Os processos roubados da Justiça Federal em São Paulo

Nassif, você viu essa matéria do Fantástico? A justiça federal de SP foi vítima de furto de processos e foi justamente o gabinete do juiz Ali Mazloum. O juíz diz ter suspeita de que está sendo vítimas de arapongas. A operação Satiagraha é citada.

Não consegui adicionar o vídeo aqui.

Do Fantástico

Faxineiras recebiam R$ 1 mil por processo roubado da Justiça de SP

O Fantástico mostra como nem mesmo um fórum da Justiça Federal consegue escapar da ação de criminosos. Processos importantes foram roubados dentro do gabinete de um juiz em São Paulo — e agora a Polícia Federal está atrás do mandante do crime, como você vê na reportagem de Eduardo Faustini. 

O edifício era pra ser absolutamente seguro. Mas o atrevimento de um homem mostrou que nem mesmo um prédio da Justiça Federal em São Paulo está protegido do crime. 

Para conseguir o que queria, o bandido só precisou contactar quem tem acesso a praticamente tudo lá dentro — o pessoal da limpeza é que faria o serviço sujo. 

“No dia 21 de setembro, uma colega de serviço chegou em mim falando que tinha um esquema pra ganhar dinheiro”, disse a faxineira, que não quis se identificar. 

A mulher, que pediu pra não ser identificada, era uma das faxineiras da empresa encarregada de limpar o prédio da Justiça Federal. 

“Era pra tirar processos da sala daqui da federal, e que seria mil reais, entendeu?”, disse a faxineira.

Fantástico pergunta: por cada processo? 
Faxineira: Isso. Por cada processo. 

Segundo as investigações da Polícia Federal, o mandante do crime se chama Daniel Sérgio Bernardino. 

Ele costumava ficar nas imediações do prédio, observando o movimento. Até que, no mês passado, Daniel abordou um faxineiro, reconhecido graças ao uniforme da empresa. 

A abordagem aconteceu nessa praça, que fica atrás do prédio. 

Fantástico:Que tipo de processo que ele te orientou? 
Faxineiro: Interessava pra ele qual tinha valor de dinheiro. Outros processos não ‘servia’ pra ele. 

Como cada turma de faxina só pode trabalhar em um determinado setor, o faxineiro pediu ajuda a colegas que trabalham no andar da 7ª Vara Criminal. Elas toparam. 

Primeiro, uma das faxineiras do esquema recebeu de Daniel um telefone celular pra se comunicar com ele. Ela conseguiu furtar um processo qualquer, e entregou o volume a Daniel na rua. Depois, por telefone, Daniel explicou que queria outro tipo de processo. 

“Tem que ser enriquecimento ilícito, porque envolve político e empresas. Ele falou que queria esse”, disse a faxineira. 

Elas então furtaram um processo do gabinete do juiz Ali Mazloum. É um processo protegido por segredo de Justiça. 

O juiz ficou conhecido ao denunciar o suposto envolvimento ilegal de agentes de inteligência do Governo Federal — os chamados “arapongas” — na operação Satiagraha. Essa operação investigou corrupção, desvio verbas públicas e lavagem de dinheiro em 2008. 

“Não se descarta em hipótese nenhuma que por trás seja mesmo ação de arapongas, até pelo perfil das pessoas envolvidas e que ainda não podemos revelar, vamos dizer assim, mais detalhes”, disse o juiz. 

Ele diz que no passado foi vítima de arapongas. 

“Nós também aqui estivemos à frente de um processo onde foram descobertas ações de arapongas”. 

O segundo furto de processo aconteceu num sábado de manhã, quando não há expediente na Justiça. 

Essas imagens mostram o momento em que três faxineiras saem do gabinete do juiz Ali Mazloum. 

Uma delas carrega um saco de lixo. O processo está dentro do saco. 

Uma outra imagem mostra duas das faxineiras, momentos depois, já de roupa trocada, deixando o prédio depois do expediente. O saco com o processo está dentro desta bolsa. 

Elas caminham cerca de 500 metros, até uma galeria comercial, onde se encontram com Daniel. Uma imagem mostra Daniel e as faxineiras entrando na galeria. Eles pedem refrigerantes em uma lanchonete e se sentam para fazer a transação. 

Daniel devolve o processo que não tinha interesse pra ele e pega o novo, que elas acabaram de furtar. E ainda explica como o golpe ficaria mais sofisticado dali pra frente, se tudo corresse bem. 

“Ele falou que ia dar câmeras, um aparelho de celular e um notebook. Eu olhar os processos, gravar e mandar para ele pela internet”, disse a faxineira. 

O furto aconteceu no sábado e foi descoberto já na segunda-feira. 

O processo que Daniel não queria e entregou de volta às faxineiras foi encontrado nesta lata de lixo e devolvido ao tribunal. 

A Polícia Federal chegou ao mandante depois de analisar as imagens das câmeras de segurança e tomar o depoimentos dos faxineiros. 

Além da ação de espiões, o juiz e a Polícia Federal têm outra suspeita. 

“Uma organização criminosa para vender processos, para vender facilidades a acusados, seria um ramo, vamos dizer, assim, inédito, novo”, disse o juiz. 

Os processos guardados no prédio da Justiça Federal não estão informatizados, o que abre mais uma linha de investigação. 

“A legislação determina que se faça restauração do processo desaparecido. Ocorre que às vezes é impossível fazer uma restauração quando os documentos que nele estavam inseridos são insubstituíveis, por exemplo”, disse Mazloum. 

Ou seja, o criminoso pode ter interesse no arquivamento de um processo e por isso some com os documentos. 

Daniel Sérgio Bernardino está sendo procurado em quatro estados brasileiros. São locais em que existem registros de residência dele. 

Todos os faxineiros envolvidos nos furtos foram demitidos. Eles vão responder por formação de quadrilha e subtração ou destruição de processos. Se condenados, podem pegar até oito anos de prisão. 

Procurada pelo Fantástico, a Justiça Federal de São Paulo não se manifestou sobre os furtos. 

“A partir do momento que começam a subtrair processos aí dos fóruns para oferecer eventualmente para os acusados ou pessoas interessadas ou até mesmo pra extorquir, qual a credibilidade da justiça?”, disse o juiz

Luis Nassif

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