Lava Jato suspeita que Moreira Franco favoreceu empreiteira em 2013

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Os investigadores da Operação Lava Jato suspeitam que o ex-secretário de Aviação Civil da cota do PMDB e um dos principais auxiliares do interino Michel Temer, Wellington Moreira Franco, favoreceu a empreiteira Andrade Gutierrez na concessão do Aeroporto Internacional de Confins, em Minas Gerais, em 2013.
 
Um dos inquéritos da Lava Jato que investiga os contratos fechados pela empreiteira detectou mensagens entre o ex-presidente, Otávio Marques Azevedo, e núcleos do PMDB, entre eles, Wellington Moreira Franco. O assessor de Temer que hoje comanda o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do interino, responsável pelas concessões e privatizações do governo federal, á época trocou mensagens com o Azevedo que deixaram dúvidas nas equipes de investigadores atuais se houve favorecimento em concessão do Aeroporto Internacional de Confins, em Minas Gerais.
 
Isso porque as mensagens foram trocadas antes e depois do leilão realizado em 22 de novembro de 2013. A Andrade Gutierrez é sócia do Grupro CCR, que venceu o consórcio AerioBrasil, por R$ 1,82 bilhão. “Prezado Ministro, conforme prometido não apenas participamos mas compramos CONFINS. Abs. Otávio”, foi a mensagem enviada pelo presidente da empreiteira. O ex-ministro da Aviação, da cota do PMDB no governo federal, agradeceu Azevedo: “Vocês são craques. Foi aonde houve competição. Vamos em frente. Abs e obrigado”.
 
Do Estado de S. Paulo
 
 
Lava Jato revela troca de mensagens e encontro de Moreira Franco, um dos principais auxiliares de Temer, com o ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Azevedo para tratar da concessão de aeroporto, em Minas, entre 2013 e 2014, quando ele era secretário da Aviação Civil
 
Por Ricardo Brandt, Fausto Macedo, Julia Affonso, Mateus Coutinho e Fábio Serapião
 

A Operação Lava Jato reuniu mensagens trocadas em 2013 entre o ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques Azevedo e o então secretário da Aviação Civil, Wellington Moreira Franco, em que tratam da concessão do Aeroporto Internacional de Confins, em Minas Gerais, antes e depois do leilão, realizado em 22 de novembro. A empreiteira é uma das sócias do Grupo CCR, líder do consórcio AeroBrasil, que arrematou o negócio de R$ 1,82 bilhão. Para os investigadores da Polícia Federal, há suspeitas de acertos prévios nos pacotes de concessões de aeroportos realizados no governo da presidente afastada Dilma Rousseff – um negócio de R$ 45 bilhões, ao todo.

“Prezado Ministro, conforme prometido não apenas participamos mas compramos CONFINS. Abs. Otávio”, escreveu o então presidente da Andrade Gutierrez, às 18h11, de 22 de novembro de 2013. Naquele dia, foi realizado a terceira etapa de concessões de aeroportos do governo Dilma, com os leilões de Confins e Galeão, no Rio. A AeroBrasil, formada pela Companhia de Participações em Concessões (CPC) – controlada pela CCR -, Zurich Airport International AG e Munich Airport International Beteiligungs GMBH venceu a disputa. Para operar por 30 anos o terminal, foi criada a BH Airport.

“Vocês são craques. Foi aonde houve competição. Vamos em frente. Abs e obrigado”, responde Moreira Franco.

É a primeira vez que Moreira Franco aparece na Lava Jato em troca de mensagens com os empreiteiros investigados por cartel e corrupção na Petrobrás. Um dos principais auxiliares do presidente interino, Michel Temer, Moreira Franco é hoje secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) – responsável pelas concessões e privatizações do governo federal. Em 2013, ele foi nomeado para a Secretaria de Aviação Civil, cargo que ocupou até janeiro de 2015.

Moreira Franco, por meio de sua assessoria de imprensa, confirmou os contatos. “Como responsável pela área, o ministro Moreira Franco conversou com todos os potenciais interessados em participar dos leilões de concessão”, informou o ministro, por meio de nota divulgada por sua assessoria de imprensa.

Não há evidência de crimes nos diálogos reunidos pela PF, mas para investigadores, as tratativas, os encontros, inclusive na casa do dono da Andrade Gutierrez, Sérgio Andrade, e informações citadas são indícios de possível favorecimento.

A Lava Jato apura se o esquema de corrupção descoberto na Petrobrás tenha sido reproduzido em outros contratos, como os do setor de transportes. Uma das frentes envolve os pacotes de concessão de aeroportos feitas no governo Dilma: em 2011, São Gonçalo do Amarante (RN), em 2012, Cumbica (SP), Juscelino Kubitschek  (DF), em Brasília, e Vicaropos (SP), e em 2013, Galeão (RJ) e Confins (MG).

Além dos acertos prévios entre empreiteiras nas concessões, a força-tarefa do Ministério Público Federal, Polícia Federal e Receita Federal analisa os empréstimos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Estratégico (BNDES) para as empreiteiras para que elas realizassem as obras de ampliação dos terminais concedidos, para uso na Copa, em 2014.

Encontros. Dez dias antes do leilão de Confins, a análise da PF registra que Azevedo teria se encontrado com Moreira Franco. “Posso passar por aí em torno das 16h30?”, escreveu Azevedo, no dia 12 de novembro, de 2013. “OK”, respondeu Moreira Franco.

No mesmo dia 12, o ex-presidente da Andrade trocou mensagens com Ricardo Mello Castanheira, executivo do Grupo CCR, sobre “rumores de adiamento do leilão de Confins”. Ele informa que estaria com Moreira Franco às 19h.

“Existem rumores de adiamento do leilão de Confins por receio de que não tenha proposta. É ruim para nós. A CCR vai apresentar proposta”, informa Castanheira. “Por favor, confirme para o Ministro. Mesmo que não seja pessoalmente. Abs.”

O ex-presidente da Andrade Gutierrez responde minutos depois que vai “ao Ministro as 19h”.

No dia do leilão de Confins, Azevedo e o executivo da CCR voltaram a conversar e citam o então secretário da Aviação Civil – cota do PMDB, no governo Dilma. Era 14h34 e Castanheira comunica “as boas notícias de Confins” e diz precisar “ligar para o nosso amigo”. “Liguei para dar as boas notícias de Confins. Espetacular! Preciso ligar para o nosso amigo. Você me passa o celular dele?.”

O amigo era Moreira Franco.  A PF cruzou o dado do telefone celular repassado por Azevedo para Castanheira e verificou que nos contatos do ex-presidente da Andrade, o número está “associado à ‘Moreira Franco Ministro Secretaria de Aviação Civil’”. “Possivelmente o amigo a que se refere Riacrdo e para quem precisava ligar após avisar Otávio da vitória do leilão de Confins bem como o Ministro a que se refere é Wellington Moreira Franco”, informa o documento.

O relatório de análise do conteúdo integral das mensagens dos celulares de Otávio Azevedo foi anexado nesta segunda-feira, 11, a um dos inquéritos que investiga negócios da Andrade Gutierrez, em Curitiba – sede da Lava Jato. As mensagens de foram analisadas, após prisão do executivo em junho de 2015. Ele e outros membros do grupo fecharam acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República (PGR) e estão em casa, desde o início do ano.

“Destacam-se diversas mensagens de Otávio Marques e ‘Moreira Franco Ministro Secretaria Aviação Civil’ que sugerem realização de encontros”, registra o Relatório de Análise de Mídia Apreendida Nº 882/2015.

São encontros que teriam sido realizados em 2013, antes e depois do leilão de Confins, e também em outras ocasiões, como em fevereiro de 2014, quando eles tratam especificamente sobre “algum procedimento licitatório”.

“Chama a atenção mensagem de 13 de fevereiro de 2014 de Otávio”, registra a análise. “Ministro, a FGV está aguardando a aprovação da proposta técnica para colocar preço. O Guilherme sugeriu rediscutir internamente a proposta técnica!!!”, escreve o empreiteiro.

Moreira Franco responde: “Já tomei providências. Segunda eu libero”.

A reportagem apurou que os interesses do executivo não diziam respeito à Confins, mas sim a um negócio de liberação de novos projetos de aeroportos. O que a Lava Jato apura é qual interesse da Andrade Gutierrez nesse projeto. “O estudo da FGV foi indeferido pela SAC (Secretaria de Aviação Civil)”, informou Moreira Franco, por nota.

A PF destacou ainda encontro marcado por Azevedo e Moreira Franco, no dia 27 de dezembro de 2013, e outro em 7 de fevereiro de 2014 na casa do dono da Andrade Gutierrez. Há ainda registros de supostos encontros em Brasília.

Aeroportos. As suspeitas envolvendo corrupção nos contratos de concessões de aeroportos surgiram já no início das investigações da Lava Jato. “O que acontece na Petrobrás acontece no Brasil inteiro, nas rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrelétricas”, afirmou em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro o primeiro delator da operação, o ex-diretor de Abastecimento da estatal petrolífera Paulo Roberto Costa, em outubro de 2014.

Um dos pontos destacados pelo relatório da PF é que em setembro de 2013, a Secretaria de Aviação Civil confirmou a alteração da regra do leilão de Confins reduzindo a exigência de experiência de 35 milhões de passageiros por ano para 20 milhões.

Moreira Franco informou que a redução do limite operacional “foi determinação do Tribunal de Contas da União”.

Em abril deste ano, a Lava Jato fez buscas na sede da GRU Airport , concessionária que administra Cumbica, ligada à OAS. Foram conduzidos coercitivamente executivos da empresa para depor, alvos da fase Vitória de Pirro que prendeu o ex-senador Gim Argello.

Os ex-presidentes da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, e da OAS, José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, também estão sendo cobrados a revelarem informações sobre acertos nos contratos de concessões de aeroportos e obras de infraestrutura nos terminais nas negociações de acordo de delação premiada.

COM A PALAVRA, O MINISTRO MOREIRA FRANCO

Por meio de sua assessoria de imprensa, Wellington Moreira Franco, informou que:

“A redução do limite operacional de 35 milhões para 20 milhões de passageiros/ano, destacado no relatório da PF, foi determinação do Tribunal de Contas da União. A discussão do assunto e o voto da relatora, ministra Ana Arraes, vão em anexo a este e-mail.

O estudo da FGV foi indeferido pela SAC.

Como responsável pela área, o ministro Moreira Franco conversou com todos os potenciais interessados em participar dos leilões de concessão.”

COM A PALAVRA, O MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES

“O Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil desconhece a ocorrência de qualquer irregularidade no processo de concessão de aeroportos e, portanto, não tem o que comentar sobre o assunto.

Ascom/Ministério dos Transportes”

COM A PALAVRA, O ADVOGADO JULIANO BREDA, QUE REPRESENTA OTÁVIO AZEVEDO

“Em razão das recentes notícias sobre relatórios da Polícia Federal divulgadas na mídia, a defesa de Otávio Marques de Azevedo informa que todas as mensagens de seu celular são de conhecimento das autoridades e já foram objeto de questionamentos em depoimento prestado na Procuradoria Geral da República, no âmbito do acordo de colaboração que vem sendo rigorosamente cumprido.
Otávio Azevedo já prestou esclarecimentos sobre as circunstâncias das mensagens e reafirma o compromisso com o seu dever legal de dizer a verdade. Sempre que necessário, voltará a colaborar plenamente com as investigações no interesse da Justiça.
Juliano Breda, advogado de Otávio Azevedo.”

COM A PALAVRA, O GRUPO CCR

“Nota à imprensa

O Grupo CCR participou do leilão do Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, como integrante do consórcio AeroBrasil, do qual também faziam parte Zurich Airport e Munchen Airport, e venceu o leilão com uma proposta de R$ 1,82 bilhão (ágio de 66%). O leilão, em 22/11/2013, foi realizado na BM&FBovespa e contou com três propostas, além de acirrada disputa na fase viva-voz. Todo o processo ocorreu conforme a legislação vigente no país e sob as regras previstas no marco regulatório do setor.

A participação no setor aeroportuário faz parte da estratégia do Grupo CCR desde 2011, e o resultado do leilão de Confins foi comemorado por representar o primeiro negócio da companhia nessa área no Brasil.

O Grupo CCR continua a trabalhar em seu plano de crescimento qualificado, sempre mantendo como premissas a disciplina de capital, ética e transparência reconhecidas na gestão da companhia desde a sua fundação.

Grupo CCR”

COM A PALAVRA, A CONCESSIONÁRIA BH AIRPORT

Por meio de sua assessoria de imprensa, a BG

 

A ÍNTEGRA DOS DIÁLOGOS ENTRE MOREIRA FRANCO E OTÁVIO AZEVEDO

MENSAGEM OTAVIO COM MOREIRA 6

 

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

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  1. Não pode ser coisa boa. Não

    Não pode ser coisa boa. Não poderia essa conversa ser no ministério, somente na casa do sérgio, 11:00h, manhâ de domingo. Não pode ser coisa boa.

  2. Conversou com todas?!

    PF e MPF solicitem ao Ministro seu celular para confirmação dos diálogos com as outras participantes da licitação, caso não queira fornecer o telefone que informe com quem conversava diretamente das outras participantes.É no mínimo anti etica a atitude do Ministro, se fosse alguém do PT já estaria preso.

  3. Muita fumaça e barulho

    Extensa e detalhada reportagem. Mas só percebi fumaça e barulho; de substancial e comprometedor pràticamente nada. Sabemos que o ‘gato angorá’ não é flor que se cheire e que sobre ele ACM disse: “FHC afirma que MF deve ser mantido longe do cofre.”

    Fica nítida a intenção do jornal em colar no governo Dilma e na presidente Dilma o ônus que pode decorrer de eventual negociata, não confirmada, mas sugerida pela reportagem. Pouco destaque é dado ao fato de Moreira Franco ser do PMDB e ‘o homem da provataria’ da quadrilha que tomou de assalto o Executivo Federal.

    O ‘estadinho’ deveria mencionar também as conversas entre Luiz Carlos Mendonça de Barros, Ricardo Sérgio, Daniel Dantas, Js tarja-preta, FHC e outros, por ocasião da privataria tucana. Mendonção afirmou textualmente: “Estamos no limite da irresponsabilidade.”, quando conversava sobre a cooptação dos fundos de pensão para usar o dinheiro desses fundos na privataria das empresas de telecomunicações.

  4. O preço pagao por Confins foi

    O preço pagao por Confins foi absurdamente alto, hoje não vale uma quarta parte, é um aeroporto mal plenejado, muito longe de BH, para expandir prcisa mudar a estrada de lugar, a CCR fez um pessimo negocio.

    Interessados em leilões podem falar com o vendedor  pedindo informações e explicações, não há nenhum problema nisso.

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