Os abusos de Marcelo Bretas e a leniência do CNJ, por Luis Nassif

Com o dossiê Intercept, a promiscuidade da Lava Jato com o dinheiro público, as parcerias políticas e de negócios, agravadas pela anomia dos órgãos de controle, estão expondo o Poder Judiciário ao maior strip tease moral da história. Especialmente quando forem divulgados os diálogos com outros atores, os tribunais superiores e os sócios da luta anticorrupção.

O foco na Lava Jato Curitiba tem poupado até agora o juiz Marcelo Bretas, da Lava Jato Rio, capaz até de ofuscar Sergio Moro com suas extravagâncias imprudentes.

Assim como Moro, Bretas é dono de um estilo de escrita precário, medíocre mesmo.

Antes da Lava Jato, era um dos muitos desajustados sociais que saíram da toca impulsionados pelo método Olavo de Carvalho de autoajuda. Confira, a respeito, entrevista dada por Bretas à Revista Época, demonstrando um exibicionismo compulsivo, que foge dos padrões de normalidade (aqui) não apenas de magistrados, mas de qualquer adulto equilibrado ou com senso mínimo de ridículo.

Trata-se de um fenômeno psicossocial dos mais curiosos, um padrão psicológico tétrico, um tipo de comportamento que vem das profundezas do tecido social e se torna dominante no universo de ódio e morte da ultradireita.

Todos eles, Bretas, o Ministro da Educação Abraham Weintraub, o das Relações Exteriores Ernesto Araújo, o da Mulher, Famílias e Direitos Humanos, Damares Alves, o governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel, o próprio Bolsonaro e seus filhos são tetricamente semelhantes,  com o mesmo arquétipo, de pessoas inseguras social e intelectualmente, se empoderando dos discursos e das pós-verdades de Olavo, e da fama rápida das redes sociais, para ganharem autoconfiança e se tornarem anjos vingativos, cultivadores do ódio e da morte como instrumentos de exibicionismo e de demonstração de poder.

Aguardo algum psicanalista social que possa explica esse fenômeno.

Bretas caiu de cabeça nas delações premiadas, permitindo que um jovem advogado completamente obscuro, de menos de 30 anos, vindo do interior, se transformasse no advogado de delação premiada mais requisitado da Lava Jato Rio (clique aqui). Até dois anos antes, o advogado tinha um pequeno escritório no fundo de uma farmácia, no interior fluminense.

Não apenas isso, como atuou politicamente para garantir a eleição de seu amigo, e também ex-juiz Wilson Witzel, criando fatos políticos contra o adversário Eduardo Paes.

Agora, tem utilizado dinheiro público, das multas pagas pelos réus, para todo tipo de gasto, em nenhum controle externo.

  • Repassou dinheiro para WItzel conseguir pagar aposentados.
  • R$ 4 milhões para aquisição de equipamentos e sistemas eletrônicos para a Lava Jato Rio. Não se tem notícia de licitação para a compra.
  • R$ 1, 1 bilhão para equipamentos para a Polícia Técnica do Rio de Janeiro. O valor é tão absurdo que considerei a hipótese de terem confundido milhão com bilhão. De qualquer modo, nos relatórios sobre o tema, a quantia vem expressa em bilhões até os centavos;
  • R$ 250 milhões para pagamento do 13º salário dos servidores do Estado do Rio de Janeiro;
  • R$ 18,7 milhões para “viabilizar o recebimento das verbas provenientes da recuperação de valores e/ou multas oriundas da atuação do MPF em ações de combate à corrupção e destiná-las a recuperação da rede física das escolas públicas do Estado. Uma justificativa confusa. O dinheiro é para viabilizar o recebimento de verbas. Que tipo de trabalho exige tanto dinheiro assim?

Era para esses abusos terem sido julgados em junho pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Mas vários conselheiros pediram tempo para pensar.

Agora que o escândalo avança, com o dossiê Intercept promovendo um strip tease moral da Justiça, seria bom o CNJ se antecipar.

 

 

 

Luis Nassif

13 Comentários

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  1. Eu não tenho duvida de que os excelentíssimos senhores doutores cavalheiros conselheiros do CNJ estão vendo tudinho desde o início. De onde menos se espera é que não vem nada mesmo. No máximo ficará como uma carta para ser posta na mesa quando for conveniente, é assim que a banda toca nos intestinos do judiciário.

  2. Sobre a questão moral e psíquica, já há bem uns 30 anos numa Ilustrada (caderno da FSP) de domingo, houve uma entrevista de uma sra. francesa, se bem me lembro uma psicanalista ou estudiosa do comportamento humano, prevendo dificuldades para quando jovens da geração daquela época passassem a ocupar postos de destaque na sociedade, de que coisas como esta pudessem acontecer. Ela indicava que existia uma exagero na combinação: laissez faire X super proteção. Esta combinação, salientava ela que estava deformando moralmente alguns a que se tornassem sujeitos sem limites, com dificuldades em aceitar e dar não e possivelmente frustrados. Passadas as 3 décadas é o período em que muitos deles estão ai, confusos e tentando se ajustar num mundo complexo, insalubre e adoecido. A tentativa descontrolada de aparecer é um provável sinal da necessidade de aprovação. Muitas vezes, são pessoas em um corpo adulto, mas vivendo em puberdade emocional. Com o ego irritadiço, já deturpado, são inflados e reagentes aos likes de aplicativos de redes sociais. É muito esquisito uma sociedade onde um juiz até ontem desconhecido, numa rede mais “formal” como o twitter, tenha mais de 200 mil seguidores e poste imagens e vídeos toscos, aceitáveis a um adolescente. Pode ser esquisito, mas são sinais destes tempos de muito entretenimento e por outro lado, bastante depressivos dos servos de algoritmos, meras linhas de programação desenvolvidas para manter o sujeito absorvido e entregue ao seu dispositivo pessoal.

  3. CNJ? Kkk… Tá brincando, né? São da mesma laia.
    Como se diz no interior “gambá cheira gambá”.
    Vai dar em nada. Onde já se viu órgão corporativo julgar seus membros?

  4. Mas de onde tiraram que vara federal de primeira grau pode ter verba própria e usar como quiser, sem controle algum?

    Nunca ouvi falar disso, as multas e o dinheiro recuperado, até onde saiba, vão para contas judiciais, não é da vara….ou estou errado????

  5. Nassif quando os holofotes aparecem a modéstia vai para o saco junto com a responsabilidade a imparcialidade e o recato necessário a um magistrado. E já virou pentecostal necessidade básica para ser considerado neste governo. Fazemos qualquer negócio .

  6. Tendo lido o relato da mtéria – assustador, tétrico – agora passo a aguardar ansiosamente a opinião de um especialista, psicanalista social que possa explica esse fenômeno – que basicamente embasa muitas das tragédias que hoje assolam o nosso país.

  7. “navegar é preciso, viver não é preciso” atribuído, por Fernando Pessoa, aos navegadores…

    o que se depreende dos vazamentos é que o cerne é o celular de deltan: resta saber qual a charada, se vazado por ou por sua esposa…?

  8. Dar tanto crédito assim , sem as devidas e técnicas análises , a mensagens que são divulgadas a conta gotas, e que o principal jornalista se nega a ceder uma cópia para autenticação, ao meu ver , não merece crédito algum, ainda por cima que o mesmo jarnalista tem um forte vínculo com alguém “da oposição”, dando a impressão de oportunismo, sem contar a própria parcialidade deste mesmo jornalista, que todos já viram que tomou “partido” nesta história, e só para informar, nunca fui fã de Sérgio Moro, e principalmente da lava jato, que ao meu ver, destruíram mercado de trabalho com todas as ações impostas as maiores empresas do país, desempregado milhões de pessoas, incluindo muitos amigos e parentes que tenho, mas não sou tão leigo, e percebo quando algo não está certo, e até aparecerem áudios e vídeos comprometedores e inquestionáveis, pra mim o intercept não vai ter credibilidade alguma !!!!

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