A Carolina, um soneto

Sugestão de Gilberto Cruvinel

“A Carolina” é um soneto escrito por Machado de Assis à época da morte de sua esposa, Carolina Augusta Xavier de Novais. O soneto é considerado a melhor peça de sua obra poética. Manuel Bandeira afirmaria, anos mais tarde, que é uma das peças mais comoventes da literatura brasileira.

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A Carolina

Machado de Assis.
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Querida! Ao pé do leito derradeiro,
em que descansas desta longa vida,
aqui venho e virei, pobre querida,
trazer-te o coração de companheiro.
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Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
que, a despeito de toda a humana lida,
fez a nossa existência apetecida
e num recanto pôs um mundo inteiro…
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Trago-te flores – restos arrancados
da terra que nos viu passar unidos
e ora mortos nos deixa e separados;
.
que eu, se tenho, nos olhos mal feridos,
pensamentos de vida formulados,
são pensamentos idos e vividos
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“A Carolina” por Paulo Autran
https://www.youtube.com/watch?v=7Mwy6G0ZPGk
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Fonte: 
Aguiar, Flávio. Murmúrios no espelho. In: ASSIS, Machado. Contos. São Paulo: Ática, 1976, p.110.

Redação

7 Comentários

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  1. … a Carolina do Chico

    Carolina 
    Nos seus olhos fundos 
    Guarda tanta dor 
    A dor de todo esse mundo 
    Eu já lhe expliquei que não vai dar 
    Seu pranto não vai nada mudar 
    Eu já convidei para dançar 
    É hora, já sei, de aproveitar 
    Lá fora, amor 
    Uma rosa nasceu 
    Todo mundo sambou 
    Uma estrela caiu 
    Eu bem que mostrei sorrindo 
    Pela janela, ói que lindo 
    Mas Carolina não viu 

    Carolina 
    Nos seus olhos tristes 
    Guarda tanto amor 
    O amor que já não existe 
    Eu bem que avisei, vai acabar 
    De tudo lhe dei para aceitar 
    Mil versos cantei pra lhe agradar 
    Agora não sei como explicar 
    Lá fora, amor 
    Uma rosa morreu 
    Uma festa acabou 
    Nosso barco partiu 
    Eu bem que mostrei a ela 
    O tempo passou na janela 
    Só Carolina não viu

  2. Tanto já se falou e escreveu sobre o amor dos dois

    Fala-se que os romances eram escritos pelos dois. Enquanto Machado ia trabalhar, Carolina dava-lhes prosseguimento. Depois o primeiro retomava. Daí uma visão das mulheres muito afiada para os modelos da época. Embora se tratasse do Realismo literário, Machado apresenta, a meu ver, e ao de muitos, uma visão diferenciada ao enfocar o comportamente e, principalmente, a alma feminina. Diferindo por exemplo de Eça de Queiroz, em língua portuguesa e de Flaubert, com suas mulheres frustradas em suas relações amorosas. Também de Balzac

    De qualquer forma, esse amor entre os dois, a julgar pelo que produziu, é forte. Até hoje. 

  3. Mais um soneto

    SONETO DO AMOR TOTAL

    Amo-te tanto, meu amor… não cante
    O humano coração com mais verdade…
    Amo-te como amigo e como amante
    Numa sempre diversa realidade

    Amo-te afim, de um calmo amor prestante
    E te amo além, presente na saudade
    Amo-te, enfim, com grande liberdade
    Dentro da eternidade e a cada instante

    Amo-te como um bicho, simplesmente
    De um amor sem mistério e sem virtude
    Com um desejo maciço e permanente

    E de te amar assim, muito e amiúde
    É que um dia em teu corpo de repente
    Hei de morrer de amar mais do que pude

    Vinícius de Moraes
    Em Antologia Poética.

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