Um Eco à Biblioteconomia: nota em reconhecimento, por Éderson Ferreira Crispim

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Um Eco à Biblioteconomia: nota em reconhecimento

por Éderson Ferreira Crispim

Aos que leem, escrevem ou contam histórias, compartilho um pouquinho do que a mim significou aproximar-me da obra de Umberto Eco (1932-2016).

Lembro-me de ouvir falar em Umberto Eco, não faz muito tempo, um pouco antes de ingressar no curso de Biblioteconomia em 2011. Havia eu me deparado com um achado na internet, um encontro, assim considerava e ainda o considero, foi em uma audioaula de filosofia espinosista proferida pelo professor-filósofo, brasileiro, Claudio Ulpiano (1932-1999).

Em sua conferência sobre Pensamento e Liberdade na obra de Spinoza (1632-1677) o professor enfaticamente definira para seu auditório que a obra de Spinoza — trago na memória, peço desculpas pela falta de exatidão — lembro-me dele dizer assim de maneira ecoante: “uma obra não é aquilo que ela foi, não é aquilo que nasceu dela, não é aquilo que ela é, mas o processo que ela tem”, e conclui dizendo que esta era a fórmula de Umberto Eco em a Obra Aberta.

Uma obra não teria nem começo e nem fim, e sua passagem, ou melhor, sua transmissão teria sua força na afecção de pessoa para pessoa, de modo que ao se articularem com determinada obra, seja ela um livro, uma pintura, uma dança, uma música, etc.

Tal obra só assumiria sua função em processo de disseminação, “e eu também sou pintor” disse Antonio da Correggio (1489-1534) ao se deparar com um quadro monumental de Rafael Sanzio (1483-1520), assim observa Montesquieu (1689-1755) modestamente em seu prefácio se curvando mas não desistindo de também apresentar sua obra O Espírito das Leis.

Agora, imagino que talvez estejam se perguntado, por que faço eu referências de longa perspectiva?

Faço senão para apontar como uma coisa liga a outra e assim sucessivamente: eis o espírito enciclopédico que encarnou em Umberto Eco, entusiasmado amador de livros que era, bibliófilo (assaz assim como quem ama tal fora o bibliófilo aprendiz Rubens Borba de Moraes (1899-1986) obcecado pela musa brasiliana), semioticista, incansável leitor do universo medieval, escrevia como se respirasse, foi tão a fundo no imaginário dos livros a ponto de se mergulhar com toda a força de um Capitão Acab no passado da Europa teológica para nos revelar os mistérios de uma biblioteca de mosteiro cujo riso era uma ofensa aos princípios, aos olhos símiles de personagens que guardavam segredos metonímicos com o universo literário e científico, de crítica sem ser vulgar, de espírito positivo sem sacrificar a imaginação.

Um de seus personagens que mais me chamou a atenção e que não por acaso faz homenagem ao escritor da Biblioteca de Babel é o bibliotecário cego chamado Jorge de Burgos, inspirado no escritor Jorge Luís Borges (1899-1986) como tantos nós, também bibliotecário, quando morreu já não enxergava. A remissiva é um elogio azul ao comedimento do espírito enciclopédico, belo e trágico do autor.

Outra experiência marcante e digna de nota tem sido trazida a nós, em sala de aula, pelo professor de voz tonitruante Ivan Russeff nas aulas de produção textual na FESPSP nos impele, entre tantas escolhas filmográficas, a assistir o O nome da Rosa e escrever como tarefa um ensaio sobre do que trata a obra.

Isso me faz pensar hoje como há obras que revelam a vocação aos iniciados à primeira vista se assim forem reveladas por outros leitores e leitoras. Portanto, é mais que necessário, à moda espinosista, produzir os encontros que irão fortificar as nossas vidas, em todas as esferas, eis a ética.

É impressionante como ecoa, ecoou e ainda irá ecoar a obra legada por Umberto Eco às bibliotecas pelo mundo a fora.

Éderson Ferreira Crispim é pós-graduando em Estudos Brasileiros: Sociedade, Educação e Cultura pela FESPSP e bacharel em Biblioteconomia e Ciência da Informação.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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