A invasão da Amazônia pelos Cavaleiros do Apocalipse – Primeira parte
por Sebastião Nunes
– Caralho! – exclamou o cavaleiro Messias, vendo pela janela do avião a vasta floresta que se espalhava a seus pés. – Esse mundão de árvore parece não ter fim!
“Pelo jeito, ele nunca viu um mapa aéreo da Amazônia”, resmungou com seus botões o comandante. “Acho que a ignorância dele é maior do que eu imaginava”.
De olhos arregalados, o cavaleiro Messias corria de um lado para outro dentro do avião presidencial, soltando interjeições cabeludas em cada janela, diante do desfile ininterrupto e desordenado de árvores gigantescas.
– Boceta! – gritava numa janela.
– Porra! – berrava em outra janela.
– Caceta! – gemia numa terceira janela.
Afinal, cansado de ver e gritar, sentou-se na sua poltrona, suando e arfando.
– Escudeiro-Moro! – chamou. – Você por acaso imaginava que essa floresta fosse tão enorme de grande?
– Não senhor – confessou honestamente (sic) o escudeiro-Moro. – Sabe como é, chefe, lá no escritório, metido em processos até o pescoço, mal tinha tempo de atualizar as instruções que chegavam lá de cima.
– De que instruções está falando? – espantou-se o cavaleiro Messias. – Quando foi que eu te passei instruções antes que assumisse o cargo de escudeiro?
– Não me refiro ao senhor, chefe – esclareceu o escudeiro-Moro. – Me refiro às instruções da Matriz.
– Ah! – julgou entender o cavaleiro Messias, olhando de banda seu escudeiro. – As lá de cima, da Matrix.
– Da Matrix, não, chefe, da Matriz. Há uma pequena-enorme diferença entre ficção e realidade.
DEIXANDO A MATRIZ DE LADO
– Flávio – exclamou o cavaleiro Messias, voltando-se para o cavaleiro-senador. – Viu quanta terra estamos desperdiçando nessa floresta?
– Vi – respondeu conciso o cavaleiro Flávio, passando os olhos pelo Globo online para conferir os assassinatos do dia.
– Sabe quantos bifes come por dia a população de São Paulo?
– Não faço a menor ideia.
– Nem precisa saber. Basta imaginar. São milhões de bifes! Sem contar picanha e alcatra pra churrasco, carne moída pra almôndegas, carne muxibenta pra milhares de presos, patinho, chã de dentro, chã de fora, dobradinha… De onde vem toda essa carne?
– Não faço a menor ideia.
– Nem eu, que não sou açougueiro nem dono de frigorífico. Mas imagine só quanta carne de primeira, de segunda, de terceira, de quarta e de quinta estamos deixando de produzir! Imagine só a riqueza que está escorrendo entre nossos dedos!
– Mas alguém tá produzindo o suficiente, não tá? – argumentou o até então calado Eduardo, o cavaleiro-deputado. – O eleitorado não tá reclamando…
– Entendi onde o chefe quer chegar – disse com grande esforço intelectual o escudeiro-Moro. – Se existir sobra, o país pode exportar a sobra, é ou não é?
– Isso mesmo! – exclamou por sua vez o também até então calado, Carlos, o cavaleiro-vereador, sempre pronto a palpitar sobre o que não entendia, e que era quase tudo. – Podemos exportar pros Estados Unidos, pra Europa, Israel, pros países ricos da Ásia… pra África não, pois é claro que africano só come carne de bicho, né mesmo?
NOVOS FAZENDEIROS DO AR
– Escudeiro-Moro! – chamou o cavaleiro Messias. – Quantos hectares de capim são necessários pra alimentar uma vaca?
“Tô lascado”, pensou o escudeiro-Moro. “Se nem sei quanto mede um hectare, como vou saber de quantos hectares uma vaca precisa?”
– Não sei, chefe – confessou honestamente (sic) o escudeiro-Moro. Não faço a menor ideia. Minha área é delação premiada, vazamento, condenação, prisão, por aí.
– Mas que bobeira a minha! – exclamou mais uma vez o cavaleiro Messias. – Pra isso é que temos o ministério da fazenda. Pra isso é que temos economistas aos montes trabalhando pra nós. Pode deixar que eles calculam.
Todos ficaram felizes e voltaram a olhar pelas janelas a imensa floresta.
Lentamente o avião descia, enquanto os passageiros, vendo tanta árvore inútil, sonhavam em transformar a floresta amazônica em pasto para milhões de vacas.
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