Procurador da Mãos Limpas coloca em dúvida imparcialidade de Moro

“As pessoas, sabendo que Bolsonaro era o antagonista de Lula, tenderão a relacionar as duas coisas, condenação e nomeação?”
 
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
 
Jornal GGN – O ex-procurador da Operação Mãos Limpas, Gherardo Colombo, analisa de forma crítica a decisão de Sérgio Moro em deixar a função de juiz na Lava Jato para atuar na política, e em um superministério que reunirá Justiça e Segurança Pública.
 
Em entrevista para a Folha de S.Paulo, Colombo questiona se, diante da nomeação de Moro, quais perguntas passarão a ser feias por “aqueles que acompanharam os acontecimentos da Lava Jato”, indicando que a movimentação de Moro suscitará críticas ao trabalho da operação. 
 
“As pessoas, sabendo que Bolsonaro era o antagonista de Lula, tenderão a relacionar as duas coisas, condenação e nomeação?”, completa o ex-magistrado que hoje é professor, tendo antes destacado “que os juízes devem ser e parecer imparciais”. 
 
A Operação Mãos Limpas (Mani Pulite) foi um divisor de águas no combate à corrupção na Itália nos anos 1990. Provocou mudanças profundas no quadro partidário do país, levando ao desaparecimento de vários partidos políticos. Ao longo da operação, dez suspeitos cometeram suicídios por conta da grande exposição na imprensa, ocorreram assassinatos de reputação de inocentes e a ascensão de Sílvio Berlusconi.
 
Em 2004, o então juiz Sérgio Moro publicou o paper “Considerações sobre a operação Mani Pulite”, resumindo a estratégia da operação, claramente aplicada na Lava Jato: vazamento torrencial de depoimentos, a marcação cerrada sobre políticos do centro do poder, o pacto incondicional com os grupos de mídia e a prisão de suspeitos até que aceitem a delação premiada.
 
A passagem para a vida política parece, mais uma vez, imitar os passos da Mani Pulite, isso porque o coordenador da operação italiana, o ex-procurador da República Antonio Di Pietro também foi nomeado para um cargo na política. Entretanto, para Colombo, o caso de Sérgio Moro trás algumas particularidades.
 
“Di Pietro foi nomeado ministro cerca de um ano e meio depois de ter abandonado as investigações da Mãos Limpas. E o foi por um presidente do conselho [primeiro-ministro], Romano Prodi, que havia militado por muito tempo na Democracia Cristã, um partido com muitos membros investigados e também presos na Mãos Limpas. Por isso, a nomeação não provocou comoção; se suscitou críticas, elas foram bastante limitadas”.
 
Colombo pontuou, ainda, que Moro deveria abandonar “definitivamente” a magistratura por um tempo, antes de assumir um cargo político.
 
“Para mim, um juiz que deseja assumir um compromisso político, principalmente se ele se tornou famoso por suas investigações, deveria abandonar definitivamente a magistratura e deixar passar um tempo razoável entre sua demissão e a entrada na política. Também deveria, em todo caso, assumir esse compromisso de maneira que não se pudesse nem sequer suspeitar de que a política influenciou suas decisões”. Para ler a entrevista na íntegra, direto na Folha de S.Paulo, clique aqui. 
 
Redação

4 Comentários

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  1. O ovo de Colombo

    Que o moro guardava ambições políticas de poder nunca foi segredo.

    Suas tentativas de  interferência na legislação sugerindo artigos de lei, suas festinhas e conversas de pé de orelha com políticos, sua magistratura protecionista de partidos amigos e inimiga feroz de outros partidos nunca deixaram dúvida tanto de sua parcialidade quanto de suas aspirações.

    O bom disso tudo é que ele, tendo se desligado da magistratura e emigrado para a política definitivamente, ficou a descoberto do amplo guarda-chuva que ampara a carreira do juiz. Ele é quase um cidadão comum e, no cargo de ministro, mais vulnerável que na função de juiz. Pode virar vidraça em breve tempo.

    Por ora, suas ações na magistratura não lhe trarão conseqüências, mas uma leve alteração dos humores políticos poderão trazer-lhe desagradáveis surpresas, ainda que por vias transversas.

    No mais, o Procurador da Mãos Limpas não tem porque duvidar da parcialidade do moro.

    Ele é e sempre foi parcial, sem dúvida.

    A magistratura só tem a ganhar com a sua exoneração.

    Pena que ele tenha deixado tantos seguidores.

      

  2. Tragédia e farsa

    Acho ingenuidade relacionar a Mãos Limpas com a Lava Jato, é entrar na lenga-lenga de Sérgio Moro.

    Se a primeira teve minimamente a intenção de desbaratar máfias – o que já é questionável -, a versão brasileira não apenas já nasceu pelas mãos de máfia local, experiente nesse tipo de operação (lembre-se do Banestado, por exemplo, com exatamente os mesmos “mocinhos e bandidos”), como sabia-se muito bem onde é que ia dar, pela experiência italiana.

    Talvez dê para relacionar a Lava Jato com a derrubada de Allende ou com o golpe aqui mesmo, em ’64, uma operação de “soft power” a serviço do capital baseado no dólar.

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