Enviado por Felipe A. P. L. Costa
Do idiota
Por Henriqueta Lisboa [1]
1.
Os olhos são da infância, os mesmos:
lagos com reflexos de arco-íris.
Luas crescentes de surpresa
pelos vergeis que iluminam.
Oásis tenros que esperam
– talvez há séculos – o instante
de serem colhidas as tâmaras
que nem os anjos percebem.
Como a lâmpada de Aladino
contra as lufadas acesa,
os olhos guardam a inocência
suspensa por sobre o abismo.
2.
As mãos pousam no ombro amigo.
Ó doce fluido magnético!
Acenos de trigal ao zéfiro;
auras do círculo infinito
no qual em rosas a água e o fogo,
o céu e a terra se entrelaçam;
guirlandas contornam mares,
névoas desprendem chuvas de ouro.
As mãos ignoram que profundas
garras possui a carícia.
Como pesaria uma pluma
sobre o espírito!
3.
O peito é como o dos pássaros
procurando repouso.
Uma cruz esconde o tesouro
de pérola, magnólia e nácar.
Ergue-se um punhal contra o peito:
violino sob o toque do arco
arqueja e desfere os jactos
um trinado mais célere.
A que imprevisíveis mundos
poderá conduzir,
pássaro nas grades, a tua
música para víboras!
*
Nota
[1] Henriqueta Lisboa (1901-1985). Extraído do blogue Poesia contra a guerra, o poema acima foi publicado em livro em 1958.
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A gente a chamava de vovo
A gente a chamava de vovo Riqueta quando a viamos, pena que foi tao poucas vezes. (Era avo dos meus sobrinhos, uma pessoa bonissima)