Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Lava Jato: cheiro de FBI/CIA na “cena de Piti”, por Armando Coelho Neto

Lava Jato: cheiro de FBI/CIA na “cena de Piti”

Por Armando Rodrigues Coelho Neto

Foi estranho saber que o coronelismo eletrônico da mídia golpista resolveu colocar no ar um embate entre a defensoria do ex-Presidente Lula e o juiz Sérgio Moro. Para os admiradores do ex-presidente, foi um lavar de alma ver alguém peitando um magistrado, que prefiro tratar como “encantador de incautos” do que usar a expressão chula que circula nas redes sociais. “Se Vossa Excelência atua aqui como acusador principal, Vossa Excelência perde todo respeito”, disse o advogado, no legítimo interesse de seu cliente.

Para os que alimentam o gratuito ódio ao PT/Lula /motivo de glória. Nada como assistir o “encantador” admoestando e caçando a palavra daquele que defende o inimigo visceral do grupo Globo et caterva, em cadeia nacional. “O senhor está sendo inconveniente, já está indeferida sua questão e o senhor respeite o juízo… o senhor não tem a palavra”, disse o juiz, abandonando o pseudo tom messiânico como conduz suas audiências ou clama pela aceitação de provas ilegais obtidas de boa fé e ou apela por apoio popular para fundamentar para prisões.

A polêmica surgiu quando o representante do Ministério Público fez uma pergunta-pegadinha, de caráter, digamos, subjetivo, pois a resposta poderia vir viciada por fatores extra autos (comoção midiática do processo) e ou impressões pessoais da testemunha. Coisinha básica vedada pela lei penal, mas que a soberba da Farsa Jato faz questão de ignorar, assim como o fez em outras oportunidades. O Código de Processo Penal, Art. 213 é claro:  “O juiz não permitirá que a testemunha manifeste suas apreciações pessoais, salvo quando inseparáveis da narrativa do fato”.

Grosso modo, a “Cena do Piti” decorreu da chamada Técnica Raid (FBI/CIA), própria para interrogatórios de suspeitos, não de testemunha. Inclui perguntas sugestivas que já contém informação que induzem a resposta desejada do interlocutor. Contempla também perguntas alternativas, todas com resposta de cunho acusatório, como por exemplo, “Você fez isso por amor a alguma causa ou por necessidade? ”. Uma técnica que pode ser associada a outra chamada Cinestésica, que abrange a observação comportamental do entrevistado, interrogado.

No caso das questões sugestivas e ou alternativas ocorre uma limitação de raciocínio, na medida em que o campo de respostas se estreita, ficando delimitado às perguntas e ou respostas propostas pelo interrogante. No caso, a resposta pode fugir da realidade, além de ter o condão de ocultar uma outra resposta fora do leque apresentado, que poderia ser até um “não sei”. Desse modo, quando em situação de tumulto, ainda existe a tendência de um suspeito ou testemunha optar pela última opção, cuja resposta é aquela desejada por quem interroga. Soaria como indução de determinada resposta.

No caso de testemunhas, conhecidas no meio jurídico como “a prostituta das provas, ainda pode ocorrer algo mais grave, que seria a já comprovada inclinação de querer agradar o interlocutor (delegado, procurador, juiz). Nesse caso, a soma do tumulto + questões alternativas + inclinação da testemunha = a resposta desejada. Fato que, aliás, ocorreu durante a “Cena do Piti”. Após o áspero diálogo entre as excelências, a testemunha ficou com a última alternativa. Ponto para a acusação!

Esse método é útil, sobretudo quando não se investiga realmente, não existem provas concretas. No caso, o investigante busca elementos de convicção para uma ideia pré-concebida – fulano é culpado. O detalhe ganha especial peso quando alguém já foi publicamente condenado – Polícia, Ministério Público, Judiciário já anteciparam impressões. Desse modo, é preciso uma frase útil para suporte a uma acusação frágil ou que, no caso da Farsa Jato, sirva de “lide e ou manchete para os jornais” (aspas irônicas do autor).

A pergunta do Ministério Público, que deu azo à “Cena do Piti”, soa como prova de que nada se tem nas mãos. Propriedade se prova com registros públicos, posse e ou evidências materiais de que alguém exerce domínio/controle sobre coisa móvel ou imóvel. É impressionante que após anos chafurdando papeis, computadores, colchões, brinquedos de criança do neto do Lula, o representante do “Parquet” (acusação) ainda dependa de um testemunho. Sobretudo um testemunho chinfrim, fruto de uma velha técnica da polícia americana de pôr resposta na boca da testemunha ou réu.

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

27 Comentários

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  1. Art.213 do CPC é Claro

    Caro Armando, 

     

    O Artigo 213 do CPC é claro.

     

    Art. 213 é claro:  “O juiz não permitirá que a testemunha manifeste suas apreciações pessoais, salvo quando inseparáveis da narrativa do fato”.

    Certamente já passou pela sua cabeça que o zelador só perdeu o emprego pois foi vitimado por todo este processo, não desejo fazer juizo de valor se perdeu correta ou incorretamente, o fato é que ele foi demitido e não demitiu-se.

    Logo a aplicação do 213 me pareceu absolutamente devido, eu vi exatamente isto, quando assisti ao video.

    O fato dele se candidatar é após o fato do qual ele diz ser testemunha, novamente não farei juizo de valor sobre a veracidade de seu testemunho, alegar promoção pessoal pelo caso, me parece alem de atemporal, infantil.

    Enfim, é um debate interessante, eu particularmente, acho que a defesa do ex-presidente Lula já se perdeu e perdeu o foco, mas…

     

    Bom Dia

    1. Trollagem aqui? Nem a pau, juvenal.

      Quem estrá perdido? Ora, ora ora. Quem está dando piti, fazendo grosseria, gritando, coagindo testemeunhas e cerceando os advogados? São os defensores de Lula ou o torquemada paranaense, esse que participa de eventos políticos de políticos tucanos (como o governador de MT, Pedro Taques, acusa de corrupção, o prefeito eleito se SP, João Dória Jr., que é flagrado cochichando e gargalhando com senador Aécio cunha, em evento bajulatório aptrocinado por uma revista, que teve os pixulecos públicos multiplicados, depois do golpe)?

    2. O Autor não está tratando do depoimento do zelador boateiro

      O Autor não está tratando do depoimento do zelador boateiro

      Prezado João Campos. A matéria não trata do depoimento a que você se refere na sua resposta. Falta de atenção ou de boa fé da sua parte? De qualquer modo, cabe uma observação: o zelador foi demitido por ser boateiro, atributo, você há de convir, pouco desejável para essa função. Ele poderia tentar um salão de beleza de madames ociosas. Além de boateiro, o sujeito mostrou-se também um patife, ao tentar faturar uma vereança bem remunerada pelo PP, o partido com mais bandidos nessa história, e um calhorda ao insultar Lula e a sua defesa numa audiência. No entanto, nesse último caso, em patifaria, pelo menos, ele, o zelador, perde disparado para esse juiz, que permitiu os insultos.

      1. Bom, então não há nada de

        Bom, então não há nada de jurídico a ser discutido, porque o cara é calhorda, boateiro e criminoso rsss

        Não conhece iuma letra de lei, mais comete um crime em rede social ao fazer acusações levianas sobre quem sequer conhece.

         

         

        1. pois é….

          observe que eu tomei o cuidado de um comentario 100% imparcial, onde nao julgo o comportamento do Zelador ou de qualquer outro.. deixo este juizo mais para frente… mas…. a parcialidade da defesa de quem não presenciou nada é maior

      2. Acho que tambem

        Francisco, eu acho que TAMBEM faz parte sim, sorry, eu li assim.

         

        Como disse acima não cabe a mim fazer juizo de valor do depoimento dele e muito menos do relato que ele alega ser testeminha, não vou fazer defesa dele e nem do Lula.

      1. JB Costa, um homem com a sua

        JB Costa, um homem com a sua experiência sabe que o confronto nunca é a melhor saída.

        Principalmente quando se trata de advogados que tem como estratégia desqualificar o acusador,

        Desqualificar o adversário  pde ser uma estratégia voltada a política, mais jamais a Justiça

        O artigo 213, sem dúvida foi aplicado com perfeição, eis que não há como a testemunha explicar sem contextualizar

         

  2. Repito o comentário que fiz noutra matéria, sobre o mesmo tema

    Prezados,

    É reconfortante ler artigos incisivos, contundentes, precisos como os de Armando Coleho Neto, ex-DPF, jornalista e advogado, portanto alguém que conhece a técnica policial, a técnica jurídica e a técnica jornalística. Detendo esses três saberes, Armando Coelho Neto não enrola, parte para cima e põe o dedo nas feridas, desmascarando todos os criminosos da Fraude a Jato, a começar por sérgio moro.

    Como ele aborda o mesmo tema que já comentei noutra matéria postada aqui no GGN, considero razoável republicar ocomentário que fiz.

    O banditismo de sérgio moro e procuradores é escandaloso.

    Prezados leitores,

    Nã faço mais qualquer comcessão ao criminoso sérgio moro e aos comparsas dele na ORCRIM da Fraude a Jato. São bandidos, criminosos, enquistados e encastelados na burocracia do Estado Brasileiro, que dele recebem poupudos vencimentos, para desmontar e destruir o que de social e benéfico foi construído pelos governos petistas à frente desse Estado entre 2003 e 2014.

    Esse zelador me lembra joaquim barbosa, que fez papel de capitão-do-mato naquele farsesco e mdiático julgamento da AP-470, a maior fraude e aberração jurídica já ocorrida no Brasil. A origem étnica e sócio-econômica de ambos é semelhante, assim como a grosseria e o mau-caratismo. Estejam certos de que a agressividade e ofensas que esse zelador proferiu contra os advgados de Lula e contra o ex-presidente foram cuidadosamente ensaiadas, o zelador foi cevado – quiçá muito bem subornado – para exercer o papel grotesco que observamos. Prova contra Lula ele não apresentiu nenhuma, obviamente. Mas isso pouco importa para os bandidos da Fraude a Jato. Esse zelador foi porta-voz das grosserias e ofensas de baixo calão que sérgio moro e comparsas sempre quiseram dirigir ao ex-presidente Lula e a seus advogados.

    O juizeco da guantánamo paranaense perdeu todo o pudor, toda a vergonha e já não disfarça mais seu descarado partidarismo e parcialidade. Se os tribunais superiores não estivessem acanalhados e mancomunados com o criminoso sérgio moro, este não só teria sido destituído da função de juiz, como estaria sendo processado. O mesmo se diga em relação aos comparsas dele no MPF e PF, que compõem a Fraude a Jato.

    Chega a ser surreal ver sérgio moro atuar como advogado de defesa desse zelador.  Antes ele fez o mesmo papel em relação ao golpista michel temer, censurando perguntas feitas por eduardo cunha ao usurpador, que o ex-deputado arrolou como testemunha.

     

  3. Testa de ferro incompetente é

    Testa de ferro incompetente é uma mérda. Parece com aquele que trabalhou na ferrovia por 50 anos e seu trabalho foi um só: bater com um martelinho de ferro em todas as rodas dos trens, todos os dias. Na sua festa de despedida, alguem perguntou-lhe: “prá que o senhor bateu todos os dias nas rodas dos trens?” e êle respondeu: “não sei! mandaram eu fazer e eu fiz.”

  4. É o interrogatório em preto e branco

    Já imagina se alguém chega para o Joaquim Barbosa e lhe pergunta: Joca, você já deixou de bater em sua mulher?

    Há pessoas de mentes estreitas que só conseguem ver o mundo em preto e branco por mais que o mundo seja multicromático.

    De acordo com o wikipédia,

    “Falsa dicotomia, falso dilema, pensamento preto e branco ou falsa bifurcação é uma falácia lógica que descreve uma situação em que dois pontos de vista alternativos, geralmente opostos, são colocados como sendo as únicas opções, quando na realidade existem outras opções que não foram consideradas. Essa falácia é usada para defender pontos de vista em geral, ela muitas vezes é usada em uma comparação em que uma das opções é completamente descartada pelo seu proponente, estando apenas a que lhe interessa.

    Exemplo:

    Marcos está atrasado para o trabalho. Ou seu carro quebrou, ou dormiu demais. Ligamos para ele e não estava em casa, então seu carro deve ter quebrado.

    Esse argumento é um falso dilema, pois há muitas outras razões pelas quais Marcos poderia estar se atrasando para o trabalho. Se fosse de alguma forma provado que não há outras possibilidades, então a lógica apareceria. Mas até lá o argumento é falacioso”

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Falsa_dicotomia

  5. A cada dia me convenço que os

    A cada dia me convenço que os EUA estão envolvidos até o último fio da cabeça do Temer neste golpe, inclusive da doutrinação de membros da justiça e MPF, agora acusam o Lula de ter se beneficiado do acordo de compra dos jatos Gripen da Suécia, dúvido que se os jatos americanos  fossem os escolhidos houvesse qualquer questionamentos.

  6. Lawfare

    Infelizmente, mais uma cena explícita de lawfare. Até quando o país assistirá passivamente a esse massacre midiático-judicial perpetrado contra o ex-presidente Lula? Da minha parte e de muita gente que conheço, independentemente do resultado desses processos infundados contra o Lula, quem definitivamente perdeu a credibilidade foram, pela ordem, a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e o Judiciário. O Torquemada de Curitiba, claro, dispensa comentários.  

  7. lava…

    CIA / FBI ? Então acordemos desta fantasia onde vivemos. Para quem interessa esta destruição da nossa economia e a entrega das jóias ca coroa? 

  8. Até as pedras já sabem que

    Até as pedras já sabem que Moro (desisti de chamar o sujeito de juíz, coisa que ele mostrou não ser) foi cooptado pela CIA ou pelo FBI (talvez ambos). A única dúvida é quando vocês vão fazer algo a respeito considerando que é o futuro do seu país em jogo.

    Do meu lado eu gostaria de saber quem exatamente está patrocinando esse golpe porquê os objetivos estão cada vez mais confusos. Parece haver um “ódio” contra o país, como se o chefe da operação estivesse tentando destruir o Brasil… Seria a velha e gasta tática do “destruir para depois aparecer como salvador” ou destruição pura e simples para uma invasão posterior a título de “forças de paz”?

    1. o interesse dos alienígenas reptilianos

      Pelo que apreendi ao longo de alguns longos anos:  os anglozionianques, querem um OM aqui, na AL. Agem de forma idêntica, com táticas de terror e espionagens. Só que não combinaram com as pessoas daqui que não possuem veia bélica. São mais esperar para ver como fica. Se fôssemos bélicos, esses invasores alienígenas reptilianos já estariam por aqui  com suas armas letais bombardeando nossos povos com as deculpas esfarrapadas de sempre….

  9. Ou trouxas ou canalhas

    A ida dos procuradores aos Eua deve ter vindo com peso extra na bagagem.

    Alem de dossiê do Almirante Othon, deve ter tido um dossiê do LULA…

    LULA deve ter perdido o posto de “O cara” depois do bem sucedido acordo que o Brasil e a Turquia fizeram com o Irã que foi prontamente sabotado.

    Depois disto o LULA divulgou uma carta na qual mostrava os pedidos para o tal acordo feito pelo Obama.

    Ou os procuradores são trouxas internacionais e receberam um dossiê falso, ou são canalhas e estão participando ativamente com potência estrangeira para derrubada de governo no Brasil.

    Por quê se tivessem as “provas”, o LULA já estaria preso, a julgar pelo tempo que passou desde que prenderam o almirante…

    1. E prenderam com provas?

      Onde estão as provas irrefutáveis das eventuais falcatruas do almirante? Será que eu perdi alguma coisa nessa estória, ou estamos de fato vivendo num regime de terror como é a minha percepção?

      1. O processo do Almirante,

        O processo do Almirante, aquele em que a empresa da filha que foi aberta e não possui qualquer atividade recebeu dinheiro das empresas que venderiam produtos para a pesquisas, aquele que foi acusado de receber 5 milhões, encontra-se tramitando sem segredo de justiça.

        Vá até a Vara Federal de Curitiba e experimente ler as 18 mil paginas da investigação

        18 mil acredita ?

        Se acredita ainda que havia mais 164 profissionais de alto escalão da Marinha envolvido e que o Almirante funciona como a Rainha da Inglaterra no projeto, que praticamente só resolvia a parte do financiamento junto aos órgãos

        Impressionante, mais tem gente que acha que o Almirantre dormia com os segredos do projeto embaixo do travesseiro, mais não, o projeto era acessado por centenas de pessoas diariamente

        Como a imprensa desinforma né.

    2. O problema do Almirante

      O problema do Almirante  não é apenas do Almirante .  O problema central é o projeto de se fazer uma Usina de enriquecimento de urânio no Brasil. Nada mais desejável se temos uma das maiores jazidas de urânio do mundo.  Já dominamos a tecnologia  e temos um projeto,  que vem sendo atacado, por claros interesses externos. Portanto o problema do almirante não é corrupção ou segredos, mas sim de objetivos que contrariam toda a industria de beneficiamento de Urânio. Hoje temos que enviar o nosso urânio para ser beneficiado lá fora e importado a preço de ouro. É simples assim, não se trata de segredos, pois como diz o proprio almirante, estes outros países tem sua própria tecnologia. Se trata de mercado. E é curioso porqueos ataques vem daqueles que  vivem falando em mercado livre, e livre concorrência. 

      1. …”Hoje temos que enviar o

        …”Hoje temos que enviar o nosso urânio para ser beneficiado lá fora e importado a preço de ouro”…

        Fiquei intrigado com seu comentário Frederico. Pois, imaginava superada a dependência  do Brasil à tecnologia externa para  o enriquecimento de urânio.  Como não tenho conhecimento sobre o tema, busquei em rápida pesquisa na internet, e, trago um trecho, mais precisamente, a conclusão da interessante matéria sobre o assunto. Aos que desejarem, vale consultar a fonte primária.

        No mais, a farsa do “combate à corrupção” do juizeco moro, serve apenas para engabelar midiotizadas vítimas da rede bobo de trapaças.

        Orlando

         

                      ENRIQUECIMENTO DE URÂNIO NO BRASIL

                      Desenvolvimento da tecnologia por ultracentrifugação

        Othon Luiz Pinheiro da Silva[1]

        André Luis Ferreira Marques[2]

                       Introdução

        Após as iniciativas do Almirante Álvaro Alberto durante os anos 50 de realizar pesquisas científicas no Brasil, no setor nuclear, o governo brasileiro decidiu investir recursos, já no início dos anos 70, para dotar o país de capacitação plena no ciclo do combustível nuclear, produção de reatores de pesquisa e de potência e, finalmente, no reprocessamento de combustível nuclear utilizado nos reatores. Tal linha de ação visava garantir os meios necessários para o fortalecimento de nossa matriz energética, com a utilização dos recursos naturais existentes (minas de urânio e tório, cujas reservas estão entre as maiores no mundo) para a produção de energia elétrica, dentro da visão particular dos programas de desenvolvimento em vigor à época.  ….

         

        …Conclusão

        O desenvolvimento da tecnologia de ultracentrifugação de urânio é um marco de sucesso na história tecnológica do Brasil. Do interesse inicial do Almirante Álvaro Alberto, o qual tentou trazer centrífugas da Alemanha no pós-Guerra, enfrentando forte resistência externa, conseguiu-se com o esforço, dedicação, criatividade e obstinação de técnicos e engenheiros brasileiros, ao longo de 15 anos, conceber e aperfeiçoar uma série de máquinas para produção de material para uso no combustível nuclear, emprego pacífico da energia nuclear, como estabelece nossa Constituição Federal.

        A decisão tomada no final dos anos 70 pela escolha da ultracentrifugação foi acertada, por ser um método muito eficiente, em termos de consumo de energia elétrica, e modular, trabalhando com unidades padronizadas e organizadas em arranjos em série e paralelo, o que garante boa flexibilidade operacional. Prova do acerto da decisão é visto na recente evolução tecnológica dos países que usavam a difusão gasosa, como os EUA e a França, para o processo da ultracentrifugação.

        Como produtos do desenvolvimento da implantação da tecnologia de ultracentrifugação, foi desenvolvida no Brasil a produção de aços de alta resistência, assim como de válvulas especiais para operar com substâncias corrosivas. Igualmente importante, vários componentes de satélites e mísseis têm sido fabricados e testados usando recursos laboratoriais e industriais do CEA, originalmente estabelecidos para o desenvolvimento do programa nuclear conduzido pela Marinha. Recentemente, identifica-se também como resultado expressivo o trabalho conjunto da MB, Força Aérea Brasileira (FAB), universidades e institutos de pesquisa, para a produção no país de fibra de carbono de alto desempenho, por meio de convênio com a Financiadora de Projetos (FINEP), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

        O sucesso alcançado pelo projeto de enriquecimento, dentro do lema do CTMSP de que “Tecnologia Própria é Independência”, constitui-se em exemplo de que o caminho de acreditar no potencial dos brasileiros e utilizá-lo para suplantar obstáculos ao desenvolvimento nacional é, em alguns casos, o único viável e, em muitos outros, aquele que poderá garantir às futuras gerações maior autonomia e independência.

        REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

        1 – Villani, S. – “Uranium Enrichment” – Topics in Applied Physics – Volume 35 – Springer Verlag – 1979.

        2 – Green, R. – “Back to the future” – Nuclear Engineering International – Sept 2002.

        3 – Upson, P – “Centrifuge Technology: the future for enrichment” – World Nuclear Association Annual Symposium – London – 2001.

        4 – http://www.usec.com

        5 – http://www.urenco.com

        [1] Vice-Almirante (Engenheiro Naval – Ref.), foi o criador e coordenador do Programa Nuclear da Marinha de 1979-1994. Atualmente é Diretor-Presidente da ELETRONUCLEAR.

        [2] Capitão-de-Fragata (Engenheiro Naval), é o Coordenador do Programa de Separação Isotópica do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo – CTMSP

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        1. Orlaando

           Pois é Orlando o Brasil é grande e bem maior do que tanto se fala. Porém temos no poder gente muito pequena,muito pequena.

          Um abraço.

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