Janot diz ter medo e assimila possível derrota contra Temer

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Os áudios que Joesley Batista entregou à Procuradoria-Geral da República (PGR) não apenas trazem riscos ao acordo de delação do dono da JBS, que insiste na tese do envio proposital do arquivo, como também levantam dúvidas contra os próprios investigadores e a forma como a Lava Jato vem sendo conduzida pelos procuradores no Supremo Tribunal Federal (STF).
 
Diante deste contexto, antes mesmo que os áudios escancarassem a quem interessa e a quem não interessa seu uso e credibilidade judicial, o procurador-geral Rodrigo Janot discursou em tom de insegurança e visível tentativa de auto-defesa da sua instituição: “Na verdade, o que eu tenho é medo. E o medo nos faz alerta. E medo do quê? Medo de errar muito e decepcionar minha instituição”, afirmou.
 
A fala de Janot insere-se em uma tentativa de adquirir empatia junto a um investigador que supostamente apenas faria o que acredita ser melhor para a sua instituição. Entretanto, quais motivos levariam o procurador-geral a necessitar justificar comportamentos, se ele tem ou não coragem, se tem ou não medo? A iminente ameaça de romper a credibilidade do Ministério Público Federal (MPF).
 
O discurso ocorreu nesta terça (05), durante a sessão do Conselho Superior do Ministério (CNMP), do qual também é presidente e vem se despedindo junto com o fim do mandato na PGR, no próximo 17 de setembro. Nesta segunda, ele havia determinado a abertura de investigação para apurar se houve omissão de crimes e informações no já fechado acordo de delação dos executivos da J&F.
 
Ainda que sem ter início as apurações, como o GGN indicou, o procurador tratou de dar seu recado forte, diante das acusações que viriam à tona horas depois, incluindo membros do Judiciário e da força-tarefa da Lava Jato: disse que se caracterizada a omissão, os irmãos Batista e outros delatores podem ter os benefícios do acordo cancelados.
 
Leia mais: Temer conquista vitória na estratégia de anular delações
 
“Eu agi com muita coragem e ontem [segunda] foi um dos dias mais tensos e um dos maiores desafios desse período. Alguém disse pra mim: ‘Você realmente é um homem de muita coragem’. Aí eu parei e pensei: ‘Será que sou um homem de coragem mesmo?’ Cheguei à conclusão de que não tenho coragem alguma”, disse, transparecendo o claro receio.
 
Em seguida, corrigiu as palavras aos colegas do CNMP, tentando retomar o teor de “controle”: “Na verdade, o que eu tenho é medo. E o medo nos faz alerta. (…) E todas as questões que eu enfrentei, eu enfrentei muito mais por medo, medo de errar, medo de me omitir, medo de decepcionar minha instituição do que por coragem de enfrentar esses enormes desafios”.
 
As palavras não seguiram a linha de uma “autocrítica”, como divulgaram os jornais sobre as falas. Mais como “autodefesa” do que viria com a exposição dos novos áudios de Joesley Batista, que Janot tem consciência de que podem colocar à perder as principais acusações que sustentam as denúncias contra Michel Temer. 
 
Até então, o procurador-geral vinha somando esforços para não tirar a credibilidade das delações dos irmãos Batista, que acusaram Temer e sua cúpula de governo, que levantaram a primeiro denúncia até à Câmara em direção interrompida ao Supremo, e que também formariam a linha principal da segunda peça que estava à caminho. 
 
Janot tentava agilizar para fechar a segunda denúncia antes do fim de seu mandato. Mas as novidades com os áudios aparentemente despropositais de Joesley Batista nas mãos do investigadores romperam os planos iniciais do atual procurador-geral, além de recair contra próprios membros do Ministério Público, acusados por Joesley de fazerem parte de esquema junto às apurações.
 
“Espero que eu tenha alguma tranquilidade para viver depois de tudo isso. Esse final tem sido uma montanha russa porque as surpresas se repetem, as surpresas se mostram e a impressão que dá é que é uma montanha russa que só tem queda livre. É uma montanha russa que não te dá um respiro para você se preparar para uma nova queda”, disse o procurador-geral.
 
Consciente de que as acusações contra Michel Temer correm riscos de serem paralisadas ou arquivadas na Justiça, finalizou seu discurso aos demais procuradores com citação de Fernando Pessoa: “Vou homenagear o personagem do grande Fernando Pessoa, Dom Duarte, que depois de todos os desafios a que foi submetido, se indagava. Ele dizia, ele afirmava: ‘Cumpri, contra o destino, o meu dever. Ai ele se indagava: ‘Inutilmente? E ele respondeu: ‘Não, porque eu cumpri’.”
 
Abaixo, o depoimento:
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

11 Comentários

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    1. “Presidente”golpista

      entre aspas. Mas GOLPISTA com todas as letras. O pior de todos, trai até a mãe. Eduardo Cunha deve rolar de ódio todas as noites.

  1. Engraçado…

    O medo só aparece agora, diante de Temer, Aécio e quetais. Na hora de ferrar Lula e Dilma, não deu medo, nem pena, nem senso de justiça, nem nada…

  2. Canalha! Canalha! Canalha! Não vale o que o gato enterra.

    Prezados,

    Há tempos eu digo e escrevo que Rodrigo Janot seria destruído, moído por Gilmar Mendes, com quem ele trava briga de egos e por poder e influência. Polìticamente sempre estiveram e estão do mesmo lado, defendendo o PSDB e associados; os dois são parceiros na trama golpista. Janot engana apenas as maltas e matilhas manipuladas e descerebradas, lobotomizadas pelo PIG/PPV. Mais de uma vez afirmei que o fim de Janot seria mais vexatório e humilhante que o de Jaoquim Barbosa. E que na briga ególatra e por poder e influência ele seria derrotado por Gilmar Mendes e outros tucanos e oligarcas do STF.

    Minhas previsões estão se confirmando. As delações da JBS e aquele consórcio Globo-PGR-JBS-DoJ se mostram uma armação, para ludibriar os incautos. a Fraude a Jato JAMAIS teve ou tem o propósito de combater a corrupção; o objetivo era o golpe de Estado, a aniquilação do PT, dos líderes do partido e da Esquerda  e a colocação das atuais quadrilhas no comando do poder político. A ORCRIM institucional já cumpriu seu papel; a anulação das delações que incriminam tucanos e políticos da direita é a cereja desse bolo pútrido e fétido.

  3. Bem feito para esses
    Bem feito para esses fdps.
    Quero que todos sifu, que se lasquem pra lá.

    Contra o PT valia tudo, e ninguém tinha medo de nada.
    Estou com nojo desse meio jurídico.

    Quero que eles se explodam.

    Já estou achando que o impeachment da Dilma foi providencial, para desmascarar esse filhos das putas todos.

    Bando de traidores !

  4. “espero que eu tenha alguma

    “espero que eu tenha alguma tranquilidade para viver depois de tudo isto”. janót

    E eu torço pra que vc, zé cardoso , dilma, jb, gm, não tenham mais tranquilidade. Uns erraram por ação, outros por omissão. E pro povo ficou as conseguências do golpe.

  5. fácil

    “E medo do quê? Medo de errar muito”

    É fácil, Janó : Desafie o treme para um duelo. Metralhadoras a dez passos.

    Garanto que V. exia não erra.

    E o Brasil agradece!

  6. Janot

    Na hora de incriminarr Lula e Dilma ele não tem medo, mas na hora de apresentar a 2ª denuncia contra Temer ele morre de medoPor que?Sera porque a turma do Temer manda matar…

  7. Se a Globo não o

    Se a Globo não o socorrer,(safadão como ele,sempre deixa algo armazenado),pode passar por dificuldades financeiras.Vai encarar alguns processos.Don Altobello e Seus Blue Caps vai fungar no cangote dele.

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