Midiolândia, por Cris Kelvin

Por Cris Kelvin

I

Parto por celular, enterro por celular, sexo por celular, toda a vivência, tudo por celular, apaixonar-se bandalargamente, viver e morrer num mercado, 100, 200 prateleiras acima da criação de valores, existir por celular, saber por celular, lembrar por celular, tocar por celular, o espetáculo mundial das superfícies, verticais, horizontais, abissais, que sintetizam o alfa e ômega da existência, segundo  os logins binários do nauta de proa, navegado pelos mercados da política, da justiça, da polícia,  da notícia, adotando o ponto-de-vista ciclópico-numeral como ponto de partida e o consumo como linha de chegada, a viver por diversão, matar-se por diversão, queixar-se ao peito dos chats, ao ventre dos whatsapps, ir selfieando-se  ao largo dos dramas diários subvertido eu, o homem, eu, o homem  subvertido em feira de leds efêmeros,  feira de leds efêmeros e  redes azuis…

II

Evocado no sombrio, o  sombrio altar do mercado, fumegando as destroçadas colunas do Direito e as isonomias comunais, amarrando de toda parte os rabos congêneres,  Baphermét  recita um doce salmo aos seus fraternos, e fáusticos favores desbordam  dos tótens e tábuas, canibais, arcaicas e expiatórias, as pestes e rubis sangrados nas tragédias de todas as épocas.

Dando de mamar e montar aos seus cowboys,  Midiolândia  convida os injustiçados da terra à ereção de suas capelas;  sua estrela invertida, como uma sedutora pirita, encanta,  muros e várzeas, cidadãos e anúncios, calculadoras, ônibus, armas, e como uma gigantesca parabólica propagando todo seu  reluzente reflexo, cega de fótons e queima idolatradamente do obscuro adubo das cidades a antiga cantiga dos sertões, situada entre dois luares: 1 000 000 000 000 000 de dólares e uma bélica fábrica de factóides; entretanto, os fodidos do Brasil…

III

Capital: 1 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 000 de reais. O que você quer, quer aviões a jato, urnas, provetas, homens, urnas, provetas, homens, soja, petróleo, motores, sapatos, açúcar, gado, pornografia, computadores, diplomas, asfalto, vinho,  redações, rotativas, cães de caça, de guarda,  jogadores, carnaval, arte antropofágica, arte que compriminos nas pílulas cristumizadas  de  Jeová, presidentes especiais, deputados especiais, juízes especiais, militares especiais  para a o seu Estado, sua nação, ou qualquer outra aparato, animal, produto, ao seu gosto e estilo?

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* Paródias de Cris Kelvin sobre poemas de Pablo de Rokha.

Redação

7 Comentários

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  1. Cris Kelvin,
    imagem com CB e palavras: mais que paródia, poema. Multimídia.
    Reação ao tempo; uso da linguagem. Uso e abuso.
    Que post ! Uma exposição.

  2. Meu camarada de versos de

    Meu camarada de versos de bordo que me leva as frases que subiram na frequência dos sofrimentos, desça daí antes da queda.

    Há um final igual às funções  que se desligaram a muito tempo de voltar à consciência que te despertas.

    A nação não está prosperando.

    Quem aconselhará os fodidos desse embaraço – quando a situaçao se inverter – se é difícil focalizar o rico escondido na onda que está se expandindo…

    1. Não sei se entendi, Miguel

      Não sei se tudo tem o seu tempo sobre o sol. As vezes me pego pensando que a vida ensina, outras, que ela avilta produzindo toda sorte de miséias. Acreditar no destino… talvez sobre acreditar cada qual no seu, por que (acho que nem é o do Brasil),  o da espécie… No delírio da tela em branco, talvez o espaço da liberdade que nos sobrou, não tenho certeza, num mundo infernalmente controlado, fica a torcida para a situação se inverter. Quanto a queda? Já estamos mergulhados na história.

    2. Não sei se entendi, Miguel

      Não sei se tudo tem o seu tempo sobre o sol. As vezes me pego pensando que a vida ensina, outras, que ela avilta produzindo toda sorte de miséias. Acreditar no destino… talvez sobre acreditar cada qual no seu, por que (acho que nem é o do Brasil),  o da espécie… No delírio da tela em branco, talvez o espaço da liberdade que nos sobrou, não tenho certeza, num mundo infernalmente controlado, fica a torcida para a situação se inverter. Quanto a queda? Já estamos mergulhados na história.

  3. Meus caros

    Vocês são muitos gentis e condencendentes. Mas tenho que dizer que o mérito não é meu , mas do  grande e desconhecido poeta chileno Pablo de Rocka, cujos poemas foram  publicados em Los gemidos.  Falei que era paródia, mas não encontrei a palavra certa para designar a imitação. Paráfrase? Talvez seja plágio pois  simplesmente atualizei seus ataques à Yanklândia.  De modo que o espírito e  a voz e o estilo que cantam em outras palavras ainda é o dele, poeta engajado com os pobres e explorados do Chile.

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