Lista de Livros: Os Caminhos da Liberdade – Sursis, de Jean-Paul Sartre

Seleção de Doney

Lista de Livros: Os Caminhos da Liberdade – Sursis, de Jean-Paul Sartre

Editora: Nova Fronteira

ISBN: 978-85-2091-727-5

Tradução: Sérgio Milliet

Opinião: muito bom

Páginas: 440 

     “Ela era séria e decidida no trabalho, mas tinha o que têm as mulheres: necessidade, sempre, de confiar em alguém.”

*

     “Digam o que disserem, a pobreza deixa as pessoas vulgares.”

*

     “– Sou capitão – disse Weiss.

     Belo capitão…, pensou Birnenschatz. Weiss tinha um ar feliz, suas grandes orelhas estavam roxas. Belo capitão… e é isso a guerra, a hierarquia militar.

     – Que grande besteira, hem? – disse.

     – Hum!

     – Não é uma besteira?

     – Sem dúvida – disse Weiss. – Mas eu queria dizer: para nós, não é tão idiota assim.

     – Para nós? – atalhou Birnenschatz espantado. – Para nós quem? De quem você esta falando?

     Weiss baixou os olhos:

     – Para nós, judeus. Depois do que eles fizeram contra os judeus na Alemanha, nós temos motivos para lutar.

     Birnenschatz deu alguns passos, excitado:

     – Que história é essa de nósjudeus? Não sei o que é isso. Eu sou francês. E você? Sente-se judeu?

     – Meu primo, de Gratz, esta em minha casa desde terça‑feira – disse Weiss. – Mostrou-me os braços. Queimaram‑nos com charutos desde os cotovelos até as axilas.

     Birnenschatz parou subitamente, agarrou no encosto da cadeira com as suas mãos fortes e um ódio subiu‑lhe aos olhos:

     – Os que fizeram isso – disse ele –, os que fizeram isso…

     Weiss sorria. Birnenschatz acalmou‑se:

     – Não é porque seu primo é judeu, Weiss. É porque é um homem. Não suporto que se maltrate um homem. Mas o que é um judeu? É um homem que os outros homens consideram judeu.”

*

     “A vida no exílio não passa de uma espera.”

*

     “Gomes compara na véspera uma panóplia para o menino.

     – Ele tem de aprender a lutar – disse Gomez acariciando a cabeça do menino. – Senão, vai ficar covarde como os franceses.

    Sarah ergueu os olhos para ele e ele viu que a tinha ferido profundamente.

     – Não compreendo que se possa chamar covarde a quem não quer fazer a guerra.

     – Há momentos em que é preciso querer – disse Gomez.

     – Nunca! Em nenhum caso. Não há nada que valha a pena a visão de mim, um dia numa estrada, com minha casa destruída a meu lado e um filho morto nos braços.

     Gomez não respondeu. Não havia o que responder. Sarah tinha razão. Do seu ponto de vista ela tinha razão. Mas o ponto de vista de Sarah era daqueles que cumpria desprezar por princípio, sem o que não se chegaria nunca a nada. Sarah esboçou um sorriso amargo:

     – Quando o conheci, você era pacifista, Gomez.

     – É porque naquele momento era preciso ser pacifista. O objetivo não mudou, mas os meios para atingi‑lo são diferentes.”

*

     “É preciso mesmo muito tempo para conhecer um homem.”

*

     “Não sou nada, não tenho nada. Tão inseparável do mundo quanto a luz e, no entanto, exilado, como a luz, deslizando à superfície das pedras e da água, sem que nada, jamais, me prenda ou me faça encalhar. Fora. Fora. Fora do mundo, fora do passado, fora de mim mesmo: a liberdade é o exílio e estou condenado a ser livre.”

*

     “– A gente é infeliz quando tem frio ou esta doente ou não tem  o que comer. O resto são denguices.”

*
     “Afinal, nem mesmo eu sei porque me dirijo a ti: é de se supor que, assim como o do crime, o caminho das confidências é uma ladeira escorregadia.”

Redação

1 Comentário

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  1. Foi neste mesmo livro que li

    Foi neste mesmo livro que li aos quinze aninhos de idade e, não lembro bem é claro,  o comentário que me marcou para o reto da vida e que vi se concretizar no golpe de 16 no Brasil. Um personagem diz que a burguesia sempre trai o, povo.  Evidentemente não são estas as palavras mas o sentido nunca me saiu da memória. Falo da  burguesia e da boboca e burra classe média meio alta e alta que se acha burguesia. Nem imaginam o que é isto de fato. Pobrezitos tão  ignorantes, não se dão conta de que são massa de manobra da pior espécie: aquela que é usada contra si própria.

    Vou reler, achar o trecho e postar. Vai demorar a fila de livros está grande.

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