Cecília Meireles: 113 anos de nascimento e 50 de sua morte

Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 07 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 09 de novembro de 1964)

Antes de se tornar uma das mais potentes vozes da poesia brasileira, Cecília Meireles escrevia seu nome com dois “eles”. Assim mesmo: Cecília Meirelles. Na bem-humorada crônica, “A história de uma letra”, publicada no jornal A Manhã, em 1945, a poeta conta por que aboliu um dos “eles” de seu sobrenome. A causa não foi a mais nova lei ortográfica, bradava ela, mas a superstição ou, melhor, “o valor cabalístico das letras”. A nossa grande poeta acreditava no valor místico do universo. Era supersticiosa, de uma inteligência ímpar e de uma voz poética cristalina. Causava ciúme e admiração por onde passava. Porém, mesmo seus admiradores costumam saber pouco ou quase nada sobre sua vida, principalmente sobre sua infância e juventude.

Por meio de suas crônicas, no entanto, podemos estimar o que seria uma autobiografia assinada por Cecília. Lá ela não escondeu suas mazelas, como o fato de pouco enxergar sem os óculos (“Uns óculos”, A Manhã, 1944) ou, ainda, sua compulsão por guardar papéis, anotações, comprovantes, como admitiu em “Recordações do papel”, publicada em 1945 peloCorreio Paulistano. Em suas crônicas, revelou sua admiração pelo pensador indiano Rabindranath Tagore, bem como por todas as culturas orientais, sobretudo a indiana, pelos poetas brasileiros e latino-americanos, e pela liberdade. Já em 1933, em sua coluna diária sobre educação, chamada “Comentário”, ela ensaiava seu famoso verso do Romanceiro da Inconfidência (1953): “Liberdade – essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!”

 

Cecília, sem dúvida, passou a maior parte de sua vida diante de uma máquina de escrever. De 1920 a 1964, quando sua última crônica foi publicada na Folha de S.Paulo, a escritora, autora de grandes clássicos da poesia brasileira, escreveu cerca de 2.500 crônicas. O dinamismo intelectual dessa mulher impressiona, tanto quanto sua trágica vida. Aos 18 anos, publicava seu primeiro livro de poemas, Espectros (1919), o qual jamais foi encontrado. Desapareceu. Dele, o que conhecemos são apenas alguns fragmentos. Também pouco se conhece de sua correspondência e de suas anotações pessoais, pois muito do que existe permanece inacessível. Como todos os escritores de sua geração, a poeta foi uma grande missivista. Há notícias de correspondência com Gabriela Mistral, Fernando Pessoa, dentre muitos outros. Mas apenas notícias.

Cecília Meireles nasceu no bairro do Estácio, zona marginal ao Centro do Rio de Janeiro. Segundo os apontamentos do pesquisador Darcy Damasceno, ela nasceu em um sobrado, em cima de um açougue, na rua São Luís, hoje Sampaio Ferraz, e morou até os 34 anos na rua São Cláudio, número 11. Teve sua infância marcada por perdas profundas. Seu pai e sua mãe morreram quando ela ainda era criança. Morte prematura também tiveram seus irmãos Carlos, Vítor e Carmen, que são saudados na crônica “Carta a meus irmãos”. Cecília foi criada por sua avó Maria Jacinta Benevides, açoriana, personagem recorrente em sua obra. A cada perda restava-lha, firme, D. Maria Jacinta.

No início da década de 1920, Cecília casa-se com o ilustrador português Fernando Correia Dias, artista que contribuiu imensamente para o desenvolvimento das artes gráficas no Brasil, autor de caricaturas e desenhos altamente requintados e modernos. Do casamento nasceram as três filhas, três Marias: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda. Após a morte de sua avó, em 1933, Cecília e sua família permanecem no mesmo endereço: entre as ruas São Luís e São Cláudio, onde a poeta passou boa parte da vida. Mudou-se temporariamente, depois do casamento, mas logo retornaria à casa da infância e adolescência. Nesse ambiente de recordações afetivas, encontramos a jovem poeta, professora, jornalista e mãe Cecília Meireles, que após a morte de sua avó faz sua primeira viagem a Portugal, em 1934.

A morte de D. Maria Jacinta sinaliza o início de um dos períodos mais trágicos da vida da poeta, que culminaria com o suicídio de seu marido, em 1935. Esse gesto trágico fez com que Cecília rompesse definitivamente com o ambiente de casas e coisas antigas, de quintais e “jardins de cheiros”. Dedica os últimos anos da década de 1930 à dor, à educação e à poesia, renascendo como cronista apenas nos anos 40. Em 1939, na revista portuguesa Ocidente,encontramos seus últimos textos longos em prosa. Trata-se de “Olhinhos de gato”, uma série de artigos sobre sua infância.

A própria Cecília, em entrevista para a revista Manchete, na década de 1960, declarou ser “Olhinhos de gato” seu “pequeno livro de memórias”, em que predomina uma “narrativa sobre a infância”. Em “Olhinhos de gato” ficou cristalizado o universo do bairro do Estácio, onde a gente simples se misturava à pequena burguesia e aos imigrantes portugueses, encarnando a narrativa formadora da alma carioca. Foi no morro de São Carlos, por exemplo, que surgiu a primeira escola de samba. Cecília foi testemunha de toda essa ebulição popular, tanto que entre 1926 e 1934 dedicou-se ao desenho dos gestos e do ritmo da música e da religião afro-brasileiras.

A maior tragédia, no entanto, foi o suicídio de Correia Dias, fato que transformaria a visão de mundo da poeta. Correia Dias suicidou-se em casa, no dia 19 de novembro de 1935, enquanto as filhas se preparavam para os festejos do Dia da Bandeira. “Há muitas mortes por detrás dessa morte. E não foi apenas um suicídio: foi também um assassinato. Posso eu viver muito tempo; pode minha existência tomar os mais inesperados rumos – mas essa noção da inutilidade humana; esta indiferença pela esperança, este desapego da lógica farão de mim cada vez mais uma criatura sem raízes na terra, prescindindo de tudo e à mercê dos casos que a queiram transportar”, escreveu a poeta a Diogo de Macedo, amigo português. (Carta publicada pela revista Terceira Margem, Porto, Portugal, 1998).

A biografia de Cecília Meireles pode ser dividida, assim, em dois momentos decisivos: a morte da avó e a de Correia Dias. A partir desses eventos cruciais, a poeta refunde sua trajetória e apresenta uma outra Cecília, aquela que conhecemos, dedicada à poesia e à educação. Sua obra reflete as variantes de sua relação com o mundo. A Cecília poeta se impõe apenas em 1937, com a publicação de Viagem. A própria poeta, em sua Obra completa, publicada em 1958 pela Aguillar, elegeu Viagem como livro “inaugural”. Com ele, Cecília ganhou o primeiro grande reconhecimento, o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, em 1939.

Nas década de 1920, no entanto, ela já havia publicado seus livros de inspiração simbolista, tais como Nunca mais (1923), Poema dos poemas (1923) e Baladas para El-Rei (1925). Depois de Viagem, seguiram-se as obras Vaga música (1942), Mar absoluto e outros poemas(1945), Retrato natural (1949), Doze noturnos da Holanda (1952), Romanceiro da Inconfidência (1953), Poemas escritos na Índia, (sem data, mas certamente da década de 1950), Metal rosicler (1960), Solombra (1963), dentre outrosSem dúvida, o Romanceiro da Inconfidência é o seu grande livro, o épico ceciliano.

Quem ficou para trás na nova história de Cecília Meireles não foi apenas a jovem do Estácio, mas também a jornalista engajada que, entre 1930 e 1933, assinou sua página diária sobre educação – na qual chegou a acusar o então ministro de educação, Francisco Campos, de medalhão e o então presidente, Getúlio Vargas, de Sr. Ditador. Foram mais de mil artigos escritos num período turbulento da nossa história política: o início da década de 1930, quando Getúlio assumiu a liderança no país. Nesse período, Cecília lutava contra a inclusão do ensino religioso e defendia as liberdades, como por exemplo a criação de escolas mistas em que ambos os sexos pudessem dividir o mesmo espaço. É bom lembrar que isso ocorreu entre 1930 e 1933, quando a mulher sequer exercia o direito de voto, uma vez que as urnas passaram a contar com o voto feminino apenas em 1934.

A luta de Cecília foi breve. Depois desse período, em carta ao educador Fernando de Azevedo, a poeta desabafou: tinha horror à política, mas num momento em que as forças autoritárias cresciam no mundo era impossível ficar distante. Mas ficou. Atropelada pelas tragédias da vida pessoal, Cecília se afasta da imprensa, dedicando-se à educação. A década de 1930 passou e no início da década de 1940, mais precisamente no ano de 1940, Cecília casa-se com Heitor Grillo.

Suas posições diante do governo Vargas também mudaram. Agora ela é editora da revistaTravel in Brazil, publicação do autoritário Estado Novo (1937-1945), isto é, do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda). A revista, publicada somente em inglês, era chamada por Mário de Andrade, colaborador freqüente, de “a Dip-revista”. Durante esse tempo, os dois poetas trocaram uma curta correspondência, publicada no livro Cecília e Mário(1996).

Neste período de farto intercâmbio entre o Brasil e os Estados Unidos, conhecido como a política de boa vizinhança, a poeta faz sua primeira viagem à América. Lá, profere algumas palestras, na Universidade do Texas, sobre o negro no Brasil e escreve uma série de artigos sobre os negros americanos, principalmente sobre sua visita ao Harlem e a um templo evangélico dirigido pelo reverendo Father Divine. Em uma série de três crônicas, todas publicadas em A Manhã, em 1943, Cecília narra suas desventuras pelo bairro nova-iorquino.

A década seguinte é marcada por mais viagens. É quando ela conhece a Índia. Seus passos pelas cidades de Calcutá, Bombaim, entre outras, podem ser seguidos pelas crônicas que publicava no Diário de Notícias. Cecília foi homenageada na Índia e recebeu do povo indiano o reconhecimento por sua divulgação da cultura e da arte daquele país.

Em 1964 a poeta morre, no Rio de Janeiro, de câncer. Durante a década de 1960 dedicou crônicas às curas, à medicina e às enfermeiras, como podemos ler em “Profilaxia” (1962) e “Ai, os hospitais!” (1964). As lendas em torno da imagem de Cecília Meireles jamais deixaram de crescer no meio literário. Há até aqueles que asseguram que, minutos antes de morrer, ela teria recebido a visita de dois religiosos indianos que, como a poeta, nunca mais foram vistos. A sua biografia, como podemos perceber, ainda está para ser escrita. As pistas são muitas, as lendas inúmeras, mas os verdadeiros fatos estão todos impressos em seus livros de poemas, em suas crônicas, em seus artigos acadêmicos – enfim, nas suas palavras.

Fonte:

Cecília Meireles: 110 anos, Revista Cult, por Valéria Lamego 

Leia mais em:

Cecília em Portugal, por Leila B. V. Gouveia 

Cecília Meireles

Cecília Meireles: imagens femininas, por Maria Lúcia Dal Farra 

Cecília Meireles: poeta e educadora 

A cultura liberta, o catolicismo escraviza: Cecília Meireles e o ensino religioso nos anos 1930, por José Damiro Moraes

A filosofia na poesia infantil de Cecília Meireles, de Gilmar Luís Siva Júnior

Livro Aberto: 50 anos sem Cecília Meireles, a pastora das nuvens

Obra poética reconhecida

Poema de Mário Quintana em homenagem a Cecília Meireles

O teatro poético de Cecília Meireles

A última entrevista de Cecília Meireles, por Carlos Willian Leite 

Uma viagem pelas crônicas, por Celso Castro

 

Videos:

O Governo do então Estado da Guanabara denominou de Sala Cecília Meireles o grande salão de concertos e conferências do Largo da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro. Em São Paulo, tornou-se nome de rua no Jardim Japão. Em 1974, seu nome foi dado a uma Escola Municipal de Educação Infantil, no Jardim Nove de Julho, bairro de São Mateus, em São Paulo. Em 1981, uma cédula de cem cruzados novos, com a efígie de Cecília Meireles, é lançada pelo Banco Central do Brasil, no Rio de Janeiro.

Luis Nassif

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  1. Trecho de “Olhinhos de Gato”

        Publicado inicialmente em capítulos na revista Ocidente, de
    Lisboa, durante os anos de 1939 e 1940, Olhinhos de Gato
    constitui uma poética narrativa autobiográfica de Cecília Meireles.

        As personagens principais, pessoas que conviveram com a
    menina Cecília, são carinhosamente evocadas por cognomes. Por
    exemplo, a avó Jacinta, com quem viveu depois da morte dos pais,
    é Boquinha de Doce; a ama é chamada de Dentinho de Arroz;
    Olhinhos de Gato, por sua vez, é a própria autora.

        O texto desta primeira edição em livro foi cotejado com a
    publicação em capítulos, revistos pela autora. Permitimo-nos
    atualizar apenas as convenções ortográficas.

        O EDITOR

        Trecho do livro retirado de:

    http://anabailune.blogspot.com.br/2013/03/olhinhos-de-gato-cecilia-meireles.html

        (…) O mesmo peso e a mesma sombra estiveram, anteriormente, sobre o coração.

        Ela andava entre as folhas secas, e as pedras, e as raízes
    das plantas, sozinha, falando sozinha, abaixando-se para apanhar
    uma concha misturada com a terra, ou perguntando coisas a
    algum caco de vidro. Os espinhos puxavam-lhe o vestido. As
    pombas fugiam dos seus sapatos. Nos quintais sossegados,
    cachorrinhos latiam. Era doce o ar, e deitavam-se cores atrás das
    montanhas. Um papagaio de papel balançava-se muito alto, no
    caminho dos pássaros.

        Então seu ouvido percebeu como um gemido baixinho.

        Parou entre as árvores, para descobri-lo.

        Ouviu o zunir de um inseto, o suspiro da tarde nas folhas,
    o pingo de água no tanque, um pio de pássaro muito longe. . . —
    as coisas mais mínimas. Até o frufru do papel de seda do papagaio
    lá no céu.

        Pedras. Buracos. Raízes entrelaçadas. Sombra das
    frondes…

        E o gemido continuava.

        Correu para a moita dos “brincos-de-rainha”, afastou os
    galhos, debruçou-se para dentro, sustida numa folha com os pés a
    fugirem do barranco — e na sombra dois olhinhos mal abertos se
    levantaram para os seus, com o tênue gemido, numa expressão
    tão compreensível de medo e queixa como se ali estivesse uma
    outra criança igual a ela: e sofresse.

        Tropeçando nas pedras, rasgando-se nos espinhos, subiu a
    correr, com o coração rápido, metendo-se por entre coisas velhas
    — regadores, panelas, ancinhos — à procura de qualquer coisa
    que aumentasse os seus braços, que a fizessem chegar até o
    fundo daquele — para ela imenso — abismo, e de lá retirar aquela
    vida que gemia.

        E com uma alça de barbante, sozinha, a trouxe do fundo da
    sombra, e a levou pelo quintal acima, pela escada acima, com as
    pernas já moles do esforço e da emoção, para espanto de todos,
    que lhe perguntavam: “Mas onde arranjaste esse bicho tão feio! E
    não tiveste medo? E que vamos fazer agora desse cachorrinho?”
        
        E o bicho movia-se pelo chão, pretinho e encaracolado, e a
    menina, de cócoras, ria-se e tinha medo, ao mesmo tempo. Maria
    Maruca resmungava: “B muito engraçadinho, sim, para me sujar a
    cozinha toda.” Dentinho de Arroz não lhe queria tocar: “Eu sei lá
    de onde veio isso! Essa gente sabe muita coisa. . . Pode ser alguma
    ‘porcaria’.”

        Mas Boquinha de Doce dizia: “A criança também há de
    brincar com alguma coisa. Contanto que não se machuque. . .
    Deixem o pobre bichinho. Uma coisinha tão pequenina! Que
    trabalho é que isto dá!” Mas Maria Maruca implicava: “É mais
    uma coisa para atrapalhar os pés da gente. . .”

        OLHINHQS DE GATO estava brincando com ele, mas estava
    também escutando. E Boquinha de Doce perguntou-lhe: “Como é
    que se vai chamar?” Discutiu-se o nome. A criança queria que
    fosse “Jasmim”. “Ai, um jasmim preto! — ria Maria Maruca —
    nunca na minha vida vi!” E troçando chamava-o: “Jasmim,
    Jasminzinho, anda cá, meu cheiroso Jasmim!…”

        E a casa encheu-se daquela nova alegria. Patinhas negras
    pulando os degraus da escada, corpinho negro encolhendo-se por
    debaixo dos móveis, . . Focinho negro, de olhinhos estufados,
    diante do qual o gato surpreendido e contrariado fazia “ffff…!”
    como a corda frouxa da guitarra. . .

        Mas um dentinho branco e pontudo pode passar de raspão,
    como um espinho, e uma gota de sangue despontar, como um
    pingo de orvalho. Corre-se com o vidro de iodo. “Eu, por mim,
    punha-lhe açúcar em cima, e depois uma teia de aranha. . .”

        E, alta noite, ela mesma não sabe que a mão, robusta e
    morna, pousa-lhe na testa, no pescoço, nos braços. Que se
    examina o dedo ferido, que se torna a apagar a luz. Que talvez se
    reze.. .

        O que sabe, porém, no dia seguinte, é que não anda mais
    nem pela casa nem pelo quintal aquele brinquedo peludo de
    olhinhos tão redondos e dentinhos tão finos.

        Lá vai ela, calada e sozinha, mais com apreensão do que
    com esperanças. Por baixo dos móveis, já viu; por dentro das
    barricas e dos cestos, também; e atrás das portas não está. . . E
    não caminha para mais longe. Procura por entre as pedras, afasta
    de novo a moita de “brincos-de-rainha” — como naquela tarde. . .
    Mas não está. Não se ouve mesmo nenhum gemido. Não o
    encontra e não pergunta. E não pergunta só pelo medo da
    resposta.

        E deixaram-na procurar tanto! E deviam ter visto que
    estava sofrendo. . . E seu coração doía como se o tivessem pisado
    duramente e sem socorro.

        Maria Maruca veio implicar: “Não achaste o Jasminzinho?
    Foi-se embora, o maroto! Fugiu. . .”

        E ela, então, chorou alto, convulsamente, sob muitos
    tormentos reunidos e confusos, e as pessoas se desfizeram diante
    dela, como estátuas de cinza, e a casa ficou vazia, sem mais
    braços, sem mais rostos, sem mais vozes certas. Sozinha ela
    existia entre as coisas imóveis, que talvez lhe falassem, se
    pudessem, e a abraçassem, se não estivessem presas na sua
    forma. Sozinha ela existia — com as cadeiras, os espelhos, as
    paredes, as árvores, as nuvens, o sol. . .

        Era assim.

     

  2. memorável:
    eu canto porque o

    memorável:

    eu canto porque o instante existe

    e  a minha vida está completa

    não sou alegre nem  sou triste:

    sou poeta.

     

     

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