Onde Janot viu crime, Fachin viu indícios a serem apurados

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Atualizado às 17:30
 
 
Jornal GGN – Ao negar a prisão temporária do ex-procurador e advogado Marcelo Miller, o ministro relator no Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, não absolveu Miller das acusações: disse haver “indícios suficientes” de que os executivos Joesley Batista e Ricardo Saud “omitiram” ilegalidades supostamente cometidas pelo advogado, e pediu apuração.
 
“A análise do áudio e dos documentos juntados na mídia das fls. 15 revela indícios suficientes de que os colaboradores omitiram, no momento da formalização do acordo de colaboração premiada, informações a que estavam obrigados prestar sobre a participação do então Procurador da República Marcello Miller no aconselhamento destes quando das negociações dos termos da avença”, apontou Fachin.
 
No mesmo pedido de prisão dos executivos e de Marcello Miller, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, havia solicitado a revisão dos benefícios no acordo de delação premiada junto aos delatores da JBS. A decisão que tramitava em sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF) tornou-se pública neste domingo (10), com a prisão de Saud e Batista e a suspensão do acordo até o fim da apuração.
 
No despacho, o ministro Edson Fachin entendeu que a prisão temporária dos empresários, válida por 5 dias, “é medida que se impõe”, considerando “múltiplos os indícios, por eles mesmos confessados, de que integram organização voltada à prática sistemática de delitos contra a administração pública e lavagem de dinheiro”.
 
Conforme expôs o GGN, os executivos do grupo J&F decidiram se entregar de forma espontânea, evitando uma medida cautelar da Polícia Federal, o que se concretizou na tarde deste domingo. 
 
Além de determinar a prisão de ambos e negar a de Marcello Miller, ex-procurador que integrava a força-tarefa da Lava Jato e que se tornou advogado do escritório que fechou a colaboração da JBS junto à Procuradoria-Geral da República (PGR), Fachin decidiu pela “parcial suspesão” da revisão do acordo de Saud e Joesley.
 
Janot abriu investigação sobre a possível omissão de acusações pelos delatores na última segunda-feira (04) e os três investigados foram ouvidos pela PGR entre quinta (14) e sexta (15). No mesmo dia, o procurador-geral não se viu convencido de que tanto os executivos, como o advogado não tivessem cometido ilegalidades no fechamento do acordo e pediu as prisões ao STF.
 
Ainda na própria sexta-feira, o ministro relator proferiu sua decisão, acatando em parte: com a prisão de Joesley e Saud, negando a detenção temporária de Miller, e suspendendo o acordo fechado com ambos até o fim da investigação. 
 
Dessa forma, ainda que não tenha decidido pela prisão de Marcello Miller, Fachin tampouco abriu brechas para arquivar o suposto envolvimento do advogado em ilegalidades na delação de empresários da JBS. 
 
“Percebe-se pelos elementos de convição trazidos aos autos que a omissão por parte dos colaboradores quando da celebração do acordo, diz respeito ao, em princípio, ilegal aconselhamento que vinham recebendo do então Procurador da República Marcello Miller”, considerou o ministro do Supremo.
 
Ainda que isolando o advogado na suposta ilegalidade, na decisão de sexta, Fachin disse que, em liberdade, são os empresários que “encontrarão os mesmos estímulos voltados a ocultar parte dos elementos probatórios”, como o que “ocorreu, ao que tudo indica, de forma parcial e seletiva”.
 
Mas, após apontar suspeitas e de considerar “consistentes os indícios de que pode ter praticado o delito de exploração de prestígio e até mesmo de obstrução às investigação” por Miller e de que teria sido “cooptado pela organização criminosa”, o ministro não conseguiu encontrar “elemento indiciário com a consistência necessária à decretação da prisão” do ex-procurador e advogado.
 
Outro lado
 
Em resposta, Marcello Miller nega as acusações, classificando-as como “conteúdo fantasios e ofensivo” e “reitera que jamais fez jogo duplo ou agiu contra a lei”, assim como “nunca obstruiu investigações de qualquer espécie, nem alegou ou sugeriu poder influenciar qualquer membro do MPF”.
 
Leia o comunicado do ex-procurador enviado à imprensa:
 
Marcello Miller esclarece que: 
 
Repudia veementemente o conteúdo fantasioso e ofensivo das menções ao seu nome nas gravações divulgadas na imprensa e reitera que jamais fez jogo duplo ou agiu contra a lei.
 
Não tinha contato algum com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, nem atuação na Operação Lava Jato desde, pelo menos, outubro de 2016. Nunca atuou na Operação Greenfield, nem na Procuradoria da República no Distrito Federal.
 
Enquanto procurador, nunca atuou em investigações ou processos relativos ao Grupo J&F, nem buscou dados ou informações nos bancos de dados do Ministério Público Federal sobre essas pessoas e empresas.
 
Pediu exoneração em 23/2/2017, tendo essa informação circulado imediatamente no MPF. 
 
Nunca obstruiu investigações de qualquer espécie, nem alegou ou sugeriu poder influenciar qualquer membro do MPF.
 
Teve uma carreira de quase 20 anos de total retidão e compromisso com o interesse público e as instituições nas quais trabalhou.
 
Ressalta que sempre acreditou na justiça e nas instituições, e continua à disposição, como sempre esteve, para prestar qualquer esclarecimento necessário e auxiliar a investigação no restabelecimento da verdade.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. São todos bandidos, todos inocentes, ou tudo misturado?

    Eu não estou conseguindo mais distinguir quem é bandido quem é mocinho nessa história toda. A Revista do Esgoto alguma vez falou a verdade? Alguma das acusações canalhas do JN podiam ser verdadeiras? O pedido de habeas corpus do Cunha estava correto, porque o cara está preso sem ter sido julgado? Quando tudo terminar, moro estará preso por alta traição ou será Ministro no STF? Essa história toda é tão surpreendente como as Ilhas Faroe ganharem a Copa do Mundo no ano que vem. Gilmar sofrerá impeachment ou vai virar Presidente da República? Janot vai dirigir o Palmeiras, o Corinthians, ou o Madureira? Aécio vai criar uma ONG contra as drogas ou o Ministério da Saúde vai proibir a comida mineira por excesso de colesteterol e calorias (leitão à pururuca, torresmo, polenta, etc.)? Julio Cortázar, volte ao mundo por favor e reescreva essa história toda. Aqui no Brasil, Realismo Fantástico só no Fantástico, aos domingos.

  2. O GOLPE DADO POR TEMER, SÓ
    O GOLPE DADO POR TEMER, SÓ FOI POSSÍVEL COM A UNIÃO VÁRIAS QUADRILHAS DE LADRÕES DO ERÁRIO, UNS QUE ROUBAM DESCARADAMENTE E OUTROS QUE ROUBAM USANDO ARTIFÍCIOS LEGAIS QUE SÓ ELES CONSEGUEM USAR.SÃO AS SEGUINTES AS PRINCIPAIS QUADRILHAS: – QUADRILHA DO TEMER, O PMDB.- QUADRILHA TUCANALHA, O PSDB.- QUADRILHAS ALIADAS DE POLÍTICOS DE OUTROS PARTIDOS.- E A MAIS PERIGOSA DE TODAS QUADRILHAS, A QUADRILHA DOS”BANDIDOS DE TOGAS”, SEM A QUAL AS OUTRAS QUADRILHA JAMAIS CONSEGUIRIAM ROUBAM UM CENTAVO QUE FOSSE DO ERÁRIO NACIONAL, POIS SE ESSA QUADRILHA TRABALHASSE COMO MANDA A LEI E O REGULAMENTO DE SEUS CARGOS E FUNÇÕES,, NINGUÉM OUSARIA ROUBAR O ERÁRIO, POIS SERIAM PRESOS IMEDIATAMENTE.https://www.youtube.com/watch?v=wHKIErwmG-4https://www.youtube.com/watch?v=ad5WB83Wx-U https://www.youtube.com/watch?v=ad5WB83Wx-U&t=618shttps://www.youtube.com/watch?v=l2QhigH5iUM  

     

  3. Por que será que por caminhos

    Por que será que por caminhos retos ou tortos a “justiça do stf ” sempre favorece os golpistas ? 

    Tem dúvida? imagine a festa da tropa do treme-treme e da galera do gilmar neste final de domingo ensolarado!!!

  4. O Brasil atual é uma grande mentira…

    pois todos, em seus feitos, antes e após o golpe, esbanjaram ilegalidades…………………………

    é por isso que foi muito fácil criar o ideal para o combate à corrupção. Sempre é fácil criar o ideal para o que não se quer

    sustentá-lo é outra coisa. É a confirmação de uma grande mentira,

    como estamos a ver com a dificuldade de torná-lo, o ideal, uma realidade

    Se não anularem toda esta farsa o Brasil passará a ser reconhecido e tratado como o país da ilegalidade garantida por lei

  5. Tem muita coisa estranha! A

    Tem muita coisa estranha! A grana para o procurador, foi muito, muito grande!

    O tal procurador era pessoa de total confiança do PGR e trabalhava ao seu lado. 

    Quem irá investigar o ex procurador, Janot? Sei. Ainda mais depois do encontro dele Janot com o tal advogado…

    Depois das declaraões do espanhol dando conta de possíveis, a serem investigadas, remessas de grana para a esposa de Moro e procuradores da Lavajato, fica parecendo que é modus operandi a coisa!

    Que tal o El pais ou o Gurdian, já que aqui, ninguém estará disposta a tal fazer uma boa visitinha para uma bela entrevista com o tal espanhol? 

    Quem sabe acaba de vez com esta história de herói nacional dos coxinhas!

    Não terá sido também por isso, toda esse desespero de Janot e de Moro? Tirar o foco dele Moro da jogada?

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador