Os quatro Cavaleiros do Apocalipse se preparam para destruir o Brasil, por Sebastião Nunes

Além do cavaleiro Messias e do escudeiro-Moro, integravam a comitiva de pestilentos os Condutores de Maldades

Os quatro Cavaleiros do Apocalipse se preparam para destruir o Brasil

por Sebastião Nunes

– Deixa de ser bundão, escudeiro-Moro! – berrou o cavaleiro Messias, discípulo do Anticristo Trump, montado num cavalo branco que esporeava com esporas de ferro ensanguentadas. – Estamos quase chegando, é hora de ser macho!

Escanchado de banda em seu pangaré cinzento, o escudeiro-Moro não gostou de ser chamado de bundão e protestou:

­– Bundão não, chefe, eu sou é valentão!

Os outros três cavaleiros caíram na risada, aquela risada agressiva e arrogante dos que levam tudo a ferro e fogo.

– Em frente, cambada – berrou de novo o cavaleiro Messias, empunhando uma enorme jarra atochada de peste bubônica, atochada de cólera, atochada de varíola, lepra, caganeira e tudo o que não presta.

Os Cavaleiros do Apocalipse rumavam para Brasília, de onde espalhariam o Mal pelo imenso território do gigante atormentado.

 

            QUEM E COMO ERAM OS CAVALEIROS

            Além do cavaleiro Messias e do escudeiro-Moro, integravam a comitiva de pestilentos os seguintes Condutores de Maldades:

            Num cavalo vermelho cavalgava Flávio Dantes…

            – Dantes não, Nantes! – corrigiu aos berros o cavaleiro Flávio. Pois Nantes era, de fato, o sobrenome que ligava o prenome dos filhos de Messias ao derradeiro apelido, que se escreveria no futuro com sangue, lágrimas e ranger de dentes.

            … conduzido pelas milícias cariocas ao cargo de senador da República, com a espada da discórdia em punho, para que os eleitores, tomados de fúria assassina, se matassem uns aos outros, sem ao menos saber por quê.

            Num cavalo negro cavalgava de espada em punho Eduardo Distantes…

            – Distantes não, sua besta, Nantes! – berrou de lá o cavaleiro Eduardo.

            … elevado pelas milícias cariocas à cadeira de deputado federal pelo Rio de Janeiro. E sua balança estava recheada com penúria e fome.

            Num cavalo verde-pálido-acinzentado, cor de cadáveres em decomposição, na cabeça uma coroa e nas mãos um arco disseminador de infinitas doenças, cavalgava Carlos Doravantes…

            – Doravantes não, seu estúpido, Nantes! – explodiu em fúria o tal Carlos.

            … mandado pelas milícias cariocas a ocupar o cargo de vereador nos desvalidos territórios do Rio de Janeiro. E seu arco era o mensageiro da Morte.

 

            E ENTÃO ELES CHEGARAM

            O país não estava preparado. Nem o mundo, para o qual o país representara, se não a convicção de dias melhores, mais amenos e civilizados, pelo menos a esperança de que tais dias seriam possíveis.

            E então os Cavaleiros do Apocalipse chegaram. Apoiados na ignorância de uma população pobre de educação e dos conhecimentos que originam povos orgulhosos e altivos, eles chegaram.

– Chegamos, cambada! – berrou o cavaleiro Messias saltando de seu cavalo branco, símbolo da falsa inocência e da discórdia. – Tomamos o poder e agora é abrir a Caixa de Pandora!

– Comigo não, violão – insurgiu-se Pandora, arrebatando sua caixa das mãos do destemperado Messias. – Vocês já têm maldades de sobra!

– Ela está certa, chefe – atreveu-se a dizer o escudeiro-Moro, que pela segunda vez abria a boca nesta amaldiçoada fábula apocalíptica. – Já temos maldades de sobra, e se porventura faltarem, nós as criaremos, com a ajuda dos colegas desembargadores e dos fiéis ministros do Supremo.

Messias virou-se com desgosto para o escudeiro-Moro, que tanto o servira em passadas pendengas, mas ao qual devotava o mais profundo desprezo.

– Sei disso, escudeiro-Moro – arengou irritado o cavaleiro, alisando as crinas de seu fantasmagórico cavalo. – Já temos tudo que precisamos. Minha ideia era apenas acelerar o processo de decomposição desse povo e desta terra, até transformar tudo em carniça fedorenta.

– Ah, ah, ah – riram os três outros cavaleiros, alisando as crinas de seus fantasmagóricos cavalos. – Carniça fedorenta em decomposição. Essa é boa. Essa é muito boa!

E foi assim que os quatro Cavaleiros do Apocalipse, seguidos do fiel escudeiro-Moro, marcharam para o Palácio do Planalto, do qual se apossaram, e depois para o Congresso Nacional, do qual se apossaram, e depois para o Supremo Tribunal Federal, do qual se apossaram, e depois fizeram, na Esplanada dos Ministérios, um sacrifício com fígado de bode à sua deusa tutelar, a sempre louvada Santa Ignorância.

Sebastiao Nunes

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