Enciclopédia do Golpe: PF e o viés político na Lava Jato, por Marcelo Auler

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Marcelo Auler

Na Enciclopédia do Golpe, Volume I, (Editora Praxis, 288 páginas, R$ 60,00) por iniciativa do Instituto de Defesa da Classe Trabalhadora – DECLATRA, cujo lançamento ocorre nesta quinta-feira (30/11), na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, ao editor deste Blog foi pedido um verbete sobe a Polícia Federal no golpe que ajudou a derrubar a presidente eleita Dilma Rousseff, em 2016.

No trabalho, que se estende por 21 páginas do livro, a ideia foi demonstrar o foco político que a Operação Lava Jato teve desde seu início. Nem podia ser diferente. Ela é fruto do chamado Processo do Mensalão.

Embora seus “operadores”, da chamada “República de Curitiba” insistam em dizer que o foco inicial fora as operações de quatro grupos distintos de doleiros, os próprios inquéritos existentes mostram que o foco era sim operações de câmbio e de lavagem de dinheiro envolvendo deputados. Não foram explícitas para que não fossem desviadas para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Um questionamento que chegou a ser levantado por alguns defensores, mas que no próprio STF foi sepultado garantindo o foro à Justiça Federal do Paraná. O desenrolar dos fatos, porém, demonstram que o foco político sempre existiu. São vários exemplos, que a0o longo dos últimos dois anos foram surgindo. Muitos deles documentados, como demonstramos no texto que conta da enciclopédia, cujas 12 primeiras páginas do artigo reproduzimos abaixo:

“Ao deflagrarem a Operação Lava Jato, em 17 de março de 2014, os policiais federais do Paraná podiam não ter noção  completa do que provocariam na política brasileira. Embora, oficialmente, as informações sobre a investigação girassem em torno 

de um núcleo de doleiros e a lavagem de dinheiro que faziam – muitos deles personagens de tramas criminais anteriores -, o foco dos chamados operadores da Lava Jato já se voltava para o mundo político. Mais especificamente, para os governos petistas e seus “aliados”.

Alguns fatos, revisitados três anos e meio depois, confirmam a tese. A doleira Nelma Mitsue Penasso Kodama, primeira a ser presa no aeroporto de Guarulhos (SP) com 200 mil Euros na calcinha ao tentar embarcar, em um sábado (15/03/14), para Milão (Itália), denunciou a pressão que sofreu na carceragem da Superintendência Regional da Polícia Federal no Paraná (SR/DPF/PR).

O fez mais de um ano depois, é verdade, em maio de 2015. Mas foi um depoimento espontâneo de como funcionava o jogo de pressão na Polícia Federal, pela chamada Força Tarefa da Lava Jato (FTLJ), e do foco da operação desde o início. O interesse era “os políticos”.

Para tal, os presos foram “alertados” (ameaçados?) de verem as “prisões preventivas” se perpetuarem; também servia como pressão a ameaça de transferência para penitenciárias. Colaboradores, desde que naquilo que interessasse aos agentes da FTLJ, permaneciam em melhores condições na custódia da SR/DPF/PR.

“Ele (o cliente, Alberto Youssef) está na praia, enquanto os demais estão no mar se debatendo com os tubarões”, definiu certa feita o advogado Antônio Augusto Lopes Figueiredo Basto, sobre as condições de prisão do doleiro na custódia da SR/DPF/PR, após fazer a delação premiada. Ele tinha direito a geladeira e até TV na cela, ao contrário dos demais.

Foi através de um bilhete ao desembargador João Pedro Gebran Neto, relator das apelações do caso Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) com jurisdição sobre os três estados do Sul do país, que Nelma revelou a pressão sofrida ao entrar na custódia:

“Quando cheguei à Superintendência da Polícia Federal de Curitiba, fui ouvida pelo delegado Márcio Anselmo, os procuradores Deltan Dallagnol e Orlando Martelo, os quais me perguntaram: A senhora tem algum político, ou negócio com tráfico de Drogas? Algum fato novo? Porque se a Sra. só tiver operaçõezinhas com chinesinhos não é do nosso interesse” (sic)”

Bem antes de Nelma relatar essas pressões os sinais de que a Polícia Federal daria à Operação Lava Jato conotação política apareciam nos jornais. Notadamente naqueles que se tornaram “porta-vozes dos vazamentos” ilegais de informações sigilosas.

Eram hipóteses, suposições, conjecturas. Tudo noticiado como se já se tratasse de verdades confirmadas. Um jogo de mobilização da opinião pública em torno da tese principal: com o petismo surgiu e ganhou corpo a corrupção.

Nesse jogo, valia mais a notícia do que os fatos do processo em si.

Um exemplo surgiu em 21 de março de 2014, dois dias após a deflagração da Operação (19/05). O site de O Estado de S. Paulo alardeou as suspeitas em torno de um contrato da Labogen S/A Química Fina, empresa de propriedade de Leonardo Meirelles, com o Ministério da Saúde, em 2013. Na empresa também havia digitais do doleiro Alberto Youssef, outro dos presos na operação.Tudo relacionado à gestão de Alexandre Padilha. Àquela altura, ele já não era ministro, mas pré-candidato a governador de São Paulo.

Em 22 de março, o ataque continuou: “PF põe foto de Padilha nos autos da operação Lava Jato”, noticiou o jornal paulista. A própria reportagem, porém, informava:

“A PF não faz nenhuma acusação a Padilha, pré-candidato ao governo de São Paulo pelo PT, mas à página 134 do documento junta a foto em que ele aparece durante a assinatura de contrato no âmbito da Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP).

Continue lendo aqui.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

1 Comentário

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  1. Pode ser a gota d’água…

    Todos os grandes eventos históricos de mudança são precedidos de atos que passam a unir

    os que estavam separados e ultrapassam a barreira do seguro, do sensato.

    Essa reforma trabalhista acordou muita gente…

    É o evento “Gota d’água” quando transborda e perde-se toda paciência e não se vê mais chances de retorno ao que não existe mais…

    Estamos vivendo este pré-clímax no qual a vontade do povo vai impor sua vontade, resta

    saber de onde vira esta última gota d’água.

    o judiciário se encarregou de por fogo e deixar queimando todos os caminhos.

    Qual será a gota d’água desta vez?

    Teremos este evento da perda de paciencia?

    A história é cheia de eventos assim!

    São transformadores…

     

    A Gota d’água na Independência dos EUA:

    “Logo após a Guerra dos Sete Anos, começou a crescer nas colônias britânicas na

    América um sentimento de descontentamento com a metrópole, baseado em

    diferenças filosóficas e políticas exacerbadas com o azedamento dos laços entre

    a Coroa e os povos da colônia. Após a introdução da Lei do selo de 1765, os

    Patriotas (como se chamavam os americanos pró-independência) protestaram

    contra a ideia de “taxação sem representatividade” e iniciaram boicotes contra os

    ingleses; um grupo conhecido como “Filhos da Liberdade” acabaram destruindo

    um carregamento de chá no ancoradouro de Boston. O governo britânico

    respondeu fechando os portos da cidade e passou medidas punitivas contra

    Massachusetts. Os colonos, por sua vez, instituíram as “Resoluções de Suffolk”,

    estabelecendo um governo paralelo para tentar tirar dos ingleses o controle das

    áreas fora da cidade de Boston. Representantes das colônias americanas

    estabeleceram então o Congresso Continental para coordenar os esforços de

    resistência e estabelecer comitês e convenções para efetivamente tomar o poder.”

    fonte:

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_de_Independ%C3%AAncia_dos_Estados_Unidos

     

    A Gota d’água da Independência do BRASIL:

    “Antecedendo o processo de independência do Brasil, mas com fortes influências

    sobre o mesmo, ocorre a transferência da corte portuguesa para o Brasil. Em

    1807, o exército francês invadiu o Reino de Portugal, que se recusava a se juntar

    ao bloqueio continental contra o Reino Unido. Incapaz de resistir ao ataque, a

    família real e o governo português fugiram para o Brasil, que era então a mais

    rica e desenvolvida das colônias lusitanas.[1][2] A instalação do Tribunal de

    Justiça no Rio de Janeiro traz uma série de transformações políticas, econômicas

    e sociais que levam à decisão do Príncipe Regente D. João, consumada em 16 de

    dezembro de 1815, de elevar o Brasil à condição de reino, unido com sua ex-

    metrópole. Porém, em 1820, uma revolução liberal eclodiu em Portugal e a família real foi

    forçada a retornar para Lisboa. Antes de sair, no entanto, D. João nomeia o seu

    filho mais velho, D. Pedro de Alcântara de Bragança, como Príncipe Regente do

    Brasil (1821). Fiel ao seu pai, o príncipe-regente vê sua condição complicada pela

    vontade política das cortes portuguesas em repatriá-lo e de retornar o Brasil ao

    seu antigo estatuto colonial. Oficialmente, a data comemorada para

    independência do Brasil é a de 7 de setembro de 1822, em que ocorreu o

    chamado “Grito do Ipiranga”, às margens do riacho Ipiranga (atual cidade de São

    Paulo). Em 12 de outubro de 1822, o príncipe foi proclamado imperador pelo

    nome de Pedro I e o país leva o nome de Império do Brasil.”

    fonte:

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Independ%C3%AAncia_do_Brasil

     

    A Gota d’água – Primeira Guerra Mundial:

    “Entre as causas da guerra inclui-se as políticas imperialistas estrangeiras das

    grandes potências da Europa, como o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro,

    o Império Otomano, o Império Russo, o Império Britânico, a Terceira República

    Francesa e a Itália. Em 28 de junho de 1914, o assassinato do arquiduque

    Francisco Fernando da Áustria, o herdeiro do trono da Áustria-Hungria, pelo

    nacionalista iugoslavo Gavrilo Princip, em Sarajevo, na Bósnia, foi o gatilho

    imediato da guerra, o que resultou em um ultimato da Áustria-Hungria contra o

    Reino da Sérvia.[7][8] Diversas alianças formadas ao longo das décadas anteriores

    foram invocadas, assim, dentro de algumas semanas, as grandes potências

    estavam em guerra; através de suas colônias, o conflito logo se espalhou ao redor

    do planeta.”

    fonte:

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_Guerra_Mundial

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