Temer quer ser visto como “vítima” de ativismo do Supremo e da PGR

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Justiça mudou de posição nas últimas duas semanas, após repercussão negativa de que Raquel Dodge teria poupado mandatário
 
Foto: Agência Senado
 
Jornal GGN – A estratégia do presidente Michel Temer é somar todas as medidas judiciais que recaem contra ele para alegar que está sendo vítima de ativismo judicial. Após a decisão de incluí-lo no inquérito contra peemedebistas por propina da Odebrecht, o ministro Luís Roberto Barroso autorizou a quebra de sigilo bancário do presidente na apuração sobre o decreto do Porto de Santos.
 
Barroso é o relator no Supremo Tribunal Federal (STF) da investigação que apura o pagamento de propina na edição do decreto que alterou as regras do setor portuário por Temer. O caso tramitava em segredo de Justiça na última instância e após a repercussão de que todos os investigados haviam sido alvo da quebra de sigilo, menos Temer, ainda em dezembro do último, novas informações foram divulgadas.
 
Apesar de ser um dos principais investigados na acusação de receber propina para favorecer empresas do setor portuário, quando publicou decreto que alterou as regras, a Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, discordou da Polícia Federal ainda no fim do ano passado e  entendeu que não era necessário quebrar o sigilo do presidente da República porque, segundo ela, não havia elementos para justificar a medida.
 
Foram os delegados da Polícia Federal responsáveis pela investigação do caso que pediram que os dados bancários e fiscais do mandatário fossem acessados, com o objetivo de verificar possíveis pagamentos ilegais quando o decreto foi publicado, em maio do último ano. As informações divulgadas, agora, são de que além de pedir a prorrogação da investigação, os delegados insistiram no acesso aos dados bancários de Temer, o que, agora se sabe, foi autorizado pelo ministro da Suprema Corte.
 
O delegado Cleyber Lopes, um dos que conduz a apuração deste caso contra Michel Temer, pediu ao ministro do Supremo Tribunal Federal a prorrogação das investigações por mais 60 dias, e Barroso concedeu. Enquanto o despacho de Dodge em relação ao acesso aos dados bancários e fiscais de Temer foi no sentido de que, ainda mais recentemente, em sua opinião, não haveria elementos suficientes para a quebra do sigilo, Dodge também reclamou ao ministro que a Procuradoria seja consultada sobre qualquer andamento do inquérito, como o pedido de um prazo maior. 
 
Por isso, a suposta modificação de postura da PGR teria ocorrido imediatamente após a repercussão negativa de que ela teria poupado o mandatário, após o dia 23 de fevereiro, quando a manifestação de Dodge era outra [relembre aqui]. A investigação foi aberta por Barroso em setembro de 2017 com base em parte das delações do dono da J&F, Joesley Batista, e do ex-executivo do grupo, Ricardo Saud, de que a empresa Rodrimar e Lira teriam sido beneficiadas nos contratos.
 
O caso transcorreu rapidamente e, da mesma forma como o inquérito que voltou a colocar Temer como um investigado do Supremo, ainda que com todos os esforços no âmbito parlamentar para engavetar os processos na Câmara dos Deputados, o mandatário voltou à ser mira direta da Justiça, diante das delações e arquivos levantados, desta vez, relacionadas à Odebrecht.
 
Do lado dos interlocutores, a palavra é uníssona e pré-articulada: as ações da PGR e do STF seriam “ativismo judicial” contra Temer na posição de “vítima”. Após a imprensa e o GGN divulgarem que o mandatário estaria preocupado e irritado com a última decisão de Fachin, de aceitar incluí-lo no inquérito contra peemedebistas relacionado à empreiteira, uma das vozes de Temer se manifestou.
 
O então deputado fiel de Eduardo Cunha e de Temer e atual ministro da Secretaria de Governo, que faz a articulação de temas do Planalto com parlamentares, decidiu falar publicamente que o presidente está sim irritado: “mais do que irritação, é indignação”, disse à imprensa.
 
As miras do Supremo contra Temer chegam em um momento em que o mandatário levanta a possibilidade de se apresentar como candidato à Presidência da República nas eleições deste ano.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

3 Comentários

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  1. Temer….

    Raquel foi empossada para esta função. Segóvia também. Só que o falastrão revelou o acordo. O Engavetador Geral da República fez sua dinastia. É a pavimentação da volta do Tucanistão. Alguém ainda se ilude? Quanto a Temer, o que todo o Brasil está se perguntando é se existe a possibilidade da prisão de Lula, então, o que está fazendo o resto do Poder Político ainda fora da cadeia? Temer até as Eleições e Lula na prisão? O Tucanato todo fora da prisão e com Inqueritos e Investigações sendo levados em ‘banho-maria’ à espera de prescrições? Isto todo Brasileiro sabe. O que acontece é a Lava Jato novamente tentando apresentar uma prova cabal para tentar prender Lula. Até as pedras sabem disto. Mas então começamos a nos perguntar: por que tanto interesse apenas na figura do ex-Presidente?  

  2. Ninguém entendeu direito…

    … o sarcasmo da G.R.E.S. Paraíso do Tuiuti. Não é exatamente que o Presidente-da-República é um Vampiro Estelionatário – É que o Presidente-da-República é um PALHAÇO!

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