Salve Jorge e as crianças de Monte Santo

No dia 14 de outubro de 2012, uma reportagem do Fantástico sacudiu o país. Denunciava uma quadrilha de traficantes de bebês, formada por mães paulistas da região de  Campinas, em cumplicidade com juízes da região.

Oito dias depois, em 22 de outubro, estreou a novela Salve Jorge, abordando tema semelhante.

As duas iniciativas foram importantes, por abordar tema dos mais relevantes do crime organizado internacional: o tráfico de pessoas.

A apresentação da novela era assim:

Imagens da novela Salve Jorge“O início da trama conta a história de Morena (Nanda Costa). Ela tenta fugir da Capadócia depois de ser leiloada para homens do local. Em meio a pedidos de socorro da garota, a história retrocede oito meses e começa a mostrar a  vida dela, que é moradora do Complexo do Alemão. Morena batalha para cuidar do filho e foge de tiros no morro. A mãe da garota fica desesperada e vai atrás da filha”.

Era uma trama envolvente, centrada na mãe humilde que enfrenta o mundo para recuperar a filha.

Havia, no entanto, mais interessante amarrando a atenção de milhões de brasileiros por vários meses: a história da mãe humilde que teve os cinco filhos arrancados do seu convívio por uma organização criminosa envolvendo autoridades locais e mulheres da região de Campinas.

Assim ficou o texto do programa:

Há quase um ano e meio a família sofre com a ausência das crianças. Silvânia Maria da Silva, a mãe, ainda tentou impedir que os filhos fossem levados pelos policiais que tinham uma ordem judicial.

‘[Os policiais disseram que] se nóis impedisse, nóis iria preso, eu mais o pai (sic)’, relata, emocionada, a mãe. Sem ouvir os pais, os avós, nenhum parente, nem o Ministério Público – segundo o Fantástico -, o então juiz de Monte Santo, Vitor Manoel Bizerra, decidiu, de um dia para o outro, entregar as crianças a quatro casais paulistas. Desesperado, Jerôncio, o pai, passou a procurar o conselho tutelar da cidade. Mas acabou preso por desacato.

Para soltar Jerôncio, a polícia exigiu uma fiança de R$ 5 mil, valor muito acima das condições financeiras da família. Mas, no desespero, os pais dele venderam a casa onde moravam, a única que tinham. Foi derrubada logo depois pelo comprador para evitar a anulação do negócio. Hoje eles moram de favor e sofrem com a ausência dos netos.

Das cinco crianças, duas moram em Campinas, São Paulo. As outras três, na vizinha Indaiatuba. Tentamos conversar com os casais que têm a guarda provisória dos meninos, mas ninguém quer falar.

(…) [Segundo] o atual juiz de Monte Santo, Luiz Roberto Cappio, há uma lista de irregularidades nos processos. (…)

O juiz Vitor Manoel, que decidiu conceder a guarda provisória das crianças, hoje trabalha na cidade de Barra, a mais de mil quilômetros de Monte Santo. Ele não foi encontrado na cidade.

O Conselho Nacional de Justiça está investigando a atuação do juiz.”

Entrevistados ouvidos pelo programa valeram-se do condicional para disparar suspeitas e acusações.

“Se ficar comprovado que houve má fé por parte dos magistrados, a corregedoria agirá com mão de ferro”, garantiu o ministro Francisco Falcão, corregedor nacional de Justiça.” Emitiu um pré-julgamento, falando sob hipóteses, que seria repetido no recozido do caso, no domingo passado.

 

Mais taxativa foi a Ministra-Chefe da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, sugerindo a entrada da Polícia Federal no caso:

 “Tudo indica que exista uma quadrilha traficando e, lamentavelmente, com apoio de alguém de dentro do próprio sistema de Justiça”, acredita.

 

 

Antes de entrar nesse terreno espinhoso, é necessário conhecer melhor os embates ideológicos em torno do tema adoção.

Veja o depoimento ao JornalGGN da médica Letícia Fernandes, A mãe afetiva que foi transformada em traficante

Veja as matérias veiculadas pelo Fantástico e pelo Jornal Nacional em As reportagens veiculadas pelo Fantástico e pelo Jornal Nacional.

Luis Nassif

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