Federalizada a apuração das mortes de líderes de trabalhadores rurais em Rondônia

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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O STJ  acolheu pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) feito em setembro de 2019 e o MPF/RO assume seis inquéritos relativos às mortes

Mulheres Sem Terra denunciam programa Titula Brasil e privatização dos assentamentos, em São Paulo. Foto: Comunicação MST Pontal do Paranapanema (SP)

A decisão de federalizar a apuração das mortes contra líderes de trabalhadores rurais, e outras pessoas que denunciaram grilagem de terras e exploração ilegal de madeira em Rondônia, foi tomada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) na última quarta-feira (23). 

O STJ  acolheu pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) feito em setembro de 2019, por meio do Incidente de Deslocamento de Competência (IDC) 22. Até então, os crimes eram investigados pelas autoridades estaduais. O Ministério Público Federal (MPF) atuará em seis inquéritos. 

Os inquéritos federalizados se referem às mortes de Renato Nathan Gonçalves, Gilson Gonçalves, Élcio Machado, Dinhana Nink, Gilberto Tiago Brandão, Isaque Dias Ferreira, Edilene Mateus Porto e Daniel Roberto Stivanin. 

“As vítimas eram, em sua maioria, lideranças de movimentos em prol dos trabalhadores rurais e responsáveis por denúncias de grilagem de terras e de extração ilegal de madeira”

Explica em nota o MPF de Rondônia.

Rondônia é, atualmente, o segundo estado com o maior número de mortes relacionadas à luta por terras, perdendo apenas para o Pará, diz o MPF. Entre 2015 e 2016, o estado chegou a estar no topo do ranking, contribuindo para a liderança mundial do Brasil em mortes no campo.

Morosidade suspeita

Ao defender a transferência das investigações para o âmbito federal, o MPF alegou que os crimes, muitas vezes resultantes de extrema violência e prática de tortura, decorrem do grave conflito agrário instalado no Estado de Rondônia. 

O órgão demonstrou ainda que, além de morosas, as investigações locais foram inconclusivas e insuficientes para punir os responsáveis, seja pela corrupção de agentes públicos ou pelo sucateamento dos instrumentos de segurança pública e investigação do Estado.

“Tal cenário demonstra a incapacidade da esfera estadual em oferecer resposta pronta, efetiva e eficaz aos crimes, com sério risco de responsabilização perante a comunidade internacional protetiva de direitos humanos. Além disso, o órgão chamou atenção para a existência e o desenvolvimento de organizações criminosas que atuam em benefício de grupos mais fortes, visando a manter o controle sobre as terras”, diz trecho da nota.

Na decisão do STJ, está como motivo para federalizar “a grave violação de direitos humanos, a possibilidade de responsabilização do Brasil em razão de descumprimento de obrigações contraídas em tratados internacionais e a incapacidade de órgãos locais darem respostas efetivas às demandas”.

Medida excepcional 

Conforme a PGR, a “federalização de crimes pode ser considerada exceção no mundo jurídico e exige provas da incapacidade das autoridades locais e risco concreto de impunidade”. 

Além da tentativa de garantir investigação mais eficiente para que ilícitos sejam esclarecidos, e seus eventuais autores julgados e punidos, a PGR explica que a atuação dos órgãos policiais e judiciários da União pode prevenir a responsabilização do Brasil nas cortes internacionais.

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