Ministro da Transparência teria orientado contra inquéritos da Lava Jato

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – O atual ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, foi outra figura exposta pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, em acordo de delação premiada com investigadores da Lava Jato. O então funcionário de carreira do Senado, atuando como conselheiro do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), participou de reuniões com Machado e o presidente do Senado Renan Calheiros, criticando a Operação, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e buscando saídas para as investigações que tramitam contra Renan e Machado no Supremo Tribunal Federal (STF).
 
A gravação da conversa entre os três foi gravada na residência oficial de Renan Calheiros, no dia 24 de fevereiro, quando Silveira atuava no CNJ, por indicação de Renan Calheiros. Os áudios foram divulgados pelo Fantástico, da TV Globo, neste domingo (29).
 
Renan mostrava-se preocupado com um inquérito que envolve ele e o ex-presidente da Transpetro que apura o recebimento de propina por meio de doações eleitorais, em troca de facilitar um contrato para renovar a frota da Transpetro a um consórcio de empresas. Em depoimento à Lava Jato, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Yousseff afirmaram que a campanha de Renan recebeu R$ 400 mil de duas doações.
 
Na reunião, a delação de Costa é lida por Machado. Silveira faz, então, recomendações aos dois citados: “A única ressalva que eu faria é a seguinte: está entregando já a sua versão pros caras da PGR, né. (…) Eles não terão condição, mas quando você coloca aqui, eles vão querer rebater os detalhes que colocou (inaudível)”, diz o ex-conselheiro a Renan, sugerindo não entregar uma versão dos fatos.
 
Já a Machado, Silveira recomenda prestar explicações que iriam rebater as investigações: “Eu concordo com a sua condição de, tendo sido objeto de uma medida cautelar, simplesmente, não… Dizer assim: ‘olha, não é comigo isso…’ acho que tem que dizer, tem que se dirigir ao relator prestando alguns esclarecimentos, é verdade”.
 
No áudio, os três também criticam o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmando que ele “não sabe nada”. “Diz que o… Janot não sabe nada. O Janot só faz… (inaudível) cada processo tem um procurador”, disse Machado. “Eles estão perdidos nesta questão”, completou Silveira, afirmando, em seguida, que os procuradores “foram lá buscar o limão e saiu uma limonada”.
 
No acordo de delação com a PGR, Machado teria contado aos investigadores que Silveira procurou, diversas vezes, integrantes da força-tarefa da Lava Jato, para obter informações sobre inquéritos e investigações contra Renan. “E saía de lá com informações evasivas, que eram comemoradas por Renan”, teria relatado o ex-presidente da Transpetro, completando que o senador era visto como um “gênio” perante os investigadores da PGR, porque não tinham encontrado nada contra ele.
 
A reportagem da Globo aponta, ainda, que Silveira e outro advogado presente ao encontro, Bruno Mendes, orientaram dois investigados sobre como proceder em relação à Procuradoria. 
 
Em resposta, o atual ministro da Transparência, Fiscalização e Controle Fabiano Silveira afirmou que esteve na reunião na casa de Renan “de passagem”, que não tinha relações com Machado e que “jamais fez gestões ou intercedeu” junto a instituições públicas em favor de terceiros. “Chega a ser despropósito sugerir que o Ministério Público (…) possa sofrer qualquer tipo de interferência”, disse em nota.
 
Após a divulgação do encontro entre Machado, Renan e o atual ministro do governo interino de Michel Temer, o Sindicato Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e Controle (Unacon) faz protestos em frente ao prédio do Ministério da Transparência, antiga Controladoria Geral da União, pressionando pela saída de Silveira do cargo. Além disso, os manifestantes pedem que os funcionários de cargos de confiança do Ministério entreguem seus postos.
 
“Não tem como manter o ministro nessa situação. Estamos conversando com as chefias e já tem vários querendo entregar os cargos até que o ministro seja exonerado”, disse o presidente do Unacon, Rudinei Marques.
 
Nesta segunda (30), o sindicato também divulgou carta pública pedindo a demissão de Fabiano Silveira.
 
 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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