Louco (Hora do delírio), por Junqueira Freire

Enviado por Felipe A. P. L. Costa

Louco (Hora do delírio)

Por Junqueira Freire [1]

 

Não, não é louco. O espírito somente

É que quebrou-lhe um elo da matéria.

Pensa melhor que vós, pensa mais livre,

Aproxima-se mais à essência etérea.

 

Achou pequeno o cérebro que o tinha:

Suas idéias não cabiam nele;

Seu corpo é que lutou contra sua alma,

E nessa luta foi vencido aquele.

 

Foi uma repulsão de dois contrários:

Foi um duelo, na verdade, insano:

Foi um choque de agentes poderosos:

Foi o divino a combater co’o humano.

 

Agora está mais livre. Algum atilho

Soltou-se-lhe do nó da inteligência:

Quebrou-se o anel dessa prisão de carne,

Entrou agora em sua própria essência.

 

Agora é mais espírito que corpo:

Agora é mais um ente lá de cima;

É mais, é mais que um homem vão de barro:

É um anjo de Deus, que Deus anima.

 

Agora, sim – o espírito mais livre

Pode subir às regiões supernas:

Pode, ao descer, anunciar aos homens

As palavras de Deus, também eternas.

 

E vós, almas terrenas, que a matéria

Ou sufocou ou reduziu a pouco,

Não lhe entendeis, por isso, as frases santas,

E zombando o chamais, portanto: – um louco!

 

Não, não é louco. O espírito somente

É que quebrou-lhe um elo da matéria.

Pensa melhor que vós, pensa mais livre,

Aproxima-se mais à essência etérea.

*

Nota

[1] Luís José Junqueira Freire (1832-1855). Poema – publicado em livro em 1855 – extraído da coletânea Poesia contra a guerra (2015).

Redação

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