais essas pessoas, donos das firmas, levariam o seu depoimento a público se a operação não tivesse acabado atingindo a turma dos golpistas. É óbvio que Otávio Frias e turma estão tentando criar um clima de estabilidade política para tentar conter as pessoas que estão inconformadas com o estado de exceção.

    Tomara que as pessoas inconformadas não se deixem enganar, que continuem inconformadas e na luta pelo estabelecimento de uma nova ordem democrática, inclusive punindo os que participam desse golpe, mídia, congresso, executivo e principalmente judiciário.

  5. Temer, Numa Boa, Dilapida Que Nos Resta de Patrimônio e Estima

    Antes do previsto, ainda pulsante em pleno estancamento final, o quase cadáver da operação Vaza Jato começa ser dissecado pelo começo, o Posto da Torre, por seu dono e primeiro prisioneiro da Farsa das Araucárias, a meter o bisturi e fazer saltar as primeiras intestinas partes dessa anomalia jurídica-midiática que desmoronou a democracia com o golpe aplicado no governo constitucionalmente eleito, que implodiu a economia e detonou nossas empresas da construção pesada, da industria naval e a Petrobras, sem contar mergulhar, a justiça e a mídia no lamaçal do descrédito e o País, exangue, no atraso e na desigualdade, limítrofes da Terra do Nunca & do Jamais.

    Vergonhoso, nós brasileiros vermos esfregado nas nossas caras, a escritura registrada das bandidagens que esses profissionais andaram e andam a fazer com o nosso país, sem darmos um pio, sem esboçarmos a menor reação, enquanto um boçal e botoxado mordomo de vampiro, alçado a condição de presidente golpista, dilapida e demole, o que nos resta de garantias, patrimônio e estima.      

    1. temer….

      40 anos de Redemocratização. 30 anos de Constituição Cidadã. 30 anos de bandidos e farsantes. O Brasil é surreal. A culpa agora é da Justiça?! A culpa por 30 anos de farsa de Estado, agora é de JBS? 30 anos de rombos e assaltos ao INPS, até os anos de 1990,não eram culpa de bandidos como Mário Andreazza ou ACM. Foi da advogada “porta de cadeia”, periferia da periferia do Rio de Janeiro, Jorgina de Freitas.  E ainda queremos justificar nossa mediocridade?!!! O Brasil se explica. 

  6. Cenário Social e Político do Brasil

    Nassif: aos poucos a verdade vem a tona. Mas, a esta altura dos acontecimentos, os corruptos do Legislativo, estimado em 7/10 do Congresso, a quase totalidade do Executivo (especilamente 90% do atual governo) e o enrustido Judiciário, que aà esta altura do campeonato já garfaram seus quinhões, vão escapando de fininho.

    E a grande mídia, com grandes pagas, só vai enchendo a burra de grana…

  7. Nenhuma novidade, para quem lê Marcelo Auler

    Quem lê as reportagens de Marcelo Auler sabe que a SR-DPF/PF, como de resto toda a Fraude a Jato, constituem uma ORCRIM institucional. O que foi exposto nesta matéria do UOL – cheia de erros de edição e digitação – está muito mais bem apurado e narrado na série histórica produzida por marcelo Auler, que lhe rendeu perseguição e processos judiciais, por parte dos delegados criminosos da Fraudea Jato curitibana.

  8. NUNCA vi tanto arbítrio 
    A

    NUNCA vi tanto arbítrio 

    A CCJ do Senado aprovou projeto de lei que irá punir Juíz que desrespeitar direito de advogados (não ouvi nada sobre desrespeitar e acuar o cidadão paisano)

    ..mesmo assim  ..mesmo assim não é coisa pra comemorar pro Brasil de hoje, afinal, a lei precisaria ir a plenário, e depois {a Camera e sanção presidencial

    E quem pensa que com uma lei dessas acabamos por pegar estes MAGISTRADOS GOLPISTAS ..esquece ?!

    a lei não retroage  ..e até ficar ativa, figuras como S.Moro e sua DEZENA de crimes, ou os descalabros e desmandos dum Agilmar Mentes já terão escapado  ..ficando pra sociedade um estrago danado que, com sorte, levará umas duas décadas pra arrumar

     

     

  9. “ESSA PORRA”, a SURUBACRACIA,

    “ESSA PORRA”, a SURUBACRACIA, a República dos MIL TEMERS, é um trem desgovernado rumando em direção a um abismo. No comando da locomotiva, um desgraçado chamado Michel Temer; Na primeira classe, o Supremo Tribunal Federal e todo o Poder Judiciário junto ao Congresso Nacional, Mídia, Classe Empresarial e Militares das Três Armas. Na segunda classe para baixo, os sem voz, sem rosto, o povão. Irresponsavelmente acreditando nos de cima, achando estar no mundo perfeito. Quando tomarem ciência do que os aguardam, o trem já desceu abismo abaixo, com todos os seus ocupantes.

  10. Coitadinho

    Coitadinho do doleiro…

    Tão pequeninho e inocente…

    Essa gentalha da esquerda caga sangue ao defender bandidos e facínoras da pior espécie.

  11. São os tempos excepcionais.

    Esta é uma frase tucana, para regime de exceção. Na verdade todos sabemos de tudo isto, e tudo isto virá a tona, talvez, não pelos bons motivos, mas com certeza virá a tona.  A Lava Jato, está cada vez mais encalacrada com as falsas estórias que criou. O que me atormenta é que não sou eu o único a saber disto tudo. Talvez todos já desconfiem disto há muito tempo. Mas em tempos de pós verdade, este testemunho, assim como tantos outros, assim como os presos politicos da Lava Jato, simplesmente jamais existiram. plim-plim!!

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