Palocci diz que Ambev fez “pagamentos indevidos” para Lula e Dilma

Em delação à PF, ex-ministro afirma que empresa fez pagamentos para impedir aumento de impostos; Cervejaria nega e diz que carga tributária aumentou 60% desde 2015

Jornal GGN – O ex-ministro Antonio Palocci, que estava preso desde setembro de 2016 e a partir desta semana passou a cumprir o restante da pena em regime aberto, relatou em seu acordo de delação premiada à Polícia Federal que a Ambev fez “pagamentos indevidos” aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e a ele próprio. As informações são do jornal Estado de S.Paulo que teve acesso a uma decisão sigilosa do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, relacionada ao caso.

Segundo o ex-ministro, o objetivo da Ambev era impedir o aumento de impostos sobre bebidas alcoólicas. No despacho obtido pelo Estado não há menção de data ou valores supostamente feitos pela empresa. “Os detalhes da delação de Palocci estão em outros documentos, os anexos, que estão sob sigilo” escrevem Rafael Moraes Moura e Breno Pires que assinam a matéria.

A Ambev manteve um contrato com a Projeto Consultoria Empresarial e Financeira Ltda., empresa de consultoria de Palocci, por três anos. E chegou a pagar R$ 1,21 milhão pelos serviços da consultoria, segundo um relatório da Receita Federal produzido em outubro de 2016.

O Estado de S.Paulo aponta que, durante o governo Dilma, alguns aumentos de impostos anunciados para o setor de bebidas foram retardados. Em setembro de 2014, o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a se reunir com executivos da Ambev e de outras empresas de bebidas, hotéis e bares, para acordar um “pacto com o setor” que resultou na contenção do aumento de preços durante a Copa do Mundo.

Em nota à reportagem do Estado de S.Paulo, a Ambev disse que “as alegações relatadas” por Palocci “são falsas e incoerentes”.

“Falsas porque nunca fizemos pagamentos de qualquer natureza para obtenção de vantagens indevidas. E incoerentes porque, desde 2015, o setor de bebidas sofreu um grande aumento da carga tributária referente a PIS/Cofins, da ordem de 60%, contradizendo tudo o que foi alegado”, argumentou.

O PT também respondeu ao jornal, acusando Palocci de fazer “um negócio milionário com a Lava Jato para sair da cadeia com muito dinheiro em troca de mentiras”. “Nada do que ele diga sobre o PT merece crédito, muito menos por meio de supostos vazamentos direcionados politicamente”.

A defesa do ex-presidente Lula também se posicionou, destacando que o ex-ministro “é apenas um instrumento da Lava Jato para atacar (o ex-presidente) com mentiras e narrativas que não podem ser confirmadas por testemunhas ou por documentos”.

O acordo de delação premiada de Palocci foi homologado por Fachin em outubro de 2018. O ex-ministro tentou durante meses fechar com o Ministério Público, mas acabou fazendo a negociação do acordo com a Polícia Federal.

Segundo a Lava Jato, delação de Palocci era ‘muito ruim’ 

No dia 29 de julho, a Folha de S.Paulo divulgou trechos de mensagens trocadas por aplicativo entre os procuradores da Lava Jato, onde eles demonstraram desconfiança na delação de Palocci.

“Não só é difícil provar, como é impossível extrair algo da delação dele”, escreveu Laura Tessler em uma conversa de 25 de janeiro de 2018.

No dia 3 de outubro, dois dias depois que Moro tornou pública a delação de Palocci, repercutida pelos jornais de todo o país, a poucos dias do primeiro turno da eleição presidencial do ano passado, os procuradores da Lava Jato voltaram a criticar o acordo no Telegram. Na ocasião, Tessler continuou:

“O acordo é um lixo, não fala nada de bom (pior que anexos Google). Gebran pediu para nos manifestarmos e vamos dar uma retomada nos anexos e nas supostas corroborações. Se o acordo ganhar força, vão querer aplicá-lo para reduzir a pena do Palocci na apelação do caso no qual já foi condenado (bizarro e absurdo)”.

Segundo os procuradores, até o então ministro Sergio Moro considerou o material fraco: “Russo [apelido de Moro] comentou que embora seja difícil provar ele é o único que quebrou a omerta petista”, escreveu no dia 25 de setembro de 2018 o procurador Paulo Roberto Galvão para os colegas. Omertà é o código de honra dos mafiosos italianos.

O caso envolvendo Palocci e a Ambev foi remetido por Fachin à Justiça Federal de São Paulo, atendendo ao pedido da Procuradoria da República de São Paulo para concentrar os casos relatados por Palocci na 6.ª Vara Federal Criminal, especializada em crimes financeiros e lavagem de dinheiro.

Redação

6 Comentários

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  1. O jogo está manjado. A Lava-Jato precisa de algum fato novo, prende os de sempre, faz o Palocci – um refém da ORCRIM – inventar qualquer coisa.

    E, como sabemos, cada vez cola menos.

  2. Tá ficando chato… cada vez que o golpe fica mais exposto, inventam uma “nova delação do Palocci”, Bolsonaro diz um despautério, Moro diz “conje” ou Lebbos dá uma canetada ilegal, quem sabe até combinada com o STF:

    – “Comete um absurdo jurídico aí, Carolina, que a gente tá precisando passar uma imagem de garantidor, pode ser?”

    Claro, tudo isso tácito.

  3. Peralá, vamos às entrelinhas, falar de Palocci não dá : “As informações são do jornal O Estado de São Paulo que teve acesso a uma DECISÃO SIGILOSA (grito meu) do ministro…”. Foi através de um hacker ? de telepatia ? do Estado Islâmico ? ou é verdade esse bilete ?

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