Pagamento de primeira indenização em Mariana gera divergência

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
[email protected]

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

da Agência Brasil

Pagamento de primeira indenização em Mariana gera divergência

por Leo Rodrigues – Repórter da Agência Brasil, no Rio de Janeiro

Meneghin avalia que o dossiê será um instrumento importante, que permitirá melhor avaliação da proposta de indenização final. Segundo ele, a aplicação do cadastro pela Cáritas configura uma conquista dos atingidos, pois quando as mineradoras e a Fundação Renova conduziam esse processo, havia impactos não considerados que deixariam muitos excluídos. “Eles sempre resistiram, por exemplo, a pagar dano moral. E, em muitos aspectos, o dano moral é muito maior que o material. Quando a pessoa perde sua casa, o maior impacto é o psicológico”, diz.

Integrantes da comissão de atingidos defendem também que todo o tempo perdido com reuniões semanais seja passível de indenização por danos morais. Alguns reclamam que suas vidas hoje se resumem a participar de longos e cansativos encontros, três a quatro vezes por semana.

“Passo horas em função de reunião e não recebo nada por isso. Estou tentando representar a comunidade, porque há muitas pessoas sem instrução. O que falam para eles, está bom. A maioria não tem nem o primeiro grau. Sabem só o fundamental para viver na comunidade”, diz Romeu Geraldo de Oliveira, que vivia em Paracatu. “Devem ter vários tipos de indenização, isso tem que ficar claro. Se pensar sobre a união que a gente tinha, e o fato de hoje estarmos em bairros separados, já temos um tipo de indenização. Ter passado a noite no meio do mato é outro tipo de indenização. Tudo isso é direito nosso”, complementa José dos Nascimento de Jesus, conhecido como Zezinho do Bento, outro integrante da comissão de atingidos.

A situação de Mariana vem sendo tratada no âmbito da Justiça estadual e diverge dos outros municípios da Bacia do Rio Doce que foram afetados, cujas ações foram federalizadas. Daí as especificidades. No restante da bacia, o cadastro está sendo produzido pela Fundação Renova e muitas indenizações já foram pagas.

Exclusão

De acordo com o promotor Guilherme Meneghin, os primeiros critérios que haviam sido adotados pela Fundação Renova excluiriam em Mariana cerca de mil pessoas. “Não concordavam em indenizar lucro cessante de algumas atividades, como de apicultura, por exemplo”, acrescenta. Na Justiça, ficou definido que a Cáritas seria encarregada de conduzir o cadastro que elencará os danos sofridos por cada vítima.

Meneghin explica que o atingido não é obrigado a concordar com a proposta apresentada pela Fundação Renova e pode negociar os valores. Em última instância, ele terá a possibilidade de entrar com o pedido de liquidação e cumprimento de sentença. Nesse caso, o processo vai diretamente para a fase de execução e caberá a um juiz fixar o valor que terá de ser pago de imediato, pois eventuais recursos não terão efeito suspensivo.

“É importante destacar as garantias previstas no acordo que firmamos em outubro. Uma delas estabelece a inversão do ônus da prova. Isto é, tudo que o atingido declarar será verdadeiro até prova em contrário. Isso significa que o juiz, na hora de avaliar o processo, deverá dar uma interpretação mais favorável ao atingido. Se ele está dizendo que o dano moral é maior, caberá à Fundação Renova provar que é menor. Essa regra subverte a regra natural do processo em benefício dos atingidos”, afirma Meneghin.

Atraso

Passados três anos da tragédia, a ausência de pagamento de indenizações incomoda boa parte dos atingidos. “É uma coisa que poderia dar pra gente uma condição melhor. Se tivesse a indenização poderia, até a reconstrução da nova Paracatu, tentar alguma coisa diferente para estabilizar as finanças. Eu tinha minha sorveteria. Hoje não tenho nada”, lamenta Romeu. Parte de sua renda atual vem de um auxílio mensal pago pela Fundação Renova, que ele considera insuficiente. Esse auxílio, que deverá ser garantido por pelo menos um ano após o reassentamento, foi previsto em acordo judicial e não configura verba indenizatória.

Romeu Geraldo de Oliveira vivia em Paracatu – Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Apesar da demora nos pagamentos, Zezinho do Bento vê um ponto positivo. “Ainda não estamos reassentados e sabemos que tem pessoas com melhor capacidade de administrar, mas outras não. A pessoa dentro da sua casa sabe determinar muito bem onde gastar o dinheiro. Mas morando na cidade, se gasta muito fácil. E uma vez a indenização é paga, precisa respeitar cada um, que tem o direito de usar o dinheiro como quiser. Então, penso que no final, coincidindo com o reassentamento, pode acabar sendo melhor”.

 

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador