Janio de Freitas: Lava Jato permite que delator compre liberdade com dinheiro roubado

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Em artigo na Folha, neste domingo (9), o jornalista Janio de Freitas criticou o acordo que os procuradores da Lava Jato pretendem fechar com Renato Duque. Após delatar Lula e abrir mão de uma fortuna escondida no exterior, Duque negocia uma sentença de cinco anos para crimes que somariam oito décadas de condenação. “Deem o nome que derem, o que Renato Duque faz é comprar e pagar liberdade com dinheiro que não lhe pertence e embolsou em corrupção”, disparou Janio.
 
No mesmo artigo, o colunista avalia que a saída da Polícia Federal da força-tarefa de Curitiba, além de mostrar a força do ministro da Justiça Torquato Jardim, funcionou como um recado ao Supremo Tribunal Federal sobre o papel da Procuradoria nos acordos de delação.
 
Por Janio de Freitas
 
Difícil convivência de Procuradoria e PF vem de sobreposição de funções
 
Na Folha
 
Depois de tantas ideias frustradas no Congresso contra investigações de deputados e senadores, a Lava Jato implodiu sozinha. Com pretexto proveniente da menos pressentida origem: o Supremo Tribunal Federal. Entre as causas reais, a disputa de poder prevaleceu. Mas a mão do governo Temer agiu sob a mesa do novo ministro da Justiça, Torquato Jardim. Como complemento, não é a única alteração esperável nos órgãos e leis do ataque à corrupção.
 
A difícil convivência de Procuradoria da República e Polícia Federal vem de longe, decorrente de certa sobreposição de funções. Começou a agravar-se com a reivindicação dos delegados da PF de equivalência salarial a procuradores e juízes. No convívio da Lava Jato, as diferenças ficaram face a face. Acentuadas por justo ressentimento dos policiais: na sua ânsia promocional, o juiz Sergio Moro e os procuradores faturam com exclusividade todo o prestígio da Lava Jato, mal restando referência senão ao “japonês da federal”, no contingente ativo de uma centena de delegados, agentes e técnicos da PF.
 
Ano passado, já governo Temer, começou a redução do número de delegados. Os quatro restantes deixam agora a Lava Jato e passam à Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas (Delecor), à qual fica atribuída a parte policial da Lava Jato e da Carne Fraca, a dos frigoríficos. Incumbido de explicar a modificação, o polêmico delegado Igor Romário de Paula, um dos quatro transferidos, negou tanto a influência da escassez de verbas da PF, como determinação de Brasília. Não lhe cabem, porém, nem a qualquer outro em Curitiba, poderes para dissolver um Grupo de Trabalho da PF. E, menos ainda, para lotar delegados em tal ou qual delegacia. Esse poder é de Brasília. Do Ministério da Justiça, pela direção da PF posta em risco sob o recém-ministro Jardim.
 
A alegada “redução de serviço” também não se sustenta. Além de dezenas de inquéritos em marcha lenta, só as delações da Odebrecht esperam no mínimo três dezenas de inquéritos nem iniciados ainda. Sem falar nos estoques que Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, dois grandes armazéns de biografias alheias, estariam na iminência de dar como pagamento da liberdade. Não a proclamada pelo direito, de ir e vir. Só a de ir.
 
Vozes da Lava Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima e Deltan Dallagnol reagiram à partida da PF com sua dramatização habitual: “a Lava Jato deixa de existir”. Oh, céus! Haverá alguma perda de experiência, se na tal Delecor designarem novos delegados para casos em curso. Não é tão mau o afastamento, porém: todos juntos formaram uma panelinha política, que já levou até a delegados tornarem pública sua adesão a Aécio Neves. E o que importa não é lotação de delgados, é que a PF cumpra sua função com a competência comprovada.
 
A versão carioca da Lava Jato não tem ou teve força-tarefa. O nosso pasmo com Sérgio Cabral se deve à associação eficiente de Polícia Federal, Ministério Público e a coragem do ameaçado juiz Marcelo Bretas. Simples, quase silenciosa, uma forma de ação que ocorre, com menor escala, também em Brasília, com o juiz Vallisney Oliveira, da prisão de Geddel Vieira Lima.
 
Ao desligar-se da Lava Jato, a PF dá sua resposta à decisão do Supremo, sem aparente ligação com os policiais, de que os acordos de delação premiada não são reconsideráveis por tribunais, exceto em descumprimento pelo delator. Com isso, reconheceu aos procuradores o poder exclusivo de negociar benefícios com por delação. Poder que os delegados pretendiam possuir também.
 
Mas a celebrada exclusividade dos procuradores é precipitada. Ainda sem projeto, e no entanto conversada, é bem recebida entre senadores a presença obrigatória de um magistrado na condução dos acordos com delatores. Faz sentido, porque os acordos incluem negociação de penas, e sentenças são um poder estrito des magistrados.
 
Agora mesmo, Renato Duque fez acordo para cumprir apenas cinco anos de oito décadas de condenação, por devolver R$ 76 milhões. Deem o nome que derem, o que Renato Duque faz é comprar e pagar liberdade com dinheiro que não lhe pertence e embolsou em corrupção.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

13 Comentários

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  1. Tem comissão?

          Estes acordos , feitos longe dos holofotes , e acobertados pelo sigilo de justiça, coloca a todos ,dedos duros e e intermediarios sob forte suspeita. Ou não? Será ali,e tão sómente ali,que não vai rolar um pichuleco? Alguem acredita ?

  2. Caos à brasileira.

    A situação do Brasil é tão crítica que já não sabemos mais a quem governa o país. O que me parece que essa situação desse fica não fica do Temer estva mais do que ensaiada. Isso não passa de um jogo de xadrez para a sua permanencia. . A esquerda liderada pelo PT está mais perdida que cego em tiroteio. Mãe Joana deve estar preocupada com tamanha zorra que virou o país.

  3. Na mosca o mestre Janio de
    Na mosca o mestre Janio de Freitas.Equivalem a uma nota de $ 3 tres reais esses bla bla bla e nhem nhem nhem desses Delegados calhordas porque calhordas sao.Deixou de observar o nosso mestre que essa montanha de dinheiro roubados,devolvidos via delacoes premiadas,nao termina com a devolucao aos cofres publicos.Seria ate ingenuidade imaginar que um bom percentaual deles,nao ficam em maos de verdadeiras fabricas camufladas sob a egide de escritorios de Advocacia,montados exclusivamente para essa finalidade,tomando dai caminhos de enderecos que nao se exigiriam muito esforco de se se descobrirem onde eles estao homiziados.

    1. Sei não. Pode ser até um

      Sei não. Pode ser até um aleive, mas acho

      que o Moro leva algum por fora.

      Isso vai ter que ser apurado direitinho para

      deixar os “direitões” pendurados na brocha.

  4. Ou seja, no mundo inteiro, o
    Ou seja, no mundo inteiro, o crime não compensa. Mas como o Brasil parece não fazer parte do mundo inteiro, aqui compensa.
    Parece que esse nosso triste país está assumindo novo protagonismo no mundo, o de exterminador de lugares comuns. Porque, com a substituição de Temer por Maia, vamos mostrar ao “mundo inteiro”, que existe poço sem fundo.

  5. Desde aquela palhaçada

    Desde aquela palhaçada coercitiva do presidente Lula que a lava jato perdeu a credibilidade. Quem quer aparecer diante dos holofotes da mídia golpista entra pra história, só que sem brilho e brio…

  6. MÁFIA FHC CLINTON! ESGOTO A CÉU ABERTO DESDE 2002!!!

    Bom dia a todos os não golpistas, e aos golpistas desejamos que vão tudo sifudê!

    O que é mais mérda: um delator que compra sua liberdade com dinheiro roubado, ou um indivíduo que colabora com os assassinos da folha da família frias?

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  7. O golpe faliu.

    É só mais uma tentativa de fugir do pagamento da conta. Mas trão que pagar, é inexorável.

    O golpe já faliu.

    O golpe falhou e os golpistas têm contas a pagar, embora impagável pelo tamanho.

    Um simples balanço do que custou ao país este golpe bandido já os condena.
    Comprometeram o que é legal, rasgaram a constituição, destruiram a engenharia nacional, deram um enorme baque na petrobrás, destruiram o projeto do submarino atômico, destruiram o prestígio do país no exterior, entregaram o país, derrubaram os programas sociais e leva o país à fome novamente, e por fim destruiram nossa economia que com eles não tem a mínima condição de recuperação e nos deram um prejuiso que hoje (vai crescer) deve chegar ao trilhão de dólares.

    Até na segurança pública que já era ruim no governo pt, embora a responsabilidade fosse maior dos estados, conseguiu ser muitissimo pior. 

    Não adianta fingir, agora é hora dos golpistas pagarem a conta do enorme estrago feito.O golpe falhou e tem conta apagar.

     

  8. Vamos roubar. Se a casa cair e formos condenados…

    Vamos roubar, Gente. Se a casa cair e nós formos condenados, compramos nossa liberdade com o produto do roubo.

    Vamos também dar palestras sobre assuntos referentes à nossa função pública. Se essas palestra$ se tornarem públicas, a gente doa a grana para entidades pilantrópicas.

  9. Insucesso na busca de prova leva Moro.

    Nobre jornalista, com todo respeito ao seu trabalho, percebi que seu comentário sobre a sentença de Moro na condenação de Lula “dizem mais do juiz do que do acusado” é exatamente igual ao que disse Frei Betto há 15 dias. Então, pelas normas práticas e éticas, o sr. não deveria ter citado que este pensamento é de Frei Betto? Ou ele ter citado que é do sr.? Ocultação de patrimônio se faz usando nomes de terceiros para aquisição de bens. Moro foi muito feliz ao comparar a situação de Lula ao que disse Eduardo Cunha: “as contas do exterior não são minhas, mas eu tenho usufruto”. Esse tipo de coisa só é aceito por pesssoas sem qualquer discernimento. Embora, Lula tenha surgido no movimento sindical como uma liderança política e tenha representado a esperança do povo brasileiro, não tem como fechar os olhos ao que foi feito. O juiz não pode ser um czar (palavras de Lula), mas os políticos podem ser corruptos? Podem roubar na proporção que roubaram que há farta comprovação do envolvimento desse dream team. Zé Dirceu recebeu propina enquanto estava preso. Palloci, está na cadeia; Renan e Jucá denunciados; Temer gravado. Loures pego com R$ 500 mil numa mala; Lula com um sítio em nome de terceiros sem uma sombra sequer da presença dessas pessoas por lá e tudo da família dele. Paciência. Quero só dizer que fui filiado ao PT, mas sai há muito tempo. Veja dos fundadores do PT quem ainda está por lá. abs

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