Vinte e três anos separam os versos de duas pessoas que jamais se viram e, no entanto, compartilhavam o mesmo coração.
por Sérgio Saraiva
O beijo secreto de Vinícius de Moraes e Hilda Hilst
Naquele momento, o riso acabou e veio o espanto.
De repente, do riso fez-se o pranto silencioso e branco como a bruma. E das bocas unidas fez-se a espuma e das mãos espalmadas fez-se o espanto.
E do meu choro, o desentendimento e das mãos unidas veio tremor dos dedos e da vontade da vida veio o medo.
De repente, da calma fez-se o vento que dos olhos desfez a última chama. E da paixão fez-se o pressentimento e do momento imóvel fez-se o drama.
Naquele momento, veio de ti o silêncio. E o pranto de todos os homens brotou nos teus olhos translúcidos e os meus se afastaram dos seus teus e dos braços compridos veio o curto adeus.
De repente, não mais que de repente, fez-se de triste o que se fez amante e de sozinho o que se fez contente.
Naquele momento, o mundo parou e das distâncias vieram águas e o barulho do mar. E do amor veio o grande sofrimento.
Fez-se do amigo próximo o distante, fez-se da vida uma aventura errante. De repente, não mais que de repente.
E nada restou das infinitas coisas pressentidas e das promessas em chamas. Nada.
PS1: combinação dos versos de Vinícius de Moraes no Soneto da Separação de 1938 com os versos de Hilda Hilst no poema III de Balada de Alzira de 1951.
PS2: para artigos de uso geral, consulte a Oficina de Concertos Gerais e Poesia.
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Ela
“Me fizeram de pedra
quando eu queria
ser feita de amor”
Como jamais se viram? Li que tiveram um romance! Ou será boato?
Ficou muito boa a combinação dos versos! 🙂