Major que forjou flagrante em protesto será investigado

Do O Globo

MP vai investigar major que forjou flagrante em protesto
 
Investigação da Corregedoria da PM concluiu que houve crime
 
Antônio Werneck
 
RIO – Quase três meses depois de um major da PM ter sido flagrado no Centro do Rio forjando um flagrante durante uma manifestação de professores no dia 30 de setembro, o Ministério Público estadual do Rio vai finalmente investigar a conduta do militar. O procedimento da PM, que investigou o caso, chegou nesta quinta-feira à Central de Inquéritos do MP do Rio. O major, identificado como Pinto e lotado no 5º BPM (Praça da Harmonia), é o militar que aparece no vídeo feito pela equipe de multimídia do GLOBO dando voz de prisão e algemando um jovem depois que seu colega, o tenente Andrade, do 20º BPM (Mesquita), joga um morteiro no chão, atribuindo ao rapaz a posse do artefato. Os dois PMs foram afastados das operações de rua.

Depois das imagens feitas pelo GLOBO, uma sindicância foi instaurada na Corregedoria interna da corporação. Durante os últimos meses, os corregedores investigaram a conduta dos dois militares, ouvindo testemunhas e os próprios acusados. O trabalho da PM “entendeu que existem indícios de que houve infração penal por parte dos policiais militares, pelo fato de terem violado a liberdade de locomoção do adolescente”. O rapaz, mesmo sem ter feito nada e contra sua vontade, foi detido, algemado e conduzido pelos PMs à 5ª DP (Centro).

Spray de pimenta em professores

No relatório que acompanha a conclusão da sindicância, enviado ao MP, os corregedores criticaram a ação, realizada “sem que o adolescente estivesse em flagrante de ato infracional, bem como pelo fato de terem feito uso indevido de algema, uma vez que não houve resistência que justificasse tal conduta”.

Em nota, a PM informou que a investigação foi encaminhada à 1ª Central de Inquéritos do Ministério Público, porque os corregedores entenderam que o crime é de competência da Justiça comum. O texto revela que a corporação vai aguardar a “solução do caso” pelo MP para então tomar as providências cabíveis.

O major Pinto é o mesmo que foi fotografado e filmado na Câmara dos Vereadores, no dia 30, jogando spray de pimenta em professores. O major Pinto e o tenente são investigados ainda em inquérito da 5ª DP. Os policiais civis apuram se houve abuso de poder por parte dos dois oficiais A decisão foi tomada depois que os policiais assistiram ao vídeo feito pela equipe do GLOBO. As imagens mostram o tenente Andrade com um morteiro na mão. Ele joga o artefato no chão momentos após abordar um jovem para revistar a sua mochila. Próximo ao tenente, o major Pinto dá voz de prisão e afirma que o jovem portava o artefato. No vídeo, ouve-se claramente o major Pinto dizendo: “Está preso, está com três morteiros.”


Tenente joga morteiro no chão para tentar incriminar jovem no Centro do Rio -
Foto: Lauro Sobral/Reprodução / Agência O Globo

Tenente joga morteiro no chão para tentar incriminar jovem no Centro do Rio – Lauro Sobral/Reprodução / Agência O Globo

 

Redação

3 Comentários

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  1. Vixe, Maria!

    O flagrante forjado, claríssimo nas imagens dos vídeos, foi na mesma época da prisão de Rafael Braga Vieira, morador de rua, por carregar um frasco de pinho sol e um de água sanitária que disseram ser coqueteis molotov.

    Esse morador de rua já foi condenado pela justiça a cinco anos de prisão, mesmo a laudo tendo afirmado; “ínfima possibilidade” de produtos serem utilizados como bomba incendiária, mas juiz acatou o pedido do MP e condenou Rafael Vieira, segundo a revista Carta Capital.

    Enquanto isso o major flagrado tentando incriminar um menor de idade….

     

  2. Sem flagrante, nem culpado

    A agressão ao coronel Reinaldo da PM paulista – o crime mais fotografado e policiado do mundo – não teve sequer um flagrante e nenhum culpado foi identificado pela policia até hoje.

    Não sei o que é pior: uma polícia eficiente demais ou de menos…

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