Leminski: Razão de Ser

Enviado por jns

RAZÃO DE SER

                 

                 Escrevo. E pronto.
                 Escrevo porque preciso,
                 preciso porque estou tonto.
                 Ninguém tem nada com isso

                 

                 Escrevo porque amanhece,
                 E as estrelas lá no céu
                 Lembram letras no papel,
                 Quando o poema me anoitece.

                 A aranha tece teias.
                 O peixe beija e morde o que vê.
                 Eu escrevo apenas.
                 Tem que ter por quê?

                 Foto de Arno Rafael Minkkinen
                 Poema do super craque Leminski

                 Fonte:

                 https://joaquimlivraria.wordpress.com/tag/literatura-2/
                 http://www.revistabula.com/385-15-melhores-poemas-de-paulo-leminski/

Redação

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    1. bichos e deuses

                         Torquato

                         Inquiriu o Rei Lagarto:

                         Não era Sapo?

                         Aqui é o fim do mundo

                         Aqui, o Terceiro Mundo
                         Pede a bênção e vai dormir
                         Entre cascatas, palmeiras
                         Araçás e bananeiras
                         Ao canto da juriti

                         Aqui, meu pânico e glória
                         Aqui, meu laço e cadeia
                         Conheço bem minha história
                         Começa na lua cheia
                         E termina antes do fim

                         Aqui é o fim do mundo

                         Trecho de um poema do surreal Torquato Neto

      [video:https://youtu.be/eho8nUi9Qok width:600]

  1. Adoro a ousadia de Leminski

    Adoro seus haikais, seu poder de síntese, sua capacidade de subverter a semântica, a sintaxe, a sonorifdade do léxico e até versificação. Um poeta bem à frente de seu tempo..

      Tudo claro   

      tudo claro
    ainda não era o dia
               era apenas o raio

    [do livro Distraídos Venceremos]

    Se

    se

    nem 
    for
    terra
    se
    trans
    for 
    mar

     

    Poetas velhos

     

    Bom dia, poetas velhos.
    Me deixem na boca
    o gosto dos versos
    mais fortes que não farei.

    Dia vai vir que os saiba
    tão bem que vos cite
    como quem tê-los
    um tanto feito também,
    acredite.

     

    Pelos caminhos

    pelos caminhos que ando
     um dia vai ser
       só não sei quando

    O que sinto

    Inverno

    É tudo o que sinto

    Viver

    É sucinto

    Pergunte ao sapo

    noite alta    lua baixa
    pergunte ao sapo
    o que ele coaxa

     

    1. O poeta no espelho

                          em mim
                          eu vejo o outro
                          e outro
                          e outro
                          enfim dezenas
                          trens passando
                          vagões cheios de gente
                          centenas

                          o outro
                          que há em mim
                          é você
                          você
                          e você

                          assim como
                          eu estou em você
                          eu estou nele
                          em nós
                          e só quando
                          estamos em nós
                          estamos em paz
                          mesmo que estejamos a sós

                          Contranarciso de Leminski

                         

  2. Sou Dalí

                       Torquato

                       Eu sou como eu sou
                       pronome
                       pessoal intransferível
                       do homem que iniciei
                       na medida do impossível

                      

                       Eu sou como eu sou
                       presente
                       desferrolhado indecente
                       feito um pedaço de mim

                       Eu sou como eu sou
                       agora
                       sem grandes segredos dantes
                       sem novos secretos dentes
                       nesta hora

                     

                       Eu sou como eu sou
                       vidente
                       e vivo tranqüilamente
                       todas as horas do fim.

    Trecho do poema do genial Torquato Neto

    [ peço perdão por ter invertido a ordem das duas estrofe do meio deste catado de Torquato ]

    Ilustração com fotos de obras de maluco beleza Salvador Dalí

    1. És daquí

      A imperfeição perfeita

      Tu, a força da natureza.
      Guardião das minhas certezas.
      Tu, que é o inteiro.
      Parceiro.
      Tu, que é criador.
      Meu protetor.
      Tu, raposa, amigo da princesa.

      Tu, que vela por minha segurança.
      Minha criança.
      Tu, que me cativou.
      E me salvou.
      Tu, que, portanto, é responsável pela bruxa e pela fada, por Dione.
      E por minha fome.

      Alfa, ômega. Do começo ao fim.
      Tudo que eu quero para mim.

      [Eu é que peço perdão pelos versos de jardim de infância. Não havia verso pronto que pudesse dizer.] 

  3. Mestre raposa

    Nos final dos anos 70 e anos 80 uma tia morou em Curita e ai conviveu um pouco com Leminski e a turma de artistas e intelectuais desse periodo.  Altos papos e o anseio pelo fim da ditadura. Segundo ela, o vampiro de Curitiba não era muito de papo, mas quando começava ninguém o parava. 

    A raposa de O Pequeno Principe tem no livro um dos dialagos mais bonitos da literatura. Além da beleza com que descreve a amizade, ela fala do tédio do cotidiano da vida na Terra: o homem caça a raposa, a raposa caça a galinha e a galinha  foge desesperada dos dois. E esse ciclo se repete. Não lembra O Mito de Sisifo de Camus?

    E como sempre fui fã das raposas, também lembro de Fantastic Mr. Fox de Roald Dahl, onde uma raposa vence três fazendeiros avarentos e maus.

     

    1. LuMara

       

                          Mestre Raposa é demais…

                          Pra pegar peixe dos bons dá trabalho a gente soa
                          Eu jogo timbó na água com isso peixe atordoa
                          Jogo a rede e dou um grito ai, ai os dourados amontoa

                          Raposão tá de boa!

      [video:https://youtu.be/Z0awGEcu0aY width:600]

      Tenho dois amigos de longuíssima data: O Mancha (ex-jogador profissional) e o Meu Peixe, irmão de uma das minhas cunhadas.

      Advinha o apelido que eles colocaram no pobre do Mineirinho, que não faz mal pra ninguém?

      Se disser Raposa ou Raposão ganha um doce de cajú do Ceará.

       

  4. Príncipe

    “….
    – Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.

    – É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto.

    No dia seguinte o principezinho voltou.

    – Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, sentarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração… é preciso ritos.

    […]

    Assim, o principezinho cativou a raposa.

    […]

    Foi o principezinho rever as rosas:

    – Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. era igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela é agora única no mundo.

    […]

    E voltou, então, à raposa:

    – Adeus, disse ele…

    – Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vêm bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.

    – O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

    – Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante. 

    – Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa… repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

    – Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa…

    – Eu sou responsável pela minha rosa… repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.”

     

    1. torquato

                      

                         A virtude
                         mais o vício: início da
                         MINHA
                         transa, início, fácil, termino:
                         ‘como dois mais dois são cinco’
                         como Deus é precipício,
                         durma,
                         e nem com Deus no hospício
                        (durma) nem o hospício
                         é refúgio. Fuja.

                       

      1. Não fujo
        Tudo muito lúgubre e lindo.  Mas é somente parte. E a força da natureza não foge. Nem eu.

        Meu corpo dói
        Tenho fome
        Fecho os olhos e só o que vejo é um banquete
        Que me negas

        Agora com tempo procurei e achei. Pueris e inócuos os do Jardim de Infância – desculpe!!! Voce merece mais. Segue Torquato: agora veneno contra veneno.

        Tentei na voz de Gal, mas bloqueado. Então vai a seco.

        A Coisa Mais Linda Que Existe
        Gilberto Gil & Torquato Neto

        Coisa mais linda nesse mundo
        É sair por um segundo
        E te encontrar por aí
        E ficar sem compromisso
        Pra fazer festa ou comício
        Com você perto de mim

        Na cidade em que me perco
        Na praça em que me resolvo
        Na noite da noite escura
        É lindo ter junto ao corpo
        Ternura de um corpo manso
        Na noite da noite escura

        A coisa mais linda que existe
        É ter você perto de mim

        O apartamento, o jornal
        O pensamento, a navalha
        A sorte que o vento espalha
        Essa alegria, o perigo
        Eu quero tudo contigo
        Com você perto de mim

      2. 5 estrelas, não. Quero o prêmio.
        Quero tudo

        Me pego querendo prender.
        Prender a sorte, os sonhos e você.
        No fundo, queria tudo só para mim.
        Quem não quer?

        Acho que sim,
        pensar que os outros desejam
        o mesmo que eu,
        justifica meu egoísmo.

        Mas logo, passa.
        Volto a desejar.

        Não quero tudo de uma vez,
        porque não sei lidar com estoques.
        Mas quero sim, tudo.
        Pouco a pouco,
        tudo o que a vida tem para me dar.

        Incluindo você,
        do jeito que está
        de barba, óculos e besteiras.
        Quero tudo
        que nosso amor
        pode me dar.

        A Lagarta, Si Caetano.
        Pagina: facebook.com/falasi

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