Golpe é guerra: A realidade não permite política com slogans, por Pedro Marin

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Nossa realidade não permite que façamos política com slogans

Por Pedro Marin*

Não é hora de advocar pela moral, mas de atacar com as lições da estratégia

Tenho feito, já há algum tempo, uma advertência que considero fundamental nestes tempos em que o país regride anos em semanas: a de não são somente “diferenças ideológicas” que separam os caminhos que queremos e precisamos para o Brasil dos que são traçados por nossa elite. Quando tratamos de brasileiros se queimando gravemente porque não conseguem mais comprar gás e usam álcool para cozinhar, de quase 14 milhões de desempregados ou da venda de nosso petróleo a preço de banana aos estrangeiros, não tratamos de opiniões divergentes – tratamos, sim, das diferenças entre o programa que pretender garantir ao nosso povo um mínimo de bem-estar e para o País alguma perspectiva de desenvolvimento contra um programa que se traduz em política de extermínio contra nosso povo e de subdesenvolvimento para o País.

Essa realidade infelizmente conheci bem, na pele, e talvez por isso ela oriente meu trabalho como jornalista, bem como tenha regido a formulação do livro que lancei em maio passado, “Golpe é Guerra – Teses para enterrar 2016.” Nesta estreia como autor, pretendo abrir polêmicas principalmente com dois setores da esquerda brasileira: por um lado os que se negavam a reconhecer o processo de impeachment contra a ex-presidenta Dilma Roussef como um golpe, porque seu governo teria concedido demasiadamente às elites para ser alvo de tanto, e por outro os setores ligados ao Partido dos Trabalhadores, que em detrimento da estratégia se afundaram em um pantanal de ingenuidade e otimismo caolho. Aos primeiros reagi, durante as movimentações golpistas, com bastante deslumbramento. Estes revestiam suas carapaças de marxismo para, na essência, serem absolutamente positivistas: entendiam que as concessões de Dilma às elites fariam os golpistas recuarem, quando na realidade os fariam – e fizeram – avançar.

Com os segundos, no entanto, não houve espanto. As teses abraçadas pelo Partido dos Trabalhadores com o processo de abertura, no final dos anos 70 – a dizer, a tese da conciliação e do republicanismo – já eram suficientes para não esperar muito mais do partido que não a inação. O que não era previsível é que, com um avanço tão profundo dos golpistas, o PT tenha seguido por tanto tempo (e parece seguir, de fato) apostando suas fichas na negociação, no republicanismo e na institucionalidade. Talvez por ironia, as duras críticas que faço à reação (ou falta dela) do PT ecoam de maneira mais voraz entre os simpatizantes do partido, isto é; parece haver também, em suas bases, uma decepção com a inação frente ao golpe.

“Golpe é Guerra”, portanto, não é um livro para demonstrar a perversidade dos golpistas ou a superioridade dos programas populares, porque isso já nos deveria ser claro: é um livro para aprender com os erros estratégicos do passado, para que não sigamos reféns dos farsantes. Nele trago as lições do realismo político e da guerra, de Maquiavel, Luttwak, Clausewitz, Visacro, bem como entrevistas com figuras como Bresser-Pereira, Guilherme Boulos, Angélica Lovatto e Aldo Fornazieri. Proponho que deixemos os chamados pela moral de lado – virtuosos ou não, na política são inúteis – bem como a fraseologia oca dos slogans, e voltemos a pensar em termos estratégicos. Não há dúvidas que os inimigos de nosso povo o tem feito.

 

SOBRE O LIVRO:

Título: Golpe é Guerra – Teses para enterrar 2016
Autor: Pedro Marin
ISBN: 9788592474607
Editora: Baioneta
Páginas: 100
Edição: 1
Ano: 2018
Venda disponível no site da Livraria da Opera

 

* Pedro Marin, 22, é editor-chefe e fundador da Revista Opera. Foi correspondente na Venezuela pela mesma publicação, e articulista e correspondente internacional no Brasil pelo site Global Independent Analytics. Tem artigos publicados em sites como Truthout, Russia Insider, New Cold War, OffGuardian, Latin America Bureau, Konkret Media e Periferia Prensa.

 

 

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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  1. Uma coisa interessante…

    Uma coisa interessante…

    As pessoas “compraram a ideologia” do golpe, e se alienam nas suas consequências…

    Querem o LULA preso, mas não têm ideia que o Brasil perdeu e perderá nos próximos anos mais de 2 trilhões de reais somente em termos de pré-sal e na conta petróleo…

    Isso denota a existência de um “autoridade” dentro do golpe que é passada subliminarmente pela mídia capaz de fazer as pessoas perderem a noção de para onde está indo o país!

    Não vêm as milhares obras paradas…

    Não vêm a falta de investimento do governo…

    E parece que tudo vai acontecer com o outro, não com elas mesmas…

    Há uma perda do humano em nós, por isso bolsonaro é o segundo…

    Estamos numa bolha psicológica que pode ser rompida, mas o que romperá essa bolha não parece que virá com sofrimento, pois isso já esta precificado…

    O “ecossistema brasil” pode entrar em colapso…

  2. Novidades emboloradas

    Propôs mas esqueceu de praticar: “golpe é guerra” é um slogan melhor do que outros?; se não é oco, tem recheio de quê? 

    A pretensão de “abrir polêmicas” não parece uma boa estratégia de mobilização popular para enfrentar o golpismo político que é a nova forma de colonização de países enfraquecidos no jogo geopolítico mundial, caso seja esta a intenção do autor; parece apenas disputa interna autorreferente entre as esquerdas, exclusivamente, e considerando a tenra idade do ativista, parece mais uma tentativa de auto afirmação intelectual e militante de alguém que pretende chamar atenção – para si mesmo ou para “a estratégia”?, desta última não há nenhum sinal de proposta afirmativa além do slogan que se pretende menos oco que os outros…, apenas de negação do que foi feito até agora, e de maneira superficial e nada original em relação ao que já foi dito sobre o assunto. 

    Cheiro de jornadas de junho requentadas, misturadas com a pretensão de reviver a luta armada dos anos 1960, mas por enquanto, que se saiba, a guerra do autor é apenas retórica. 

     

    Sampa/SP, 26/06/2018 – 12:55 (alterado às 12:57). 

    1. Oi Cristiane.”Golpe é Guerra”

      Oi Cristiane.

      “Golpe é Guerra” não é um slogan, é o título do livro – teria de dar algum título a ele de qualquer maneira, não? Tentei recheá-lo com as lições do realismo político, como disse, de Maquiavel, Luttwak, Clausewitz, para analisar os últimos quatro anos. Este é o recheio. A partir disso faço propostas, mas como reitero no livro, sou um jornalista, não um líder de qualquer tipo – e mesmo para exercer esse trabalho tive de abrir mão de muito – poderia ser mais um foquinha da Folha, por exemplo, tendo terminado a gradução que comecei graças ao PROUNI e que abandonei em nome dos últimos seis anos de trabalho crítico, mas decidi dar cabo a uma revista que envia correspondentes pra Ucrânia, Colômbia e Venezuela em condições aterradoras, e que não dá qualquer tipo de lucro.

      Quanto a abrir polêmicas na esquerda, eu explico: o livro é para qualquer um, mas foca nesses dois campos da esquerda. Isso justamente porque não sou uma liderança de qualquer um deles. Proponho exatamente o que penso ser uma boa estratégia de mobilização popular – uma que não tente encaixar a realidade nas abstrações teóricas, por um lado, nem que tente responder ao inimigo com slogans, cada vez um; “fora Cunha”, “não vai ter golpe”, “diretas já”, “Lula livre”; mas que NUNCA está pronto para responder concretamente – ou você acredita que a estretégia adotada até o momento tem dado resultados?

      Também não há nada de “jornadas de junho” – não havia ali estratégia porque, pra começar, se pretendia não ter liderança; é exatamente esse tipo de imbecilidade que tento combater no livro – e não é também um chamado à luta armada – ainda que eu ache que os que por ela optaram mereçam respeito, ou seria Gregório Bezerra, aos 64 anos, Carlos Marighella, aos 53, e Brizola, aos 42, de demasiada tenra idade para se libertarem da inocência juvenil?

  3. “Inimigos do povo”? Acho que

    “Inimigos do povo”? Acho que já vi isso em algum lugar…

    O garoto quer “deixar os chamados pela moral de lado”, esquecendo que foi exatamente isso que o PT fez, com péssimo resultado…

  4. Penso que “A Arte da Guerra”,

    Penso que “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu, seja um livro essencial para a esquerda atual.

    “Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas.

    Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória obtida sofrerá também uma derrota.

    Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas.” – Sun Tzu.

  5. é porque ainda não temos a esquerda como um todo insatisfeito…

    divida seu principal inimigo e vença todos

    quando se tem a Globo, lógico, que sabe muito bem como é fácil manobrar “partes” para qualquer direção até se perderem

    ou até que nada reste de bom de qualquer uma delas

    se liga, gente, o Brasil só tem um inimigo

    esse negócio de moro, ilegalidade, fachim, golpe, gilmar, carmem, tudo palhaçada,

    porcos espantalhos para qualquer revolta mais séria

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