Por favor… Desenha-me o mundo, por Maria Luisa

Ao Clubinho da Leitura e à Odonir.

Acompanho ja alguns anos o Blog de Luis Nassif. Aqui, por vezes, tenho a sensação de fazer parte de um grande « coral ». E como em toda reunião de pessoas que se preze : há consensos, divergências, boas discussões e alguma confusão.

Em meio a essa profusão de temperamentos e ideias, o Blog de Nassif permitiu encontrar pessoas interessantes, algumas fantásticas.

Recentemente tive o prazer de conhecer o trabalho da Odonir Oliveira através da poesia, de artigos e, pricipalmente, a iniciativa de levar às crianças de sua cidade a literatura.Trabalhando com livros e textos, com desenhos, pintura, modelagem; tem desvendado para as crianças o pensamento, a filosofia, a poesia e a criação. Esse é o trabalho mais bonito que existe: abrir a cabeça das crianças, essa floresta virgem, para a multitude de opções. Para um universo dentro de nosso pequeno mundo. E então, lendo um dos recentes trabalhos realizado no Clubinho da Leitura, sobre como se deu a descoberta da filosofia por Piaget, veio-me à memoria o livro do pequeno principe…

A primeira vez que li « O Pequeno Principe », na pré-adolescência, fui inteiramente cativada pela historia dessa criança que percebe rapidamente qual é a nossa real importância e que não cansa de se espantar com as pequenas coisas, com o senso comum tão impregnado ao homem e de adimirar-se com a beleza do universo e sua natureza.

Apesar do livro ter ficado em segundo plano durante muitos anos no Brasil, por ter sido o livro preferido de miss (!), o considero um pequeno tratado filosofico sobre a [nossa curta] existência. Pelo menos uma iniciação para crianças e adolescentes à filosofia. Muitos preferem « O Mundo de Sofia »… Nada contra, muito pelo contrario, mas ainda prefiro « O Pequeno Principe » para essa iniciação, por ser também poético, ou a historia de « Tistu, o Menino do Polegar Verde », que é bastante subversivo, livro praticamente esquecido atualmente. Por hoje, fiquemos com o principezinho que faz muitas perguntas, mas quase nunca responde as que lhes são endereçadas.

Dois dialogos, especialmente, me tocam. O dialogo muito vivo que o principezinho tem com a raposa, onde ele descobre a importância de « cultivar » para se ter um amigo. Palavra que parece ainda esquecida entre nos. Outro dialogo, esse totalmente metafisico, é quando o pequeno principe chega ao planeta Terra. Seu primeiro contato sera com uma serpente…os desenhos das crianças do Clubinho me remeteram justamente à esse dialogo. Eh emblematico que Saint-Exupéry tinha escolhido justo uma espécie terrestre simbolo da traição, de pouca importância e de forte rejeição entre os homens para acolher o principezinho, e aos quais, a serpente reenvia os mesmos sentimentos!

 

Espero que esse dialogo – e o livro todo – seja de muito proveito um dia no Clubinho. Que a nova geração, mais atenta aos problemas ambientais e ainda sensivel à tudo a sua volta e cheia de curiosidades, saiba fazer uso concreto da palavra cultivar.

 

« O principezinho, uma vez na Terra, ficou, pois muito surpreso de não ver ninguém. Ja receara ter se enganado de planeta, quando um anel cor de lua remexeu na areia.

 

–         Boa noite, disse o principezinho, inteiramente ao acaso.

–         Boa noite, disse a serpente.

–         Em que planeta me encontro ? Perguntou o principezinho.

–         Na Terra, na Africa, respondeu a serpente.

–         Ah !… E não ha ninguém na Terra ?

–         Aqui é o deserto. Não ha ninguém nos desertos. A Terra é grande, disse a serpente.

O princepizinho sentou-se numa pedra e ergueu os olhos para o ceu :

–         As estrelas são todas iluminadas… Não sera para que cada um possa um dia encontrar a sua ? Olha o meu planeta : esta justamente em cima de nos… Mas como esta longe !

–         Teu planeta é belo, disse a serpente. Que vens fazer aqui ?

–         Tive dificuldades com uma flor, disse o principe.

–         Ah ! Exclamou a serpente.

E se calaram.

      – Onde estão os homens ? Repetiu enfim o principezinho. A gente esta um pouco so no deserto.

      – Entre os homens também se esta so, disse a serpente.

O principezinho olhou-a longamente.

–         Tu és um bichinho engraçado, disse ele, fino como um dedo…

–         Mas sou mais poderosa que o dedo de um rei, disse a serpente.

O principezinho sorriu.

–         Tu não és tão poderosa assim … Não tens sequer patas… Não podes sequer viajar…

–         Eu posso levar-te mais longe que um navio, disse a serpente.

Ela enrolou-se na perninha do principe, como um bracelete de ouro :

– Aquele que eu toco, eu o devolvo à terra de onde veio. Continuou a serpente. Mas tu és puro, tu vens de uma estrela…

O princepizinho não respondeu.

–    Tenho pena de ti, tão fraco, nesta Terra de granito. Posso ajudar-te um dia, se tiveres muita saudade de teu planeta. Posso…

–         Oh ! Eu compreendi bem. Mas por que falas sempre por enigmas ?

–         Eu os resolvo todos ! Disse a serpente.

E calaram-se os dois. »

Um dos ultimos filmes com base na obra de Saint-Exupéry.

Redação

38 Comentários

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  1. Obrigada, Maria Luisa

    No ano anterior, já havíamos trabalhado O Pequeno Principe.

    Esse ano , com a chegada do filme, que esteve em cartaz no único cinema da cidade, foram ver. Dessa vez com seus pais. Já fomos de outras vezes ver DIVERTIDA-MENTE, “A Gata Borralheira’.

    Também comparamos versões antigas – tenho duas – e novas edições.

    Curiosamente, o presente de dia das crianças além da comemoração que fizemos, dos doces, salgadinhos, poemas declamados na rede etc. foi um texto que receberam: um trecho de  O Pequeno Príncipe, que também foi enviado para jns, por eles, além de seus desenhos.

    FELIZ DIA DA CRIANÇA – CLUBINHO DA LEITURA “Plácido José de Oliveira”- 2015

     

     

     

    1. E eu fico com a beleza das respostas das crianças

      Que beleza! Como imagino que o Clubinho existira por muito tempo ainda – viva! -você ainda retrabalhara esses e outros temas muitas vezes. E sob diferentes primas. 

      1. História para meus meninos mineirinhos do Clubinho da leitura

        O MENINO QUE LEVITAVA

         

        Ao clarear do dia o menino abria olhos arregalados

        De beber o mundo.

        Mas era pouco.

         

        Montava seu cavalo alado

        como se dançasse com ele.

        Era doce o menino.

        E partia ao encontro de seus marimbondos

        de suas rãs

        e lagartixas.

        Morcegos eram como flores do campo.

         

        A tarde tinha a estrela vésper sempre a sua espera

        E nela menino, cavalo e aventuras seguiam,

        bebendo cada folha, cada árvore, cada trilha.

        Mas era pouco.

         

        Depois, pisar na água era um barulho celestial

        Era cócega

        Era música

        Era verso

        Era poesia.

         

        Desmanchar rotas citadinas

        mergulhar no escuro de grutas cavernas, barcos e estradas.

        Era pouco

        porque o menino ria, ria, mas ria tanto,

        que de prazer

        levitava.

         

        E de baixo, em terra firme,

        Ninguém o alcançava

        E não era pouco!

         

        Odonir Oliveira

  2. O que é essencial?

    “Os homens grandes ocupam, na verdade, muito pouco lugar na superficie da Terra. Se dois bilhões de habitantes que provoam a Terrra se mantivessem de pé, colocados um ao outro, como para um comicio, acomodar-se-iam facilmente numa praça publica de vinte milhas de comprimento por vinte de largura. Poder-se-ia ajuntar toda a humanidade na menor das ilhas do Pacifico

    As pessoas grandes não acreditarão, é claro. Elas julgam ocupar muito espaço. Imaginam-se tão importantes como os baobas. Digam-lhes, pois que façam o calculo. Elas adoram os numeros; ficarão contentes com isso.”

      1. ” Espero que não fui

        ” Espero que não fui chato..”

           magina…..

          Sabe a relevãncia desse acento ?

          A mesma coisa se manda-lo tomar na sua região glútea,com ou sem acento.

          A sonoridade será a mesma.

        1. Então sua “cultura” é muito menor que

          você acha, pois o acento muda sim a sonoridade na língua francesa..

          Mas tudo bem, você tinha que ser coerente e mostrar-se boçal.

          1. Muda sim.
             Mas não na palavra

            Muda sim.

             Mas não na palavra que escreveu,–só muda traduzida pro inglês;

              E mesmo que mudasse ( não muda) é assunto pra escrever ?

               Prende dans  la foulée.

              Au revoir .

             

    1. Uma equilibrista

      A Fernanda Lopes de Almeida foi uma das primeiras escritoras a me deixar bem espantada. Com sete para oito anos, minha mãe me deu A Fada Que Tinha Ideias. Que livo para uma criança que pensa que o mundo dos adultos é sempre sabio… Clara-Luz subverte tudo, descolora, tira o bolor e remete em questão todas as ideias formatadas. E a chuva colorida era uma delicia de se sonhar com ela. Li e reli essa fadinha esperta muitas vezes em minha infância.  A animação de O Equilibrista ficou bem bacana. Obrigada, caro Almeida.

        1. A menina que odiava livros

          A gente tem aqui no Clubinho da leitura e eles amaaaaaaram ler e representar. Serve de mote de apresentação para usarem, pegando-o nas mãos, para explicarem a quem nos vem visitar. Virou símbolo do Clubinho.

    1. Eu e minhas lacunas….

      Pensei sim, enquanto escrevia, em inserir o link para o post do Clubinho. Mas o caso, Odonir, é que eu me esqueci! E depois, ficou assim. Mas que bom que trouxe pra ca. Nunca é tarde demais.

  3. Continuo procurando

    Repito o apelo, feito há dois dias, a quem puder ajudar.

    Acho que vi recentemente uma tirinha no GGN. Minha memória é fraca, creio que era do “Armandinho”.

    Um adulto dizia que antigamente não havia telefone, rádio, TV… e ele surpreso perguntava: “Como vocês faziam para se comunicar? Usavam a Internet?

    Quem puder postar o link para a tirinha eu agradeço.

    1. Vc foi muito injustiçado

      Vc foi muito injustiçado .–sobretudo pela Igreja Católica.

        Com medo de errar,mais uma vez contra vc, não comento.

      1. Ah já passou

        Nem lembro mais. Faz tanto tempo.

        Sinto apenas que nos dias de hoje ainda há os que querem que acreditemos que a Terra seja o centro do Universo.

        Há também os que insistem em dizer que a Terra é chata.

        Quem os contradiz é chamado de marxista e gramsciano. São também estimulados a irem para Cuba.

        Espero muito que não retomem as fogueiras.

    1. Facetas

      Paulo Autran é excelente nas interpretações para crianças. Ele criou uma pousada em Paraty, com um amigo, onde não ha televisão nem crianças! Um paraiso, hehe; claro que é um lugar de repouso, não para familias. E foi um homem sensivel à infância e à cultura para crianças. 

  4. Já foi candidata a Miss

    Já foi candidata a Miss ?

     Brincadeira.Eu nunca fui candidato a miss e curto MUITO esse livro.

      E o filme tbm.

    Sobre Odonir :

    Ela é top do BLOG. Está na dimensão de Hortêncio, JNS , aquela que escreveu 1 000  vezes, a sutil Anna Dutra  e muitos outros.

      Este blog não é minha linha de pensamento. Participo dele por causas dessas pesooas, com aquiecência do Nassa.

       Hoje mesmo Nassa escreveu um artigo que não é comum em blogs que se dizem de esquerda.

         Vá ler Tijolo Grande, 247, P H A  e veja se vc encontrará um post desse.

         Aliás, já que estou no assunto, justiça se faça:

        P H A é algo além da imaginação. Nem disfaça. Nem é justo.Nem nada.

         Até no blog de Zé Dirceu consigo encontrar mais seriedade e coerência do que em P H A .

        Ele, ou quem escreve por ele, se faz de engraçado.—de um lado só, óbvio.

          Enfim ,estou aqui desde sempre com ENORME SATISTAÇÃO.

        ”’Aqui, por vezes, tenho a sensação de fazer parte de um grande « coral ». E como em toda reunião de pessoas que se preze : há consensos, divergências, boas discussões e alguma confusão.”’

         É isso mesmo. E eu sou o lado confuso.

             Abraços !

    1. O Caipira não gosta de Saints, só de Exu Péry

      O Caipira é um bicho do mato, que vive em qualquer lugar longe da Xivilização.

      É importante que não seja confundido com o Saci, apesar de os dois serem viciados em alucinógenos e utilizarem de comportamentos nada ortodoxos para se recuperarem de algum tipo de decepção, ou até mesmo, de uma depressão.

      Costumam ter duas pernas – o Mineirinho Exibido tem três, cuidado! -, fumam o cigarro do capeta em vez de cachimbos de crack e não usam um gorrinho vermelho.

      Planta couve e cenoura no quintal, mandioca na freguesia, e cria porcos de estimação dentro de casa.

      Veste-se, alimenta-se e fala uma linguagem própria ,e não conhece Darth Vader.

      Sobre o Caipira danado

      Idade: 118, mas com um corpinho de 116

      Sexo: masculino, macho, varão, homi, grosso que nem dedo destroncado.

      Atividade: Agricultura

      Profissão: arrancadador de pé de alface e criador de porquinhos da gripe suína e frequentador de bordéis baratos quando vai pra cidade.

      Terra natal: Alpercata nas Gerais

      Sonhos do Caipira invocado

      Dar um murro no queixo de todos os políticos

      Viajar para o Vale do Jequitinhonha

      Rasgar uma nota de 500 euros

      Comprar um Fiat 147 83

      Conhecer o Afeganistão

      Filme favorito do Caipira

      Titanic pois no fim o Leonardo de Caprio morre (pena que foi só na ficção)

      Músicas favoritas

      “The House Of The Rising Sun” e todas do Jackson do Pandeiro, do Gonzagão e Trio Parada Dura.

      [video:https://youtu.be/lGSr5i-UHRg width:600]

      *

      FONTE: Desciclopédia  (com alterações)

      1. Voando no asfalto

        A unica parada dura aqui é o mineirim mais pernostico que conheço. A bem dizer, so conheço um mineirim…Ainda bem que ocê é meu amigo (!) porque não quero ter o você pelas costas não, como se dizia la no interior. Em todos os sentidos, alias.

        Mesmo estando de férias, ja falei de mais da conta hoje, sô. Vou voar por ai. 

        Vamos voando nas asas dessa bela maquina!

        PS: Sempre achei “Leo” desinteressante. Mas e dai ! A proposito, você se lembra dos filmes de Steve McQueen? Acho que o mineirim iria gostar.

    2. Tinha que ser!

      Anarca,

      vai la pro fim da fila e repete cem vezes: eu não fui trocado na materndidade nem cai de cabeça quando bebê!! 

      Vai que resolve? Se não resolver, volte para o analista de… Bagé 😉

      1. Vc está brincando.Mas eu vou

        Vc está brincando.Mas eu vou falar sério.

          Quando minha mãe ficou grávida, trocentos anos passados,nossa família vivia num miserê.

            Então eu tinha que ser abortado.

           Mas nos anos 1940 ninguém sabia ou falava disso.

            Aí surge minha tia :

            ”Toma vinagre ,Maria ( minha mãe) que o feto morrerá.”

               Talvez eu seja pancada por isso.

                  Embora não há nenhum estudo comprovado e sequer pesquisado.

                 E olhe que li uma montanha de livros que, direta ou indiretamente, tratam do assunto.

                  Como disse Caetano Veloso :”De perto ninguém é normal ”

                      Digo eu : E nem de longe.

        1. Putz…

          Mas Anarca quem não sofreu alguma coisa nesse mundo?! O que importa é a vida que se constroi depois. E para de beber piriquita!!!

          PS: Essa de candidata a miss, foi boa. 

  5. ?

                                            ninguém
                                     LEU o meu poema
                                                   cartesiano
                                                    PARTIU
                                                        es
                                                   ca
                                               FE
                                             DEU
                                                –
                                               se

                        

                                             snif

        1. Janio Quadros diria sobre a

          Janio Quadros diria sobre a pinga:

            ”Se fosse sólido, co me lo ia ”

          Esse acento circunflexo é por sua conta e risco.

              …..:)

  6. Sempre me impressionou o

    Sempre me impressionou o destino de Saint-Exupéry, aviador desaparecido numa missão ao final da Segunda Guerra Mundial, certamente abatido pelos alemães. Consta que fazia estadia em Florianópolis, onde havia um campo de pouso e abastecimento, antes dos voos franceses do Correio Aéreo seguirem viagem para Buenos Aires. No Campeche, onde ficava o campo, a avenida principal se chama Pequeno Príncipe e consta que os manezinhos da Ilha chamavam o aviador-escritor de Zeperri.

    1. Zeperri e o Brasil

      Pois é, Jair, olha so que interessante:

      Em 1929, no mesmo ano em que assinou contrato com a editora francesa Gallimard para a publicação de sete romances, foi nomeado chefe da Aeroposta Argentina, com a incumbência de criar a linha aérea da Patagônia. Na época, havia em Florianópolis uma base para vôos que vinham da Europa em direção à América do Sul. Assim, havia alojamento para pilotos franceses, que faziam ali escala. Entre eles, Saint-Exupéry. Não há fotografias dessa passagem, mas menção ao fato em seu livro Vôo noturno (1931), prefaciado por André Gide e vencedor do Prix Femina, à época, na França. Mas a passagem de Saint-Ex pelo litoral brasileiro não caiu no esquecimento.

      Além de ter-se erigido um monumento em Florianópolis em homenagem aos pilotos franceses que por lá passaram, fatos curiosos marcaram a vinda do autor de O Pequeno Príncipe. A primeira é a existência de uma avenida que leva o nome da obra, na praia do Campeche. Também a localidade, por sua vez, parece ser uma aglutinação de palavras francesas, ou seja “camp de pêche”, que designaria a orla onde os pescadores puxavam as redes. De qualquer forma, o piloto, cujo nome era de difícil pronúncia entre os ilhéus, tornou-se ali, por suposta assonância, o “Zé Perri”. Hoje, uma pousada no Campeche o honra com tal designação. Numa travessa da avenida Pequeno Príncipe, logo ao lado, reside Getúlio Manoel Inácio, filho do pescador Manoel Rafael Inácio, o “seu Deca”, com quem Saint-Ex teria feito laços de amizade.No ano 1929, o piloto-escritor começara a fazer escalas e estadas na ilha. Seu Deca o recebia para comer pirão e outros pratos locais, caçar marrecos e manter, como podiam, uma conversa. O resgate desse laço de Saint-Exupéry com Santa Catarina ficou por conta de Getúlio, que escreveu em 2003 um pequeno livro sobre essa história, Deca e Zé Perri, edição bilíngüe (francês-português). Por toda a infância e juventude, Getúlio ouviu os relatos do pai sobre Saint-Exupéry e o livro é fruto dessas histórias. Além dessa amizade, pesquisas realizadas na Universidade Federal de Santa Catarina averiguaram contatos do piloto com pessoas da elite local. 

      O livro de Getúlio foi lido pela sobrinha-neta e herdeira do escritor, Isabelle d’Agay. “Continuo surpresa com a lembrança que a passagem de meu tio-avô deixou na América do Sul e no Brasil em particular, mesmo depois de mais de 50 anos de seu desaparecimento”, diz a herdeira. “Fico muito orgulhosa e, assim como a família, grata a todos os brasileiros de Florianópolis por sua fidelidade à memória de Antoine de Saint-Exupéry, especialmente a Getúlio Inácio por seu testemunho.” Um filme foi realizado, Zé Perri no Campeche, sob direção do cineasta brasileiro Zeca Pires e seus alunos da Unisul (2000). Trata-se de um documentário sobre a presença do escritor francês na região, que foi premiado no Festival de Gramado como melhor documentário. Saint-Ex, como era chamado, casou-se com Consuelo, salvadorenha que conheceu em Buenos Aires, na época da Aeroposta Argentina. 

      As razões de sua morte permanecem ainda obscuras. Em 1944, ele aparentemente desviou da rota de vôo, cuja direção era Lyon. Mais perto do Mediterrâneo, supunha-se que tivesse tentado sobrevoar a casa materna (hipótese aventada pelo biógrafo Paul Webster). Como saber? O mais provável, porém, é que seu avião tenha sido abatido pelos pilotos alemães. Somente em 1998, um pescador marselhês puxou em sua rede um bracelete com o nome de Antoine De Saint-Exupéry gravado. Era sua pulseira de fato e as buscas pelos destroços do avião começariam. Em outubro de 2003 foram achados os primeiros destroços no litoral de Marselha e, em abril de 2004, o governo francês confirmou que se tratava mesmo do avião pilotado por Exupéry 60 anos antes. 

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