Maestro alvo de CPI denuncia violação de direito à defesa e humilhação

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – O maestro John Neschling, alvo de uma CPI que investiga irregularidades em contratos do Theatro Municipal de São Paulo, denunciou aviolação ao seu direito de defesa e a humilhação sofrida na Câmara, durante uma oitiva da comissão.

Em nota, Neschling diz que desde que o Ministério Público de São Paulo começou a investigar o rombo de R$ 15 milhões nas contas do Theatro, ele se colocou à disposição para esclarecer qualquer fato. A Promotoria, contudo, não quis ouvi-lo, mas chegou a pedir À Justiça seu afastamento do cargo de diretor-artístico da instituição e, agora, para sua surpresa, a quebra do sigilo de seus dados foi deferida. Ele aponta que a comunicação com seu advogado foi violada nessa decisão, uma afronta às garantis constitucionais.

Segundo ele, tudo isso ocorre sem que ele tenha sido citado em investigação prévia da Controladoria Geral do Município, que identificou  “desvios, má administração e nepotismo na gestão da Fundação e do IBGC.”

“Responsáveis já apontados nesse processo são José Luiz Herencia e William Nacked. Isso é fato. Também é fato que, nesse relatório, no que diz respeito a malfeitos e corrupção, meu nome não é nem sequer citado e por uma questão muito simples: nunca pratiquei nenhum ato ilícito ou que tenha causado prejuízo ao erário. Também é fato que fui eu quem denunciou esse esquema corrupto e criminoso ao prefeito, à Secretaria de Cultura e demais órgãos da Prefeitura. Disso, hoje, poucos lembram.”

“Na contramão desta realidade”, diz Neschling, “sem que contra mim tenha sido produzida nenhuma prova, ou mesmo indício mínimo da prática de crime – e apenas tomando como base a palavra de Herencia, o criminoso premiado [que fez acordo de delação com o MP] – meu nome e minha reputação são enxovalhados diariamente. Isso é surrealismo”, disparou.

“Sem me ouvir, o Ministério Público confirma ter requerido meu afastamento do cargo que ocupo no Theatro, pedido que foi indeferido pelo Poder Judiciário, mas disso não há notícia nos autos do procedimento de investigação.”

“É nesse enredo de ficção que agora recebo a decisão de quebra de sigilo e vejo não apenas minha correspondência, mas minha vida devassada, sem que eu tenha ainda podido ver a quais mensagens houve acesso, e dentre elas há várias entre meus advogados e mim, e jamais poderia vir a ser de conhecimento de quem quer me acusar”, denuncia. Apesar disso, o maestro celebra a decisão: “(…) parabenizo a quebra do meu sigilo, porque é, na prática, a primeira chance de defesa real.”

Ao final da nota, Neschling diz que “a Inquisição me elegeu e, na caça às bruxas presenciada, vejo brotar supostas provas de tudo. Como o relatório da Corregedoria me inocentou, levantam agora discussões esdrúxulas sobre a legalidade da minha remuneração/contrato bem como a relação que mantenho com agentes e que segue estrito padrão da área.”

O informe foi enviado à imprensa ainda em agosto. Ontem, o maestro preferiu ficar em silêncio a responder as perguntas dos vereadores durante a CPI.

Agora, já afastado do Theatro Municipal, Neschling foi questionado sobre sua ligação com o agente Valentin Proczysnki, desta vez na presença de José Luiz Herencia, ex-diretor geral do Municipal e delator junto ao MP.

Herencia apontou na delação “conflitos de interesses na contratação de Proczynski, de quem Neschling também comprava espetáculos.” Segundo ele, por um desses trabalhos foi pago o valor de cerca de R$ 1 milhão, mas a obra não entrou em cartaz, e o valor desembolsado não foi restituído.

“Durante a sessão, foi exibido um documento, do fim do ano passado, que teria sido alterado por Neschling a fim de adicionar 8.000 euros ao valor de contratação de outro espetáculo vendido por Proczynski, “El Amor Brujo”, que estava na grade de 2015 e passou para a de 2016″, diz a Folha. O documento passará por exame para comprovar se a assinatura é do maestro.

Neschling ainda foi questionado sobre o envolvendo a escritora Patrícia Melo, sua mulher e sócia, nos trabalhos do Theatro. “Os vereadores queriam saber se ela exercia algum tipo de autoridade dentro do teatro, mesmo sem ser funcionária da casa. Segundo disse Herencia à CPI, Neschling permitia a sua mulher dar voz de comando dentro do Municipal, inclusive em decisões de natureza artística.”

Diante do silêncio, vereadores perderam a paciência e afirmaram que ele estava mentindo, omitindo fatos e “quem cala, consente”.

Os advogados de Neschling afirmaram que as questões dirigidas ao maestro o expuseram a “vexame”, quando o Tribunal de Justiça de São Paulo, ao determinar seu comparecimento a CPI, ressaltou que a oitiva deveria ocorrer com “respeito ao exercício do direito de defesa, do direito ao silêncio e a proibição de exposição do maestro a ato vexatório”.

“Em desrespeito aberto ao determinado pelo Tribunal de Justiça, a CPI chamou de palhaço o advogado que naquela casa exercia seu mister, achincalhando o direito de defesa; expôs Neschling a vexame ao, percebendo que exercia o direito ao silêncio, imputar-lhe mentirosamente, entre outras inverdades, a demissão de pessoas pelo simples fato de serem portadoras de deficiência física; e lançou para a captação das câmeras o famoso e autoritário “quem cala consente” – numa democracia, quem cala exerce direito constitucional! –, transmudando em estigma o exercício do direito cujo respeito foi determinado expressamente pelo tribunal”, denunciou.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. Vai ver que alguém tem alguma

    Vai ver que alguém tem alguma “convicção” contra o maestro. Inacreditável no que transformaram o Brasil. Por um lado, a velha plutocracia com seus partidos, políticos e instituições do estado totalmente aparelhadas; do outro lado, as seitas evangélicas e milhares e milhares de igrejinhas que proliferam nas periferias completando o serviço de lavagem cerebral que a mídia da própria plutocracia realiza. O Brasil nasceu em 22 de abril de 1500, acabou em 31 de agosto de 2016. Não sei o que vai virar isto aqui.

  2. Se isso acontece a John Neschling, imaginem c os pobres mortais

    Prezados,

     

    John Neschling não pode ser chamado de petista. E mesmo um maestro consagrado como ele já sente na pele o que é o arbítrio e o Estado de Exceção. Para quem ainda tinha dúvidas do mal que a farsa do chamado “mensalão do PT” e seu julgamento inquisitorial comandado pelo Torquemada JB, com acusações sem provas e linchamento público de pessoas acusadas, traria ao País e do risco para os direitos dos cidadãos, a Fraude a Jato e seu método inquisitorial baseado na mami pulite e na tragi-farsesca AP-470 começam a mostrar em que tempos sombrios e tenebrosos o Brasile mergulha, após o golpe de Estado ter- se consumado.

  3. Temos culpa

    Acho que temos culpa no que está acontecendo. Esta história de achar que os outros jamais fariam o que nós jamais faríamos, deu nisso.Ninguém nunca se protegeu. Hoje  o próprio Lula disse que nunca pensou que viveria o que estava vivenciando agora.E que até todos os seus discursos  foram levados pela polícia e não foram devolvidos.O celular da D. Marisa foi levado e também não foi devolvido. Será que em algum país do mundo a polícia faz isto com um ex presidente.?

     

     

     

     

     

     

  4. Salários imenso e injustos

    Até hoje, não consigo entender como o prefeito de São Paulo e o governador do estado de São Paulo autorizaram salários imensos para o maestro Neschling. No passado, quando atuava na OSESP (governo do estado), ele ganhava 100 mil reais por mês. No Theatro Municipal 150 mil. São salários pagos com dinheiro público , são ofensivos a realidade brasileira. São pagos por um povo que, em boa parte, nunca viram os seus concertos. A mania de grandeza continua: a atual regente da OSESP, uma americana que só dá entrevistas em inglês (nesses anos de Brasil, ela não teve tempo de aprender o idioma), recebe do governo tucano cerca de 80 mil mensal, mais beneficios por fora.  Enquanto isso, PMs, professores e atnendentes de saúde raramente recebem salários dignos. Quanta alienação, quanta injustiça com o povo paulista. E não venham dizer que são salários compatíveis com o que se paga para regentes em paises do primeiro mundo. Aqui não é primeiro mundo.

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