Lista de Livros: Por quem os sinos dobram – Ernest Hemingway

Enviado por Doney

Lista de Livros: Por quem os sinos dobram – Ernest Hemingway

Editora: Bertand Brasil

ISBN: 9788528609325

Opinião: muito bom

Páginas: 624

     “Nenhum homem é uma Ilha, um ser inteiro em si mesmo; todo homem é uma partícula do Continente, uma parte da terra. Se um Pequeno Torrãocarregado pelo Mar deixa menor a Europa, como se todo um Promontório fosse, ou a Herdade de um amigo seu, ou até mesmo a sua própria, também a mortede um único homem me diminui, porque Eu pertenço à Humanidade. Portanto, nunca procures saber por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti.”

John Donne (1572-1631), poeta e padre anglicano – Meditação XVII, de cujo excerto acima Ernest Hemingway retirou o título da presente obra: Por quem os sinos dobram.

*

     “– E não significa nada para ti ser caçada como um animal depois que isso acontecer, esse negócio do qual não teremos nenhum lucro? Não se importa se morrer nisso?

     – Não! E não tente me assustar, seu covarde.

     – Covarde? – disse o marido com amargura. – Chama um homem de covarde porque tem senso tático. Porque pode prever o resultado de uma idiotice. Não é covardia saber o que é uma estupidez.

     – Nem é idiotice saber o que é covardia – interferiu Anselmo, sem conseguir furtar-se à frase de efeito.”

*

     “– É verdade que ela não tem doença. Podia até ter. Não sei como não pegou. Talvez Deus ainda exista, embora O tenhamos abolido.”

*

     “– Escute – disse a mulher. – Eu não sou covarde, mas vejo as coisas muito claras pela manhã, e acho que tem muita gente viva que conhecemos que não verá outro domingo.

     – Que dia é hoje?

     – Domingo.

     – Que va – disse Robert Jordan. – O outro domingo esta muito longe. Se virmos a quarta-feira, já estaremos muito bem. Mas não gosto de ouvi-la falando assim.

     – Todos precisam ter alguém para conversar – disse a mulher. – Antes, tínhamos a religião e outras coisas sem sentido. Agora, cada um precisa ter com quem falar abertamente. Pois quanto mais bravura alguém tiver, mais solitário vai ficando.”

*

      “O fanatismo é uma coisa singular. Ser fanático requer absoluta certeza de que você esta correto, e nada estimula a certeza e a correção como a castidade. A castidade é a inimiga da heresia.”

*

     “– Não – disse Pablo. – Não é verdade. Se todos tivessem matado os fascistas como eu matei, não estaríamos nesta guerra. Mas não deixaria acontecer como aconteceu.

     – Por que você diz isto? – perguntou Primitivo. – Esta mudando a sua política?

     – Não. Mas aquilo foi uma barbaridade – disse Pablo. – Naquele tempo eu era muito bárbaro.

     – E hoje você é um bêbado – disse Pilar.

     – Sou – disse Pablo. – Com a sua permissão.

     – Gostava mais de você quando era bárbaro – disse a mulher. – De todos os homens, o bêbado é o mais idiota. O ladrão, quando não esta roubando, é igual a qualquer outro. O chantagista não opera em casa. O assassino, quando esta em casa, pode lavar as mãos. Mas o bêbado fede e vomita na sua própria cama, e dissolve seus órgãos no álcool.

     – Você é uma mulher, você não entende – disse Pablo, tranquilamente. – Estou bêbado de vinho e seria feliz, se não fosse por causa daquelas pessoas que matei. Todas elas me enchem de remorso – balançou a cabeça, lobregamente.”

*

      “Em ambos os lugares se tinha a sensação de estar fazendo parte de uma cruzada. Esta era a única palavra para descrevê-la, mas fora tão usada e desgastada de tal forma que perdera o seu verdadeiro significado.

*

      “Dava para sentir, a despeito dos entraves burocráticos, da ineficiência e conflitos do partido, alguma coisa parecida com aquilo que esperava sentir na primeira comunhão e não conseguiu alcançar. Era um sentimento de consagração para o dever com respeito a todos os oprimidos do mundo, tão difícil e embaraçoso de se explicar quanto as experiências religiosas, e mesmo assim era autêntico, como a sensação que se tinha ao ouvir Bach, ou ficar na Catedral de Chartres, ou na Catedral de Lyon, e ver a luz passar pelas grandes janelas, ou ver Mantegna, e Greco e Brueghel no Prado. É algo que transmite a você um sentimento de pertencimento a uma coisa em que você acredita integralmente, na qual vislumbra uma fraternidade absoluta, compartilhada com os demais que estivessem engajados. É uma experiência nunca vista, mas que você experimenta, então, e acaba dando tanta importância a ela, e as suas razões, que a sua própria morte não importa mais – torna-se apenas algo a ser evitado, para garantir o cumprimento do dever. Mas o melhor de tudo é que você pode fazer algo de concreto com esse sentimento e essa necessidade. Você pode lutar.”

      “Então você lutou. E com a luta, bem cedo, acabou a pureza de sentimento para aqueles que lutaram bem e sobreviveram. Antes dos primeiros seis meses”.”

*

     “– Gosto mais do front – dissera Robert Jordan. – Quanto mais perto do front, melhores as pessoas.”

*

      “Numa guerra não se pode dizer o que a gente sente.”

Redação

7 Comentários

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  1. Esse texto de Saramago ocupa

    Esse texto de Saramago ocupa 3 pgns.Ou duas ,conforme o formato da letra.

      Impossível le-lo assim.

      É demasiadamente cansativo,exasperante e precisa de régua pra não pular linha.

  2. Por quem os sinos dobram – por José Saramago

    Política Nada ImparcialPor quem os sinos dobram – por José Saramago

         Começarei por vos contar em brevíssimas palavras um facto notável da vida camponesa ocorrido numa aldeia dos arredores de Florença há mais de quatrocentos anos. Permito-me pedir toda a vossa atenção para este importante acontecimento histórico porque, ao contrário do que é corrente, a lição moral extraível do episódio não terá de esperar o fim do relato, saltar-vos-á ao rosto não tarda.

         Estavam os habitantes nas suas casas ou a trabalhar nos cultivos, entregue cada um aos seus afazeres e cuidados, quando de súbito se ouviu soar o sino da igreja. Naqueles piedosos tempos (estamos a falar de algo sucedido no século XVI) os sinos tocavam várias vezes ao longo do dia, e por esse lado não deveria haver motivo de estranheza, porém aquele sino dobrava melancolicamente a finados, e isso, sim, era surpreendente, uma vez que não constava que alguém da aldeia se encontrasse em vias de passamento. Saíram portanto as mulheres à rua, juntaram-se as crianças, deixaram os homens as lavouras e os mesteres, e em pouco tempo estavam todos reunidos no adro da igreja, à espera de que lhes dissessem a quem deveriam chorar. O sino ainda tocou por alguns minutos mais, finalmente calou-se. Instantes depois a porta abria-se e um camponês aparecia no limiar.

         Ora, não sendo este o homem encarregado de tocar habitualmente o sino, compreende-se que os vizinhos lhe tenham perguntado onde se encontrava o sineiro e quem era o morto. “O sineiro não está aqui, eu é que toquei o sino”, foi a resposta do camponês. “Mas então não morreu ninguém?”, tornaram os vizinhos, e o camponês respondeu: “Ninguém que tivesse nome e figura de gente, toquei a finados pela Justiça porque a Justiça está morta.”

         Que acontecera? Acontecera que o ganancioso senhor do lugar (algum conde ou marquês sem escrúpulos) andava desde há tempos a mudar de sítio os marcos das estremas das suas terras, metendo-os para dentro da pequena parcela do camponês, mais e mais reduzida a cada avançada. O lesado tinha começado por protestar e reclamar, depois implorou compaixão, e finalmente resolveu queixar-se às autoridades e acolher-se à protecção da justiça. Tudo sem resultado, a expoliação continuou. Então, desesperado, decidiu anunciar urbi et orbi (uma aldeia tem o exacto tamanho do mundo para quem sempre nela viveu) a morte da Justiça.

         Talvez pensasse que o seu gesto de exaltada indignação lograria comover e pôr a tocar todos os sinos do universo, sem diferença de raças, credos e costumes, que todos eles, sem excepção, o acompanhariam no dobre a finados pela morte da Justiça, e não se calariam até que ela fosse ressuscitada. Um clamor tal, voando de casa em casa, de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, saltando por cima das fronteiras, lançando pontes sonoras sobre os rios e os mares, por força haveria de acordar o mundo adormecido… Não sei o que sucedeu depois, não sei se o braço popular foi ajudar o camponês a repor as estremas nos seus sítios, ou se os vizinhos, uma vez que a Justiça havia sido declarada defunta, regressaram resignados, de cabeça baixa e alma sucumbida, à triste vida de todos os dias. É bem certo que a História nunca nos conta tudo…

         Suponho ter sido esta a única vez que, em qualquer parte do mundo, um sino, uma campânula de bronze inerte, depois de tanto haver dobrado pela morte de seres humanos, chorou a morte da Justiça. Nunca mais tornou a ouvir-se aquele fúnebre dobre da aldeia de Florença, mas a Justiça continuou e continua a morrer todos os dias. Agora mesmo, neste instante em que vos falo, longe ou aqui ao lado, à porta da nossa casa, alguém a está matando. De cada vez que morre, é como se afinal nunca tivesse existido para aqueles que nela tinham confiado, para aqueles que dela esperavam o que da Justiça todos temos o direito de esperar: justiça, simplesmente justiça. Não a que se envolve em túnicas de teatro e nos confunde com flores de vã retórica judicialista, não a que permitiu que lhe vendassem os olhos e viciassem os pesos da balança, não a da espada que sempre corta mais para um lado que para o outro, mas uma justiça pedestre, uma justiça companheira quotidiana dos homens, uma justiça para quem o justo seria o mais exacto e rigoroso sinónimo do ético, uma justiça que chegasse a ser tão indispensável à felicidade do espírito como indispensável à vida é o alimento do corpo. Uma justiça exercida pelos tribunais, sem dúvida, sempre que a isso os determinasse a lei, mas também, e sobretudo, uma justiça que fosse a emanação espontânea da própria sociedade em acção, uma justiça em que se manifestasse, como um iniludível imperativo moral, o respeito pelo direito a ser que a cada ser humano assiste.

         Mas os sinos, felizmente, não tocavam apenas para planger aqueles que morriam. Tocavam também para assinalar as horas do dia e da noite, para chamar à festa ou à devoção dos crentes, e houve um tempo, não tão distante assim, em que o seu toque a rebate era o que convocava o povo para acudir às catástrofes, às cheias e aos incêndios, aos desastres, a qualquer perigo que ameaçasse a comunidade. Hoje, o papel social dos sinos encontra-se limitado ao cumprimento das obrigações rituais e o gesto iluminado do camponês de Florença seria visto como obra desatinada de um louco ou, pior ainda, como simples caso de polícia.

         Outros e diferentes são os sinos que hoje defendem e afirmam a possibilidade, enfim, da implantação no mundo daquela justiça companheira dos homens, daquela justiça que é condição da felicidade do espírito e até, por mais surpreendente que possa parecer-nos, condição do próprio alimento do corpo. Houvesse essa justiça, e nem um só ser humano mais morreria de fome ou de tantas doenças que são curáveis para uns, mas não para outros. Houvesse essa justiça, e a existência não seria, para mais de metade da humanidade, a condenação terrível que objectivamente tem sido. Esses sinos novos cuja voz se vem espalhando, cada vez mais forte, por todo o mundo são os múltiplos movimentos de resistência e acção social que pugnam pelo estabelecimento de uma nova justiça distributiva e comutativa que todos os seres humanos possam chegar a reconhecer como intrinsecamente sua, uma justiça protectora da liberdade e do direito, não de nenhuma das suas negações.

         Tenho dito que para essa justiça dispomos já de um código de aplicação prática ao alcance de qualquer compreensão, e que esse código se encontra consignado desde há cinquenta anos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, aqueles trinta direitos básicos e essenciais de que hoje só vagamente se fala, quando não sistematicamente se silencia, mais desprezados e conspurcados nestes dias do que o foram, há quatrocentos anos, a propriedade e a liberdade do camponês de Florença. E também tenho dito que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tal qual se encontra redigida, e sem necessidade de lhe alterar sequer uma vírgula, poderia substituir com vantagem, no que respeita a rectidão de princípios e clareza de objectivos, os programas de todos os partidos políticos do orbe, nomeadamente os da denominada esquerda, anquilosados em fórmulas caducas, alheios ou impotentes para enfrentar as realidades brutais do mundo actual, fechando os olhos às já evidentes e temíveis ameaças que o futuro está a preparar contra aquela dignidade racional e sensível que imaginávamos ser a suprema aspiração dos seres humanos.

         Acrescentarei que as mesmas razões que me levam a referir-me nestes termos aos partidos políticos em geral, as aplico por igual aos sindicatos locais, e, em consequência, ao movimento sindical internacional no seu conjunto. De um modo consciente ou inconsciente, o dócil e burocratizado sindicalismo que hoje nos resta é, em grande parte, responsável pelo adormecimento social decorrente do processo de globalização económica em curso. Não me alegra dizê-lo, mas não poderia calá-lo. E, ainda, se me autorizam a acrescentar algo da minha lavra particular às fábulas de La Fontaine, então direi que, se não interviermos a tempo, isto é, já, o rato dos direitos humanos acabará por ser implacavelmente devorado pelo gato da globalização económica.

         Continuamos a falar de democracia como se se tratasse de algo vivo, quando dela pouco mais nos resta que um conjunto de formas ritualizadas, os inócuos passes e os gestos de uma espécie de missa laica.

         E a democracia, esse milenário invento de uns atenienses ingénuos para quem ela significaria, nas circunstâncias sociais e políticas específicas do tempo, e segundo a expressão consagrada, um governo do povo, pelo povo e para o povo? Ouço muitas vezes argumentar a pessoas sinceras, de boa fé comprovada, e a outras que essa aparência de benignidade têm interesse em simular, que, sendo embora uma evidência indesmentível o estado de catástrofe em que se encontra a maior parte do planeta, será precisamente no quadro de um sistema democrático geral que mais probabilidades teremos de chegar à consecução plena ou ao menos satisfatória dos direitos humanos. Nada mais certo, sob condição de que fosse efectivamente democrático o sistema de governo e de gestão da sociedade a que actualmente vimos chamando democracia. E não o é. É verdade que podemos votar, é verdade que podemos, por delegação da partícula de soberania que se nos reconhece como cidadãos eleitores e normalmente por via partidária, escolher os nossos representantes no parlamento, é verdade, enfim, que da relevância numérica de tais representações e das combinações políticas que a necessidade de uma maioria vier a impor sempre resultará um governo.

         Tudo isto é verdade, mas é igualmente verdade que a possibilidade de acção democrática começa e acaba aí. O eleitor poderá tirar do poder um governo que não lhe agrade e pôr outro no seu lugar, mas o seu voto não teve, não tem, nem nunca terá qualquer efeito visível sobre a única e real força que governa o mundo, e portanto o seu país e a sua pessoa: refiro-me, obviamente, ao poder económico, em particular à parte dele, sempre em aumento, gerida pelas empresas multinacionais de acordo com estratégias de domínio que nada têm que ver com aquele bem comum a que, por definição, a democracia aspira. Todos sabemos que é assim, e contudo, por uma espécie de automatismo verbal e mental que não nos deixa ver a nudez crua dos factos, continuamos a falar de democracia como se se tratasse de algo vivo e actuante, quando dela pouco mais nos resta que um conjunto de formas ritualizadas, os inócuos passes e os gestos de uma espécie de missa laica. E não nos apercebemos, como se para isso não bastasse ter olhos, de que os nossos governos, esses que para o bem ou para o mal elegemos e de que somos portanto os primeiros responsáveis, se vão tornando cada vez mais em meros “comissários políticos” do poder económico, com a objectiva missão de produzirem as leis que a esse poder convierem, para depois, envolvidas no açúcares da publicidade oficial e particular interessada, serem introduzidas no mercado social sem suscitar demasiados protestos, salvo os certas conhecidas minorias eternamente descontentes…

         Que fazer? Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito de estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute neste nosso mundo. Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute. Ora, se não estou em erro, se não sou incapaz de somar dois e dois, então, entre tantas outras discussões necessárias ou indispensáveis, é urgente, antes que se nos torne demasiado tarde, promover um debate mundial sobre a democracia e as causas da sua decadência, sobre a intervenção dos cidadãos na vida política e social, sobre as relações entre os Estados e o poder económico e financeiro mundial, sobre aquilo que afirma e aquilo que nega a democracia, sobre o direito à felicidade e a uma existência digna, sobre as misérias e as esperanças da humanidade, ou, falando com menos retórica, dos simples seres humanos que a compõem, um por um e todos juntos. Não há pior engano do que o daquele que a si mesmo se engana. E assim é que estamos vivendo.

         Não tenho mais que dizer. Ou sim, apenas uma palavra para pedir um instante de silêncio. O camponês de Florença acaba de subir uma vez mais à torre da igreja, o sino vai tocar. Ouçamo-lo, por favor.

  3. Ponto e Vista

    Nassif: ainda acho a tradução de Monteiro Lobato a melhor, a que mais identifica e aproxima o sentimento do romance com o espírito brasileiro. Inclusive da introdução do John Donne. Sem esquecer que Hemingway é Hemingway, por qualquer dos seus livros.

     

     

    1. Orelha

      O que achei muito ruim nesta versão foi a orelha: raras vezes na minha vida li um texto tão antagônico ao restante do livro. A orelha possui, em poucas e deploráveis linhas, a capacidade de se solidarizar, justificar, defender as atrocidades fascistas. Do que só posso concluir que o autor dela também possui tal ideologia.

      Horrível.

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