Artigos de “Lênin Irlandês” vira livro, 100 anos depois de sua morte

"Apesar de James Connolly ser um dos mais importantes líderes socialistas do século XX, ele é um ilustre desconhecido no Brasil”, disse editor de livro

Jornal GGN – A “Revolta de Páscoa” ou “Levante de Páscoa”, de centenas de irlandeses contra o domínio britânico, no ano de 1916, deixou mais de 60 rebeldes mortos em combate e 16 executados. Mais de cem anos depois, os textos do líder James Connolly, considerado o “Lênin Irlandês”, uma das vítimas desse episódio, chegam ao Brasil.

Uma coletânea de artigos do líder irlandês vira agora livro, na coleção Socialismo e Religião, pela editora Baioneta. “Apesar James Connolly ser um dos mais importantes líderes socialistas do século XX – quando seu filho visitou Lênin na Rússia, com quem seu pai trocou inúmeras cartas, em 1922, alguns jornais soviéticos o descreviam como o ‘Lênin irlandês’ – ele é um ilustre desconhecido no Brasil”, explicou o editor Pedro Marin.

Leia, abaixo, o prólogo da edição:

Por Pedro Marin

James Connolly nasceu em 5 junho de 1868. Sua vida deu lição de sua grandeza: começou a trabalhar aos onze anos, se alistou no Exército Britânico aos quatorze, falsificando seus documentos, e pelos seus vinte se tornou socialista. Em maio de 1896, fundou o Partido Socialista Republicano Irlandês (IRSP). Participou ativamente do “Locaute de Dublin”, em 1913, que durou seis meses e envolveu 20 mil trabalhadores, e neste mesmo ano, em resposta ao locaute, fundou o Exército Cidadão Irlandês (ICA), um grupo armado e bem treinado com o fim de defender os trabalhadores da brutalidade da Polícia Metropolitana de Dublin. Em 24 de abril de 1916, Connolly comandou a Brigada de Dublin durante a Revolta de Páscoa, que tomou a Irlanda por seis dias de combate por sua independência, no mais importante movimento irlandês desde a rebelião de 1798. Foi em função dessa Revolta que, amarrado a uma cadeira, James Connolly foi fuzilado em 12 de maio de 1916, aos 47 anos de idade, sem poder ver triunfar a primeira revolução socialista da história, que explodiria na Rússia no ano seguinte.

Apesar de uma vida tão devota à causa da independência de seu país, e a despeito de ter sido um dos mais importantes líderes socialistas do século 20, James Connolly é um desconhecido no Brasil. Seus escritos nunca foram publicados, e mesmo na internet traduções deles são escassas. Isso é o que nos inspira a publicá-lo.

Mas o que motiva o tema dessa primeira coletânea de James Connolly, sobre socialismo e religião, é um fato trivial: além de todas as condições expostas acima, Connolly era também religioso. Mais especificamente, católico. Durante os ritos antes de sua morte, realizados pelo frade capuchinho Aloysius Travers, Connolly declarou, frente a um pedido de que rezasse pelos seus capatazes: “eu rezarei em nome de todo homem que faça suas obrigações de acordo com suas luzes.”

Assim, afim de impedir ações injustas, realizadas por falta de clareza, pretendemos com esse livro, antes de tudo, jogar novas luzes sobre o socialismo para aqueles que têm fé. Muitas das acusações presentes hoje no mundo religioso contra a doutrina socialista remontam, de fato, ao século passado. E Connolly as respondeu, uma por uma, como socialista – mas também como católico. Sua escrita aguçada, sua preocupação com seu povo e nação, seu conhecimento histórico e teológico, e, acima de tudo, seu senso de honra – demonstrado na frase proferida antes de seu vil fuzilamento – sem dúvidas será um grande alumiar para os corações e mentes que crêem, independente do credo.

Em segundo lugar, o publicamos para dar prova, agora aos socialistas, de que a fé de um homem não necessariamente implica em um distanciamento com os flagelos terrenos, e por muitas vezes é na verdade a “raíz moral” para a ação contra eles. Assim, não deve nunca ser desprezada, como Connolly demonstra.

Os escritos aqui coletados estão apresentados por ordem histórica, do mais antigo ao mais novo. Damos especial atenção a “Trabalho, Nacionalidade e Religião”, livro que Connolly publicou em 1910, respondendo ao padre Kane. Ali está a prova maior de seus conhecimentos teológicos e históricos, e de sua capacidade argumentativa. Também destacamos “Socialismo e Religião: O desconhecido e o incognoscível”, que inspira o título desta coletânea, e que, escrito em 1899, aclara questões vigentes ainda hoje quando tratamos dos temas. Por fim, ressaltamos a importância de “As Crianças, o Sindicato dos Trabalhadores e Transportes Irlandeses e o Arcebispo”, escrito no decorrer do Locaute de 1913, e onde fica clara o senso de honra e a disposição revolucionária do autor, que declara: “Sua Graça, nós estamos determinados para lutar até contra a morte – a morte da qual alguns de nós já sofremos, a morte para a qual o seu humilde servo olhou na face sem pestanejar – seria preferível entregar novamente os trabalhadores de Dublin ao inferno da escravidão da qual eles estão emergindo. Sua graça, nós vamos lutar!”.

SOBRE O LIVRO
Título: Socialismo e Religião
Autor: James Connolly
Tradução: André Kanasiro
Editora: Baioneta
Págs: 116
ISBN: 9788585338022
Disponível na loja da Baioneta

Redação

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